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Carpex com salários em atraso apresenta queixa-crime contra cliente holandês

Os trabalhadores da Carpex estão com remunerações em atraso e ameaçam fazer greve, mas, procurando evitar a insolvência, a fábrica de calçado da Feira instaurou um processo-crime a três entidades que responsabiliza por um milhão de euros de prejuízo em 2011.

01 de Fevereiro de 2012 às 20:12
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Fernanda Moreira, do Sindicato dos Operários da Indústria do Calçado, Malas e Afins dos Distritos de Aveiro e Coimbra, declarou à Lusa que em risco está o posto de trabalho de 27 operários, com os quais a empresa terá em dívida "a totalidade do salário de Janeiro e do subsídio de Natal, parte do ordenado de Dezembro e parte do subsídio de férias".

Carla Oliveira, gerente da Carpex, corrige esses valores, lembrando que "o salário de Janeiro ainda não está vencido" e garantindo que a empresa "só tem em falta 50 por cento do de Dezembro e o subsídio de Natal", o que atribui a uma situação "muito simples - ter estado de Janeiro a Outubro de 2011 a trabalhar exclusivamente para um cliente holandês que ficou com a mercadoria e não pagou um tostão por ela".

Em causa está a firma Craftwork, que, assumindo a representação do calçado da marca norte-americana Dickies, se comprometeu a pagar 700.000 euros pelo calçado produzido na Carpex e "desapareceu do mapa sem cumprir".

Carla Oliveira reconhece que foi "um esforço enorme" aceitar o pagamento total da encomenda numa única parcela final, até porque o acordo implicou também "obras na fábrica e auditorias inglesas, como eles exigiram", mas defende que ela "tinha reputação internacional e parecia ser de confiança".

"Pedimos informações e elas eram boas", revela. "Só percebemos que qualquer coisa estava mal quando eles protelaram várias vezes o pagamento dos 50.000 euros de amostras que tinha que ser feito à parte, em agosto".

Quando o armazém da fábrica da Feira se revelou exíguo para a produção acumulada, também foi por iniciativa da Carpex que parte do calçado seguiu antecipadamente para a Holanda e é aí que entra em cena a Jetromer, porque Carla Oliveira confirma ter dado instruções à transportadora dos holandeses para arrancar viagem, mas refere que lhe solicitou também que só entregasse a mercadoria quando recebesse indicação de que o pagamento das amostras fora feito.

O problema foi que, por um lado, o agente português da Craftwork depositou na conta da Carpex um cheque de 30 mil euros que, dois dias depois, se revelou "fora de validade há dois anos" - pelo que Carla Oliveira acusa José Montenegro de "saber que estava a cometer uma ilegalidade e que não havia dinheiro nenhum disponível".

Por outro lado, há a agravante de a Jetromer ter entregado a mercadoria nas instalações da empresa holandesa antes de receber instruções da expedidora nesse sentido - no que Vasco Cruz, sócio-gerente da transportadora, diz que "se limitou a cumprir as instruções do seu cliente, que era a Craftwork e não a Carpex".

Vasco Cruz considera-se "apanhado numa guerra" a que é alheio, diz-se de "consciência tranquila" e informa que "a Craftwork pagou direitinho o serviço que encomendou"; Carla Oliveira fez queixa na Polícia Judiciário e espera com o processo-crime instaurado às três entidades "recuperar algum do dinheiro que falta à empresa".

"Percebemos que os nossos funcionários também têm os seus compromissos, mas dois meses em atraso praticamente não é nada no contexto da situação em que estamos", observa a gerente da Carpex. "Andámos a vender o nosso património privado e a pedir empréstimos pessoais para pagar os salários, e é muito triste perceber que, se calhar, o que eles querem mesmo é que a empresa feche, para passarem a receber o subsídio de desemprego e isto fechar de vez".

Fernanda Moreira garante que os trabalhadores "já não aguentam mais e estão numa situação económica muito difícil", propondo-se fazer greve a partir do dia 8, "por prazo indeterminado".

Carla Oliveira diz que tem rejeitado encomendas "por não ter dinheiro para comprar os materiais", mas, embora tenha informação de que a Craftwork "abriu falência e ficou a dever a muita gente", tem esperança de "ainda conseguir avançar com um processo legal na Holanda e tentar dar a volta à situação".

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