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Chineses arriscam-se a fazer maus negócios na expansão internacional

O negócio da EDP, faz todo o sentido, até porque o mercado está em baixa, sublinha a economista Alicia Garcia-Herrero, que alertou, no entanto, para o risco político da operação.

29 de Dezembro de 2011 às 18:41
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A entrada da China Three Gorges (CTG) na EDP enquadra-se na estratégia chinesa de internacionalização através da compra de activos energéticos, mas nada garante que seja um bom negócio para a China, disseram hoje especialistas à agência Lusa. "O negócio da CTG em Portugal é num sector chave em que a China está a investir, e a área da energia é a especialização actual do investimento chinês. Há também a questão de eles quererem aprender no exterior processos para servir as necessidades domésticas, o que aumenta o carácter estratégico", disse Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe para os mercados emergentes do banco BBVA, em Hong Kong.

"A China está muito interessada em manter o investimento na Europa, sobretudo quando se trata de adquirir empresas de recursos naturais ou matérias-primas. Mas isso não é necessariamente positivo para a China, porque os preços estão artificialmente elevados, sobretudo pelos grandes níveis de investimento chinês", considerou Michael Pettis, professor na escola de gestão Guanghua, da Universidade de Pequim,

O investimento directo da China no exterior atingiu, em 2010, um total de 68,80 mil milhões de dólares (52,7 mil milhões de euros), segundo estatísticas oficiais chinesas, e deverá crescer entre 20 e 30% ao ano nos próximos três anos, de acordo com a consultora Ernst & Young.

Para Michael Pettis, apesar da entrada de capital chinês agarrar sempre as primeiras páginas dos jornais, o investimento directo da China no exterior, descontando a compra de dívida pública "é ainda muito baixo relativamente ao tamanho da economia" e a tendência, por isso, será para crescer, sobretudo numa Europa que precisa de "vender os anéis" para fazer face à crise da dívida pública. "Eles preferirão comprar activos a comprar dívida dos países que precisam de ajuda, por razões óbvias. Se os alemães não compram dívida portuguesa, espanhola ou italiana, porque não têm confiança, seria surpreendente que a China o fizesse", frisou.

O negócio da EDP, faz todo o sentido, até porque o mercado está em baixa, considerou ainda Alicia Garcia-Herrero, que alertou, no entanto, para o risco político da operação. "Países como Portugal, Espanha ou a Grécia poderão ficar muito contentes por receberem hoje investimento. A questão é se a Europa no seu todo vai gostar de ver companhias chinesas, em especial empresas que são propriedade estatal, a comprar ativos europeus", disse. "Essa será uma questão vital para a Europa mas, em países como Portugal ou Espanha, não temos grande escolha. E, além disso, no meu ponto de vista, numa economia de mercado como a europeia, as coisas não colocam nesses termos", acrescentou.

Garcia-Herrero e Pettis estão de acordo quanto à ideia de que não faz sentido ter medo do investimento chinês na Europa, até porque nada garante que as empresas da China acabem por lucrar com os negócios.

"Mesmo que os chineses tivessem essa ideia das empresas estatais a conquistar o mundo, vamos ver -- talvez nem tenham tanto sucesso, porque, como todos já aprendemos com experiências passadas, ser o maior pode não ser a melhor opção", considerou a economista do BBVA.

"Há a crença de que a China está numa posição muito forte, a comprar o mundo todo. Mas, de facto, está a comprar muito pouco e não está numa posição forte, devido aos desequilíbrios internos no país (...) O modelo de crescimento chinês continua com muitas falhas (...) As empresas têm acesso a financiamento muito barato, a custo de capital negativo, num ambiente muito controlado, regulado e protegido. Quando se sai, não há nada disso", refere Pettis.

"Demora muitos anos a aprender a operar num ambiente internacional. A minha previsão é que, nos primeiros anos, os chineses vão pagar demasiado, gerir mal e ter perdas nos activos que comprarem, mas isso é normal, é parte do processo que todos os países viveram", acrescentou. O contrato de aquisição de 21,35% das acções da EDP pela CTG, por cerca de 2,69 mil milhões de euros, será assinado na sexta-feira.

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