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Freeport: Testemunha diz que estava em causa pagamento a partido político

O autor do fax que refere a existência de um pedido em dinheiro para viabilização do Freeport, Keith Payne, disse hoje em Tribunal que o que estava em causa era "o pagamento a um partido político".

26 de Abril de 2012 às 18:07
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O autor do fax que refere a existência de um pedido em dinheiro para viabilização do Freeport, Keith Payne, disse hoje em Tribunal que o que estava em causa era "o pagamento a um partido político".

"O cenário que estava em causa era que, de alguma forma, um partido político podia eliminar um parecer negativo [de Estudo de Impacto Ambiental] em 48 horas", disse Keith Payne, director executivo da empresa de consultoria 'K Konsult Lda'.

Segundo a testemunha, este terá sido o "cenário" de uma conversa ocorrida nos escritórios do Freeport em Inglaterra já depois da inviabilização do outlet (6 de Dezembro de 2001) de Alcochete.

A "convicção que tinha na altura, e que ainda hoje se mantém, é que isso não seria possível em Portugal", referiu a testemunha de acusação. Keith Payne respondia ao Tribunal do Barreiro, num depoimento prestado por videoconferência.

A testemunha acrescentou ter tido conhecimento de que a viabilização do Freeport estava dependente do pagamento de uma verba.

Considerou, no entanto, "incrível" que tal acontecesse e que essa "decisão fosse exequível em 48 horas", sublinhando que nunca foi paga qualquer quantia.

Apesar de admitir ter sido o autor do fax dirigido a Rik Dattani (gestor do projecto do outlet de Alcochete) em que é mencionado um pedido de dois milhões de libras para a construção do Freeport, Keith Payne disse nunca ter ouvido falar dessa verba.

"Só depois do caso ter aparecido nos jornais é que tive conhecimento disso", disse, admitindo ter depreendido, "em reuniões em Londres, que tinha havido pedido de verbas". "Eu apenas os aconselhei [directores do Freeport] a não irem por esse caminho", disse.

Um pouco antes destas declarações, a testemunha admitiu ter tido uma conversa em Portugal com uma pessoa chamada Roger Abraham, que este lhe terá dito que Charles Smith (um dos arguidos) lhe tinha transmitido que havia um problema com o Estudo de Impacto Ambiental do Freeport e que esse problema seria resolvido se fosse paga uma quantia em dinheiro a um determinado gabinete.

Questionado sobre que gabinete era esse, Keith Payne disse desconhecer, sublinhando ter sido com base nessas informações que elaborou o fax para Rik Dattani.

Ao referir que a 'K Konsult' nunca esteve ligada ao Freeport, disse ter tido reuniões pessoais com dois executivos do Freeport, na qual conheceu o gestor do projecto, Rik Dattani.

Estas conversas relacionavam-se com o desenvolvimento do projecto em Alcochete e com o Estudo de Impacto Ambiental e seguiram-se a uma reunião que decorreu na casa do embaixador português na Grã-Bretanha. Nesta reunião, ocorrida "algures em 2001", estiveram presentes membros da Câmara de Comércio Luso-Britânico, referiu.

O diretor executivo da K Konsult admitiu ainda ter conhecido um outro membro do Freeport de cujo nome não se recorda.

Em causa no processo Freeport está o alegado financiamento a partidos políticos. Os arguidos são os ex-sócios Charles Smith e Manuel Pedro, acusados do crime de extorsão na forma tentada.

O julgamento prossegue na segunda-feira durante todo o dia.

Estão já agendadas as audições (por videoconferência) de Alan Perkins, antigo administrador da empresa proprietária do espaço comercial de Alcochete, e de Sean Collidje, ex-presidente do grupo britânico Freeport, para os dias 21 e 22 de maio, respectivamente.

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