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Pescanova garante que a fábrica de Mira "é viável"
A Pescanova Portugal afirma que o fecho da fábrica em Mira "não é um tema em cima da mesa" e que a unidade, investimento contestado pelo antigo presidente do grupo espanhol, continua a ser "viável".
A reacção surge na sequência do editorial de Alfonso Paz-Andrade, antigo presidente-executivo da Pescanova, na sua revista “Industrias Pesqueras”, noticiado pelo jornal espanhol “El País”, em que o ainda accionista da empresa critica a gestão da fábrica de Mira por parte de Manuel Fernández de Sousa, antigo presidente do conselho de administração.
Alfonso Paz-Andrade considera que o plano de negócios aplicado na unidade de Mira "teve um resultado inadequado", fruto de "pouca visão" e de um "péssimo controlo interno e externo".
Em declarações à agência Lusa, o gabinete de imprensa da Pescanova Portugal diz que o comentário de Alfonso Paz-Andrade "foi descontextualizado", escusando-se a, de momento, adiantar resposta ao mesmo.
O vice-presidente da Câmara Municipal de Mira, Miguel Grego, considera que a imprensa espanhola "nunca gostou que o investimento tivesse vindo para Mira, pois defendiam-no para a Galiza", notando também "um revanchismo claro" e "um acertar de contas" de Alfonso Paz-Andrade por "não ter conseguido o investimento" para a comunidade autónoma espanhola.
"Estas guerras internas da Pescanova não têm reflexo dentro da fábrica de Mira", realçou à agência Lusa Miguel Grego que, apesar de "confiante", apresenta alguma preocupação face às "notícias alarmistas, que podem criar uma pressão sobre os bancos e estes pressionarem a empresa".
A unidade de aquicultura de Mira, que conta com cerca 170 trabalhadores nos quadros, e um investimento inicial de cerca de 140 milhões de euros, teve problemas de funcionamento ao nível do emissário de recolha de água, que motivaram um processo de “layoff” de metade dos trabalhadores em Janeiro deste ano, sendo que mais de 50 dos trabalhadores em “layoff” foram reintegrados em Julho, segundo informa Miguel Grego.
Os restantes trabalhadores serão reintegrados a 30 de Setembro, como conta um dos visados. O trabalhador da unidade de Mira, que preferiu não se identificar, não "tem nenhuma queixa a apontar à empresa", garantindo que "está tudo a funcionar dentro da normalidade", segundo informações que recolheu de colegas da fábrica.
O gabinete de imprensa afirma que a fábrica, inaugurada em Junho de 2009, "tem cumprido com todas as suas obrigações e há margem de crescimento no mercado para a mesma". "Não é lógico que o fecho da fábrica aconteça", frisa a mesma fonte.
O futuro da Pescanova deverá começar a ser conhecido e desenhado a partir do final deste mês altura em que a Comissão Nacional de Mercado de Valores (CNMV) espanhola espera ter concluída a investigação sobre a empresa galega.
No final de Julho a presidente da CNMV, Elvira Rodríguez, reiterou que o regulador quer trabalhar em conjunto com os gestores da Pescanova para que a empresa consiga sobreviver, o que pode obrigar a redimensionar o negócio ou a outras alterações.
Como exemplo das mudanças, algumas das quais podem vir a ser aprovadas na reunião da assembleia geral marcada para 12 de Setembro, está a alteração à forma como as decisões passam a ser tomadas.
Até aqui, referiu, "havia só um senhor que tomava decisões" - numa referência ao presidente demitido, Fernández de Sousa, que será ouvido em Outubro como arguido suspeito de falsificação de contas e outros crimes relacionados com a sua gestão da Pescanova, empresa que fundou.
Com a negociação em bolsa suspensa desde Fevereiro, altura em que apresentou o pré-concurso de credores - e quando ainda não são definitivas as contas da empresa referentes a 2012 - a Pescanova continua sem saber em que condições sobreviverá.
Em cima da mesa está um amplo e necessário processo de recapitalização e eventual desinvestimento em alguns activos, para refinanciar uma dívida que se estima ultrapassa os 3.280 milhões de euros, repartida entre uma centena de entidades financeiras.
A banca espanhola concentra a maior parte da dívida, com o Sabadell à cabeça (222 milhões de euros), Popular (165,5 milhões), Novagalicia Banco (161,58 milhões), Caixabank (157,44 milhões) e Bankia (126 milhões).
Em concreto, segundo assinalam as fontes, a dívida inclui 1.900 milhões de euros correspondentes à sua matriz e o resto a filiais, tanto espanholas (cerca de 400 milhões de euros) como estrangeiras (cerca de 700 milhões).
Vários bancos portugueses estão entre os credores da Pescanova, sendo o BPI o único que divulgou publicamente que teve de constituir provisões por causa de créditos concedidos à empresa, no caso de 35 milhões de euros.
Já a Caixa Geral de Depósitos e o BES confirmaram que as contas foram afectadas por este caso, mas não adiantaram montantes.
"Fomos apanhados na rede da Pescanova", disse apenas o presidente do BES, Ricardo Salgado, na apresentação de resultados do primeiro semestre.