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Energia 20% mais barata em Portugal não está a criar indústrias mais fortes, aponta McKinsey
O mais recente estudo da consultora McKinsey diz que a transição energética está no bom caminho no país e pode atuar como um catalisador para a reindustrialização da economia nacional, o que tem tardado em acontecer.
De acordo com o Índice de Industrialização e Transição Energética da consultora McKinsey & Company, a capacidade de Portugal produzir energia limpa, até 20% mais barata do que a média europeia, é uma vantagem estratégica que dá ao país a possibilidade de liderar a reindustrialização a nível europeu. "Aproveitar esta oportunidade pode representar o crescimento do PIB em cerca de 15% e a criação de milhares de postos de trabalho qualificados", refere a consultora em comunicado.
"Portugal está no bom caminho na transição energética" afirma Maria João Ribeirinho, sócia sénior da McKinsey. No entanto, na indústria, ainda há muito trabalho a fazer. Segundo André Anacleto, sócio da McKinsey, "uma indústria mais forte impulsionará a transição energética. E, pelo contrário, a transição energética é uma oportunidade para construir uma indústria mais forte em Portugal, bem como para tornar o país mais atrativo para o investimento das empresas do setor industrial".
O Índice de Industrialização e Transição Energética tem como objetivo atuar como uma plataforma para avaliar o progresso da transição energética e industrial em Portugal e Espanha, com base em 25 indicadores diferentes, sendo o diagnóstico atualizado regularmente.
Para já, o índice mostra que Portugal tem conseguido reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa (-38% em relação aos níveis de 2005) e integrar energias renováveis no sistema energético (35% de energias renováveis no consumo final de energia, sobretudo solar e eólica), indicador no qual é o sexto melhor país da UE.
Com mais renováveis e menos importações de gás, Portugal "tem mantido os preços da eletricidade acessíveis para os clientes domésticos, e competitivos para a indústria, em relação à média europeia". Estes últimos, refere o estudo, "foram 50% mais baratos em 2023, a maior diferença da década".
"O investimento em energias renováveis é fundamental pois contribui para a eletrificação dos três setores com maiores emissões em Portugal: transportes (30% das emissões), indústria (25%) e produção de energia (17%); mantém os preços da eletricidade baixos; e viabiliza projetos com bastante valor para o país, como a produção de hidrogénio", afirma Maria João Ribeirinho, sublinhando que 100 MW de capacidade de eletrolisadores para a produção de hidrogénio verde estão já em fase de construção, enquanto a lista de projetos anunciados supera os 4.000 MW.
No entanto, Portugal "está atrasado na produção e adoção de biocombustíveis e biometano", diz a McKinsey. No caso do biometano, apesar do novo Plano de Ação, apenas se produziram 1,2 GWh, de um objetivo de 2.700 GWh em 2030 e de um potencial identificado de 6.900 GWh.
"É fundamental ter uma regulamentação estável, um licenciamento mais rápido, os incentivos certos e mais investimento na rede elétrica", acrescenta a partner.
Quanto a veículos elétricos, Portugal registou um progresso significativo: em 2023, veículos novos elétricos representaram 32% das vendas totais, 10 pontos percentuais acima da média da UE.
Neste contexto, o estudo da consultora conclui que os baixos custos da energia em Portugal podem traduzir-se numa indústria mais competitiva e abrir portas a novas indústrias e cadeias de valor, como as baterias ou o aço verde.
No entanto, isto não se tem verificado: o peso da indústria na economia - 13,6% em 2023 - é ainda significativamente mais de dois pontos percentuais inferior à média da UE e bastante longe dos 19% de 1996. "Por exemplo, Portugal produz cerca de 320 mil veículos por ano, mas apenas 0,1% deles são elétricos, enquanto na Alemanha esse valor é de 30%", reforça André Anacleto.
O índice sublinha ainda a perda de relevância dos empregos na indústria transformadora no total do emprego da economia, que continua em queda – 16,6% em 2023, quase um ponto percentual abaixo da média dos cinco anos anteriores à pandemia da COVID-19 (2014-2019).
Por outro lado, e em trajetória positiva, o investimento em ativos fixos industriais cresceu gradualmente desde 2013 e 14% só em 2022, atingindo os 12 mil milhões. "No entanto, apesar do progresso positivo, este crescimento ainda não se refletiu em melhorias significativas, por exemplo ao nível do VAB ou do emprego", remata a consultora.