Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Memers esperam que farmacêutica sem medicamentos cresça 925% com a Alzheimer

A biotecnológica está a trabalhar numa nova geração de medicamentos para a Alzheimer e viu a cotação subir à boleia da aprovação de um medicamento da Biogen que trata a mesma doença.

Reuters
12 de Junho de 2021 às 15:00
  • ...

A Cassava Sciences, uma farmacêutica com 20 anos e sem produtos no mercado, apresenta a melhor performance do mercado no ramo das biotecnologias em 2021, com um crescimento de 925%.

Por trás desta subida meteórica está uma combinação de otimismo quanto ao seu medicamento para a Alzheimer que está a dar os primeiros passos no seu desenvolvimento e o frenesim dos mercados de capital que têm marcado a pandemia. A empresa regista o terceiro maior crescimento do ano, atrás da GameStop e da AMC Entertainment Holdings no índice Russel 2000.

"As fundações da nossa história estão no sitio certo, que é o primeiro medicamento – do nosso conhecimento – a conseguir restaurar função cognitiva", disse o fundador e CEO da Cassava, Remi Barbier numa entrevista.

A última subida foi causada por uma fonte improvável – a rival Biogen – cujo próprio tratamento para a Alzheimer recebeu a aprovação da FDA esta semana. A aprovação deste medicamento fez subir a cotação da Cassava e de outras pequenas empresas no ramo da biotecnologia, a par da Biogen. Na manhã de terça-feira, as ações da Cassava valorizavam até aos 8,4% na bolsa de Nova Iorque, para os 73,26 dólares por ação.

As empresas de wallstreet que cobrem a Cassava estão unanimemente otimistas. Soumit Roy da Jones Trading que tem o preço alvo mais elevado de 110 dólares por ação estima que novos medicamentos para tratamento da Alzheimer possam gerar 200 mil milhões de dólares em vendas em 15 anos. Ainda asism, Roy ressalta que um investimento na Cassava "não é para os fracos de coração".

Uma empresa biotecnológica e a população seguidora das meme stocks são uma mistura combustível. As farmacêuticas com tratamentos ainda em fase inicial dos ensaios clínicos podem ser ações altamente voláteis, enquanto ações como as da AMC ou da Gamestop apresentaram a sua quota parte de oscilação de preços.

"Somos uma expedição lunar com um único foguetão", reconheceu Barbier.

Ao contrário de outros CEO, Barbier não está a brincar com o recém-descoberto exército de pequenos investidores. "Temos um grupo de investidores institucionais que têm visto os dados, feito o seu trabalho de casa e dito ’wow – se estes dados se replicarem, esta é a nova Tesla ou Google’".

Ensaios em fase intermédia

A Cassava atingiu níveis não vistos há 20 anos em fevereiro depois de uma atualização de um ensaio clínico que está sensivelmente a meio. Os pacientes com Alzheimer que estão a receber o medicamento detido na sua totalidade pela empresa, chamado simufilam, mostraram melhorias no seu raciocínio e comportamento. Mas os ensaios clínicos decorreram com menos de 100 pacientes e sem um braço de controlo para calcular o efeito que um placebo poderá ter nos pacientes.

Se a empresa sediada em Austin, Texas é capaz de mostrar pacientes com Alzheimer que são capazes de manter os mesmos níveis de raciocínio com que começaram o estudo, há nove meses "será uma vitória", disse Roy numa entrevista. Mas o caso mais otimista será se os pacientes mostrarem, de facto, melhorias em testes que medem a sua capacidade de compreensão.

A Cassava continua a anos de distância de uma aprovação regulamentar. A empresa necessitaria de efetuar estudos com um largo grupo controlo por placebo – o gold standard dos estudos clínicos – que Barbier diz estar nos planos para começar no próximo ano.

Ainda assim, os vários percalços que o aducanumab da Biogen encontrou evidenciam o caminho complicado para a aprovação regulamentar. Mas para os pequenos investidores à procura de capitalizar nessa esperança, ações da Cassava a 70 dólares e uma mão cheia de outras pequenas biotecnológicas parecem apostas interessantes.

Os pesos pesados das farmacêuticas, como a Eli Lilly & Co e a Roche  têm também estado a testar tratamentos semelhantes ao da Biogen, mas o medicamento da Cassava utiliza uma proteína diferente e será, provavelmente, a única farmacêutica de seguir este caminho.

Antes da aprovação na segunda-feira, Barbier estava esperançoso quanto ao fármaco da Biogen, "apenas porque não há nada disponível para estes pacientes. Mas não vai ficar por aqui", e acredita que numa próxima década possam existir várias novas drogas no mercado, disse. "Esta não é uma situação em que o vencedor arrecade todos os ganhos", de acordo com Barbier.

Terapêuticas da dor

Os investidores de longa data em biotecnologia podem lembrar-se da Cassava por um nome diferente, Pain therapeutics Inc. Em 2000, a oferta pública inicial da empresa foi apoiada por Bill Gates que apostava na promessa de uma nova geração de analgésicos. A empresa desistiu dos analgésicos em 2019, mudou de nome para Cassanova e concentrou-se na Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas.

Apesar de uma escalada do preços das ações que faz com que a sua posição na empresa (cerca de 5%, incluindo opções) valha mais de 100 milhões de dólares, Barbier diz que não pretende vender. "Eu conheço a ciência, conheço os dados, conheço a doença e este medicamento parece promissor e vou por o meu dinheiro onde tenho a boca".

Ver comentários
Saber mais farmacêuticas ciência biotech Alzheimer Cassava
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio