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Jorge Bleck: "Não há nada que mais me arrependa que ter sido administrador da PT"
"Fui administrador da PT sim, coisa de que me arrependo. Não há nada na minha vida profissional de que eu mais me arrependa", refere Jorge Bleck.
02 de Dezembro de 2018 às 15:21
O advogado Jorge Bleck foi administrador não executivo da Portugal Telecom (PT) entre 2002 e 2006 e afirma, em entrevista à Lusa, que ter aceitado esse cargo é a única coisa de que se arrepende profissionalmente.
"Fui administrador da PT sim, coisa de que me arrependo. Não há nada na minha vida profissional de que eu mais me arrependa. Aliás, acho que a única [coisa] de que me arrependo é ter aceitado isso [o cargo]", refere.
Jorge Bleck foi convidado pelo então primeiro-ministro, Durão Barroso, e iniciou funções em Julho de 2002. Era então Murteira Nabo presidente do Conselho de Administração da operadora de telecomunicações (1996-2003).
"Fui convidado pelo Durão Barroso e disse-lhe: 'Se queres um comissário político há 10 mil tipos que o podem fazer e melhor do que eu. Eu nunca vou ser um comissário político. Se queres um tipo independente, etc., está ok, tenho muito gosto em aceitar'. Foi um disparate porque só criei inimigos e só me causou problemas", disse, em entrevista à Lusa.
Jorge Bleck sublinha, no entanto, "em honra" do antigo primeiro-ministro, que "nunca José Manuel Durão Barroso, nem ninguém do seu Governo", lhe fez "um qualquer tipo de telefonema para que tomasse um qualquer tipo de decisão".
Não obstante, em 2006, o advogado renunciou ao cargo, sendo comunicada a sua saída ao mercado pela PT no mesmo dia em que a Sonae lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a totalidade do capital social da operadora de telecomunicações, em 6 de Fevereiro.
A informação do lançamento desta operação foi o mote que, dias antes, tinha levado o advogado a decidir sair.
Questionado porque considera que ter aceitado o cargo lhe trouxe "um dano enorme", conta: "Porque toda a vida fui advogado do Santander. Fiz as principais operações todas do banco, pelo menos, enquanto o Horta Osório e o Nuno Amado estiveram como presidentes e num sábado 'maldito' recebo um telefonema do Elias da Costa - ex-secretário de Estado, mas na altura já administrador e número 1 do Santander na área da banca de investimento - a dizer-me que precisava de falar comigo e que não podia ser por telefone. Encontrámo-nos e ele lança-me a bomba. Queria saber se a Linklaters [o escritório de advogados onde era sócio] estava disponível para os assessorar numa oferta à PT".
"Sempre disse quando aceitei [ser administrador] que a minha vida é ser advogado. E pensei [na altura]: 'Jorge, isto vai ser uma bomba e tu não podes estar na PT, mas o teu primeiro dever é com a Linklaters. Não é com a PT nem com o Durão Barroso", afirma.
O advogado falou "imediatamente" com os sócios da Linklaters. "Disse-lhes:'há este problema, eu não posso obstaculizar e isto é exclusivamente pessoal. Antes de mais, sou sócio desta casa, é aqui que está a minha vida, é aqui que quero fazer a minha vida'. E aí decido de imediato falar com o Ernâni Lopes [na altura, presidente do Conselho de Administração da PT]", refere.
"Julgo que o Henrique Granadeiro estava apontado para CEO [presidente da Comissão Executiva] e vou falar com ele, dizendo-lhe que iria ser dramático, pois ir-me-iam perguntar porquê [que saía] e eu não lhes poderia dizer. E ainda por cima tinha outro problema. Na quinta-feira antes, tinha tido um Conselho de Administração e ninguém ia acreditar que eu não estava lá já a saber. O meu nome ia ficar pela lama, mas eu não via como poderia tomar outra decisão. Lá tomo essa decisão e recebo duas cartas elogiosas do Ernâni e eu a saber que eles iriam achar o pior de mim dali a uma ou duas semanas. E isso é uma coisa que me afecta", sublinha.
Jorge Bleck lembra-se que quando formalizou a decisão, o responsável da PT a reagir pior foi o então vice-presidente, Zeinal Bava. "Ainda me quis pôr uma acção [em tribunal] e mais não sei o quê", relembra.
"O Henrique Granadeiro portou-se muito bem comigo e eu sempre lhe disse, quer a ele, quer ao Ernâni, que lhes assegurava por tudo o que podia assegurar que só soube disto uma semana antes da oferta ser lançada. E, como é obvio, jamais transmiti o que quer que fosse. O Santander era banqueiro da PT, eles tinham 10 vezes mais informações do que eu poderia ter alguma vez na vida [sobre a empresa]. Os conselhos de administração eram muito vagos, digamos assim", assegura Jorge Bleck.
Instado a comentar como eram os trabalhos na maior operadora de telecomunicações de Portugal, o então administrador diz que o "impressionou muito sempre" a "enorme preocupação dos accionistas sentados à mesa, à excepção do BPI e da Telefonica, em controlar o 'capex' [investimento]".
"Por razões óbvias, menos 'capex' mais libertação de fundos, maior o dividendo. E dizia cá para os meus botões: isto é fantástico, esta malta está-se absolutamente a ralar para o desenvolvimento tecnológico de uma empresa que requer brutalidades de 'capex'. Ou seja, a visão desta gente é estritamente de curto prazo, não estão aqui para o desenvolvimento da PT", conclui.
"Fui administrador da PT sim, coisa de que me arrependo. Não há nada na minha vida profissional de que eu mais me arrependa. Aliás, acho que a única [coisa] de que me arrependo é ter aceitado isso [o cargo]", refere.
"Fui convidado pelo Durão Barroso e disse-lhe: 'Se queres um comissário político há 10 mil tipos que o podem fazer e melhor do que eu. Eu nunca vou ser um comissário político. Se queres um tipo independente, etc., está ok, tenho muito gosto em aceitar'. Foi um disparate porque só criei inimigos e só me causou problemas", disse, em entrevista à Lusa.
Jorge Bleck sublinha, no entanto, "em honra" do antigo primeiro-ministro, que "nunca José Manuel Durão Barroso, nem ninguém do seu Governo", lhe fez "um qualquer tipo de telefonema para que tomasse um qualquer tipo de decisão".
Não obstante, em 2006, o advogado renunciou ao cargo, sendo comunicada a sua saída ao mercado pela PT no mesmo dia em que a Sonae lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a totalidade do capital social da operadora de telecomunicações, em 6 de Fevereiro.
A informação do lançamento desta operação foi o mote que, dias antes, tinha levado o advogado a decidir sair.
Questionado porque considera que ter aceitado o cargo lhe trouxe "um dano enorme", conta: "Porque toda a vida fui advogado do Santander. Fiz as principais operações todas do banco, pelo menos, enquanto o Horta Osório e o Nuno Amado estiveram como presidentes e num sábado 'maldito' recebo um telefonema do Elias da Costa - ex-secretário de Estado, mas na altura já administrador e número 1 do Santander na área da banca de investimento - a dizer-me que precisava de falar comigo e que não podia ser por telefone. Encontrámo-nos e ele lança-me a bomba. Queria saber se a Linklaters [o escritório de advogados onde era sócio] estava disponível para os assessorar numa oferta à PT".
"Sempre disse quando aceitei [ser administrador] que a minha vida é ser advogado. E pensei [na altura]: 'Jorge, isto vai ser uma bomba e tu não podes estar na PT, mas o teu primeiro dever é com a Linklaters. Não é com a PT nem com o Durão Barroso", afirma.
O advogado falou "imediatamente" com os sócios da Linklaters. "Disse-lhes:'há este problema, eu não posso obstaculizar e isto é exclusivamente pessoal. Antes de mais, sou sócio desta casa, é aqui que está a minha vida, é aqui que quero fazer a minha vida'. E aí decido de imediato falar com o Ernâni Lopes [na altura, presidente do Conselho de Administração da PT]", refere.
"Julgo que o Henrique Granadeiro estava apontado para CEO [presidente da Comissão Executiva] e vou falar com ele, dizendo-lhe que iria ser dramático, pois ir-me-iam perguntar porquê [que saía] e eu não lhes poderia dizer. E ainda por cima tinha outro problema. Na quinta-feira antes, tinha tido um Conselho de Administração e ninguém ia acreditar que eu não estava lá já a saber. O meu nome ia ficar pela lama, mas eu não via como poderia tomar outra decisão. Lá tomo essa decisão e recebo duas cartas elogiosas do Ernâni e eu a saber que eles iriam achar o pior de mim dali a uma ou duas semanas. E isso é uma coisa que me afecta", sublinha.
Jorge Bleck lembra-se que quando formalizou a decisão, o responsável da PT a reagir pior foi o então vice-presidente, Zeinal Bava. "Ainda me quis pôr uma acção [em tribunal] e mais não sei o quê", relembra.
"O Henrique Granadeiro portou-se muito bem comigo e eu sempre lhe disse, quer a ele, quer ao Ernâni, que lhes assegurava por tudo o que podia assegurar que só soube disto uma semana antes da oferta ser lançada. E, como é obvio, jamais transmiti o que quer que fosse. O Santander era banqueiro da PT, eles tinham 10 vezes mais informações do que eu poderia ter alguma vez na vida [sobre a empresa]. Os conselhos de administração eram muito vagos, digamos assim", assegura Jorge Bleck.
Instado a comentar como eram os trabalhos na maior operadora de telecomunicações de Portugal, o então administrador diz que o "impressionou muito sempre" a "enorme preocupação dos accionistas sentados à mesa, à excepção do BPI e da Telefonica, em controlar o 'capex' [investimento]".
"Por razões óbvias, menos 'capex' mais libertação de fundos, maior o dividendo. E dizia cá para os meus botões: isto é fantástico, esta malta está-se absolutamente a ralar para o desenvolvimento tecnológico de uma empresa que requer brutalidades de 'capex'. Ou seja, a visão desta gente é estritamente de curto prazo, não estão aqui para o desenvolvimento da PT", conclui.