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Pais recorrem à reabilitação contra vício no jogo Fortnite
O seu filho de 17 anos, Carson, passa 12 horas por dia a jogar, em busca de armas e recursos num mundo pós-apocalíptico onde o objectivo é ser o último sobrevivente. Os professores reclamam que dorme nas aulas e que as notas caíram.
"Fizemos alguns progressos, conseguimos convencê-lo a reduzir as horas de Fortnite e a dormir melhor, mas ele retomou os velhos hábitos", disse Vitany, que mora perto de Saginaw, Michigan, em entrevista. "Nunca vi um jogo com tanto controlo sobre a mente das crianças".
A angústia de Vitany é sentida por muitos outros pais e professores de todo o mundo que se deparam com um jogo que suga horas do tempo dos jogadores - às vezes em detrimento de outras actividades. Mais de 200 milhões de pessoas estão registadas para jogar Fortnite, que se tornou um negócio de milhares de milhões de dólares para a sua criadora, a Epic Games. Alguns pais desesperados mandaram os filhos para reabilitação.
"Esse jogo é como a heroína", afirmou Lorrine Marer, especialista britânica em comportamento, que trabalha com crianças que enfrentam o vício em videojogos. "Quando a pessoa fica viciada, é difícil libertar-se".
A Epic já divulgou alertas a respeito de esquemas e fraudes relacionados com o Fortnite, mas preferiu não comentar a questão do vício.
O vício dos videojogos não é uma novidade: pais e professores reclamam da distracção dos filhos - que estão sempre com um joystick na mão - desde a época do Atari. Mas a omnipresença do Fortnite criou uma ameaça mais generalizada. E acontece num contexto de preocupações crescentes com o uso excessivo das redes sociais e dos smartphones.
Causa de separações
O Fortnite, lançado inicialmente no popular modo "battle royale" em Setembro de 2017, não está a gerar problemas só para as crianças. Um serviço online de divórcios do Reino Unido diz que 200 pedidos apresentados este ano citaram o Fortnite e outros videojogos como motivo para o fim dos casamentos.
O Fortnite é particularmente atractivo porque a versão battle royale é gratuita e está disponível em diversos aparelhos, desde telemóveis a consolas, observa Cam Adair, que deixou a escola aos 15 anos devido ao vício em videojogos, e que agora dá palestras sobre o tema em escolas e para outros grupos.
Os fãs de Fortnite competem em batalhas com 100 pessoas até que reste apenas um - partidas que, depois de iniciadas, são difíceis de abandonar.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou o "distúrbio relacionado com videojogos" como uma doença pela primeira vez em Junho, decisão que pode facilitar a tarefa dos pais ao nível dos tratamentos, segundo Paul Weigle, psiquiatra de Mansfield Center, Connecticut.
Weigle, que trata cerca de 20 jogadores compulsivos de Fortnite, recomenda que os pais impeçam crianças com menos de 10 anos de jogar videojogos. E os pais precisam de estabelecer limites. Considerando que os jogos estão cada vez mais sofisticados na sua capacidade de prender os jogadores, para ele, a questão do vício só vai piorar.
"Essa questão será mais problemática do que na actualidade", disse Weigle.
Texto original: Fortnite Addiction Is Forcing Kids Into Video-Game Rehab