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AICEP angariou investimento de mais de mil milhões de euros
A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) angariou investimento "acima dos 1.000 milhões de euros" este ano, apesar de algum abrandamento, disse em entrevista à Lusa o presidente da entidade, Miguel Frasquilho.
"No ano passado tivemos, em termos de investimento angariado, o melhor ano dos últimos cinco e um dos dois melhores desde que a AICEP foi fundada, em 2007", afirmou Miguel Frasquilho, que recordou que a agência cumpre 10 anos de existência em 2017.
Em 2015, "tivemos cerca de 1.700 milhões de euros angariados pela AICEP em termos de investimento. Este ano, apesar de algum abrandamento (...), mesmo assim vamos ficar acima dos 1.000 milhões de euros", disse Miguel Frasquilho, que vai deixar a agência após terminar o mandato e fechar as contas deste ano.
"E dos tais 10 anos da AICEP, estamos a falar do quarto melhor ano", disse, acrescentando que "mesmo assim foi superior a 2011, 2012, 2013 e 2014", só encontrando "paralelo em 2007, 2008".
O investimento durante este ano foi diversificado, incluindo as empresas Embraer, PSA, Faurecia, Bosch, Renova, entre outros.
Apesar do investimento angariado este ano, a AICEP sentiu no início de 2016 "um menor dinamismo".
"Isso é inquestionável. Por que é que isso aconteceu? Acontece sempre que há mudanças de ciclo político", explicou Miguel Frasquilho.
Ou seja, "houve um compasso de espera por parte dos investidores nos primeiros meses deste ano para se perceber o que é que iria acontecer. Eu próprio senti, em reuniões que tive, curiosidade acrescida" sobre a situação política, confessou.
Apesar do 'Brexit' (saída do Reino Unido da União Europeia) e da eleição do republicano Donald Trump nas presidenciais norte-americanas, que "são factores de risco que acarretam incerteza, mesmo neste contexto, tivemos uma segunda metade do ano que eu diria que, em termos de investimento angariado, foi melhor do que a primeira metade, daí que tenhamos conseguido atingir mais de 1.000 milhões de euros para este ano", acrescentou.
Miguel Frasquilho, que faz um balanço positivo do seu mandato à frente da AICEP, disse ainda que "gostaria de ver o orçamento da AICEP crescer nos próximos anos a bem da actividade da agência e a bem da actividade do país porque é, de facto, uma actividade fundamental".
"Nós temos os ovos, entre aspas, que foi possível obter, estou a falar em termos de orçamento da AICEP e recordo que o orçamento da AICEP no início desta década 2010/2011 era superior a 50 milhões de euros. Nesta altura, o orçamento da AICEP anda à volta dos 37/38 milhões de euros", ou seja, um corte de 30% num horizonte de seis anos, disse.
"Penso também que a AICEP é das agências mais consensuais que existe em Portugal, tem uma tarefa que me parece relevante, não me canso de dizer que a AICEP não exporta nem investe, isso cabe às empresas, mas nós apoiamos a actividade da exportação e a actividade do investimento", salientou.
"Se passarmos dos 37 milhões de euros para 40/41 milhões de euros, acho que aí já temos ovos suficientes para fazer omeletes que, sem dúvida, são positivas para todos e nos permitem continuar esta trajectória positiva e ascendente que nós, mesmo com estes poucos ovos, temos tentado fazer", acrescentou, afirmando que isso não significa colocar a agência à margem das restrições orçamentais.
"Tive e tenho a felicidade e o privilégio e o gosto de ser o presidente da AICEP e quando lhe falo neste desejo de ver o orçamento da AICEP melhorado nos próximos anos, já a começar em 2017, não estou a pedir nada para mim enquanto presidente, gostaria de ver na agência a que presido, e evidentemente para o meu sucessor", salientou Miguel Frasquilho.
Delegações na Austrália, Argentina e Tailândia em 2017
A AICEP vai abrir delegações na Austrália, Argentina e Tailândia no primeiro trimestre do próximo ano. "Estamos nesta altura na fase de escolher ou de assinalar as datas no primeiro trimestre do próximo ano em que abriremos as delegações na Austrália, na Argentina e na Tailândia, são as únicas que nos faltam cumprir", no âmbito do plano estratégico, afirmou Miguel Frasquilho.
Em 2014, o presidente da AICEP apresentou um plano estratégico, que alarga a presença das delegações da agência no mundo.
Na altura em que o plano foi desenhado, nem a Austrália nem a Argentina constavam do mesmo, mas face às relações comerciais entre as empresas portuguesas e aqueles países, a entidade decidiu abrir delegações naquelas geografias.
Por outro lado, a abertura na Tailândia vai permitir à AICEP acompanhar todo o sudeste asiático, explicou Miguel Frasquilho.
