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Nestlé: "É fundamental que Governo tenha conhecimento profundo" sobre formação de preços

Nestlé Portugal considera que o Governo tem de compreender o papel de cada uma das partes da cadeia de valor, desde a produção até à distribuição, para descobrir a origem da subida dos preços de bens alimentares.

Mariline Alves
10 de Março de 2023 às 17:00
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A Nestlé Portugal diz que é "fundamental" que o Governo tenha uma ideia clara de como se formam os preços ao longo da cadeia de valor, numa altura em que se tenta perceber as razões por detrás do encarecimento de bens alimentares essenciais em contraciclo com a taxa de inflação geral.

"É fundamental que o Governo tenha um conhecimento profundo de como a indústria agrícola, alimentar e a distribuição se processa, de quais as suas margens e contribuições, sobre que parte do valor dos produtos fica em cada parte da cadeia", afirmou o diretor de comunicação da Nestlé Portugal, Gonçalo Granado, durante a conferência de imprensa de apresentação de resultados da empresa, que detém marcas como a Nestum e Cerelac, Sical e Buondi, Kit Kat ou Purina.

Escusando-se a fazer julgamento sobre se as margens médias de lucro bruto de até 50% obtidas pelas retalhistas em bens alimentares essenciais, sinalizadas pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), são altas ou baixas, Gonçalo Granado reconheceu apenas que o tema é "sensível", razão pela qual considera que a "compreensão de como as coisas funcionam" é a chave para se perceber o que está a acontecer.

Lembrando que quem fixa os preços ao consumidor e as suas próprias margens é a distribuição afirmou que o que a Nestlé tenta fazer com o seu "parceiro preferencial", já que é através da distribuição que os seus produtos chegam às prateleiras, "é encontrar otimizações para que os consumidores tenham acesso a produtos o mais acessíveis possível".

As margens médias de lucro bruto, que resultam da diferença entre o preço de aquisição e o preço de venda, não significam necessariamente lucro ilegítimo, o que configuraria a prática do crime de especulação. Isso é, aliás, o que falta ainda averiguar, como deixou claro o ministro da Economia, António Costa Silva, que pretende ouvir todos os intervenientes do setor para perceber então se há "explicações racionais" para o facto de a inflação alimentar ser três vezes superior à geral quando há "descidas claras" em elementos que mexem com os preços, como a energia ou combustíveis. 

A ser chamada, a Nestlé estará "naturalmente presente", pois "Só será positivo se tivermos essas conversas e pudermos compreender melhor as coisas". 

"A indústria alimentar é parte muito significativa da contribuição económica do país, que gera emprego, paga impostos, contrata serviços e compra matérias-primas. É um parceiro muito ativo na economia nacional e é bom que se compreenda que não é com posições dogmáticas que estes temas se resolvem".

Costa Silva afirmou esta quinta-feira que o Governo não descarta a possibilidade de adotar medidas "mais musculadas" para conter a inflação alimentar, sendo que, nesta fase, "está tudo em aberto".

"Estamos a equacionar todas as opções, inclusive mais musculadas, mas queremos tomar medidas na posse da devida informação" , referiu, manifestando-se pouco favorável a uma intervenção do Estado atendendo a que, por vezes, pode gerar "efeitos perniciosos".

Para o ministro da Economia, o ideal seria a auto-regulação. "Se conseguirmos chegar a uma situação em que todos respondem (…) vamos ter o próprio sistema a auto-regular-se, o que do ponto de vista económico pode ser mais eficaz ", disse.


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