"Estas são as três delegações que falta abrir para cumprirmos na íntegra o nosso plano estratégico, mas não posso deixar de referir, digo com muito orgulho, que foi durante o meu mandato que a AICEP passou a cobrir todos os países da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa] ", salientou Miguel Frasquilho.
"Tudo isso é uma marca, no fundo, uma aposta no português enquanto língua de negócios internacional. E isso deixa-me também muito orgulhoso porque nós já estávamos presentes nos maiores países da CPLP, falo obviamente do Brasil, Angola e Moçambique. Estávamos também em Cabo Verde já e agora cobrimos toda a CPLP", disse.
"Portugal tem uma proximidade histórica, cultural, económica, afectiva com estes países onde se fala português que nos deve deixar a todos cheios de orgulho e que é uma marca económica muito interessante e, se juntarmos a esta vertente o facto de sermos um país da União Europeia", prosseguiu, isso torna Portugal junto de "investidores de outras geografias" um "parceiro ideal em termos de investimento, de abordagem nestes mercados, seja na União Europeia, seja na CPLP".
Quando Miguel Frasquilho assumiu a presidência da AICEP, a agência acompanhava pouco mais de 50 mercados, agora acompanha cerca de 65.
"Espero que esta trajectória possa ser mantida com o meu sucessor e que se possa alargar a presença de Portugal no mundo. Esse é o caminho e penso que fomos nós que iniciámos a globalização há muitos séculos, no século XV, e devemos continuar a ter orgulho de sermos um país que está sempre virado para fora. Temos muitas coisas boas para apresentar lá fora e a marca Portugal, posso dizê-lo com conhecimento de causa, acrescenta muito valor hoje em qualquer paragem onde nós nos encontremos", sublinhou.
O responsável lembrou que a abertura das delegações de Cuba e Irão não constava no plano estratégico inicial, mas dada a dinâmica geopolítica, tal acabou por ser uma aposta, sendo que as presenças previstas na Nigéria e no Gana aguardam agora uma nova oportunidade.
Frasquilho espera que venda do Novo Banco "seja coroada de sucesso rapidamente"
O presidente da AICEP deixou alguns alertas, designadamente para a necessidade de "confiança do sector financeiro", esperando que a venda do Novo Banco "seja coroada de sucesso rapidamente".
Em entrevista à Lusa, Miguel Frasquilho defendeu a necessidade de o país continuar a "batalhar" pela competitividade, mas deixou "alguns alertas", nomeadamente quanto ao endividamento público, à elevada tributação da actividade económica e à necessidade de "confiança e de resiliência do sector financeiro".
"É certo que a conjuntura é positiva, é certo que Portugal está no radar dos investidores, mas nós temos de olhar para os sinais que nos vão sendo transmitidos", disse, aludindo ao facto de o país ter recuado em alguns dos principais 'rankings' de competitividade globais, como por exemplo o do World Economic Forum.
Miguel Frasquilho defendeu a necessidade de se identificar as áreas em que Portugal se compara pior.
"As três áreas em que comparamos pior são o endividamento público, onde estamos quase no fim da tabela: se Portugal ocupa a posição 46 em 138 países [no World Economic Forum], aqui estamos na posição 134", apontou, acrescentando que já no caso da tributação da atividade económica, ou seja, impostos elevados sobre as empresas e famílias, o país está na posição 120.
"Também na confiança e na resiliência do sector financeiro", Portugal está na posição 130 e "estas são áreas em que nós precisamos de actuar", apontou.
Questionado sobre o impacto da actual situação do sector financeiro em Portugal, o presidente da AICEP afirmou que "quando há qualquer factor que introduz perturbações adicionais, isso nunca é positivo".
E prosseguiu: "Por exemplo, eu espero que a venda do Novo Banco seja coroada de sucesso e seja coroada de sucesso rapidamente porque ela já se arrasta há tempo demais".
Além disso, "espero que processo da Caixa Geral de Depósitos entre também num processo de acalmia, que é fundamental para o sector financeiro, estamos a falar do maior 'player', da maior instituição do sector onde houve claramente um processo de escolha de uma equipa de gestão que não correu como devia ter corrido, não correu bem por múltiplas e variadas razões", acrescentou.
"Interessa também que os outros 'players' no sector, os maiores, encontrem a estabilidade que também têm vindo a procurar. (...) Se as instituições com maior peso conseguirem encontrar a tranquilidade que todos desejamos, então ficaremos com uma situação que ajudará também à recuperação da economia, porque um sector financeiro que não tem estabilidade, não transmite essa imagem de confiança, também não consegue auxiliar a economia como ela precisa de ser auxiliada", concluiu o presidente da AICEP.