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Marcas de fabricante "saltam" de supermercados em Espanha. Portugal com "fenómeno semelhante"

Organização que representa marcas de fabricante em Espanha acusa grandes cadeias de supermercado de terem retirado das prateleiras 3.666 referências, enquanto aumentaram as suas em 1.818 no espaço de seis anos. Em Portugal há "fenómeno semelhante", diz Centromarca.

VAsco Neves
Diana do Mar dianamar@negocios.pt 08 de Abril de 2024 às 18:39
A indústria alimentar abriu "guerra" contra os supermercados em Espanha, com a Promarca, que agrupa empresas como a Coca-Cola, Pepsico, Danone, Calvo, Heineken ou Pescanova, a acusar a distribuição de concorrência desleal, por lhes estarem a retirar espaço nas prateleiras para colocarem no lugar as suas próprias marcas.

Segundo o El Economista, a organização acusa as seis grandes cadeias de retalho no país - Mercadona, Carrefour, Lidl, Eroski, Dia e Alcampo (Auchan) - de terem retirado dos seus escaparates 3.666 referências, enquanto aumentaram as suas em 1.818.

Só desde o início do ano, de acordo como diário espanhol, o Carrefour (que não opera em Portugal), "expulsou" os produtos do grupo norte-americano Pepsico, acusando-o de uma subida injustificada dos preços (uma decisão entretanto revertida pelo menos em França); enquanto o Dia (dona do Minipreço em Portugal) retirou a Bimbo e a Mercadona o leite Pascual.

Ao Negócios, o diretor-geral da Centromarca - Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca que congrega 50 associados que detêm mais de 800 marcas e tem um volume de vendas anual no mercado nacional da ordem dos 6.000 milhões de euros - diz não dispor de uma "análise tão fina" e dados concretos, mas confirma que há "um fenómeno semelhante", pese embora as devidas diferenças de mercado.

"São aspetos que também existem cá. Portugal é o país da Europa onde as marcas próprias mais cresceram em valor e em volume. Não sendo as prateleiras elásticas há um desinvestimento da oferta, que é mais curta e mais limitada em termos de diversidade, o que penaliza as marcas e resulta numa menor escolha para o consumidor. Neste sentido, não é muito dferente do que acontece em Espanha", comenta Pedro Pimentel.

Um estudo da consultora Kantar e analisado em conjunto com a Centromarca, divulgado em outubro do ano passado, concluiu que apesar de as dificuldades económicas poderem convidar à compra de marcas de distribuição, as chamadas marcas próprias não só "geram menor diversidade na prateleira", como redundam em "menor rentabilidade para os retalhistas e menor fidelização nos clientes".

Pedro Pimentel refere que têm sensibilizado os clientes - retalhistas - para o facto de as suas opções em reduzir o sortido e ter um diferencial elevado de preço estar a "condicionar o mercado" e de o combate à dinâmica concorrencial face a cadeias de retalho como a Mercadona ou o Lidl (que têm oferta concentrada na marca própria e têm crescido acima das "tradicionais" ) acabar por ser "desigual para o lado dos fabricantes", mas também para elas próprias e para os consumidores.

"A médio/longo prazo todos vão perder: os fabricantes vão ter menor retorno o que penaliza a inovação, enquanto o retalho menos oferta e o consumidor menos escolha", remata.

Em entrevista ao Negócios e à Antena1, em novembro, o presidente da Centromarca, Nuno Fernandes Thomaz, tinha afirmado que as marcas de fabricante têm de pagar "quase uma portagem" para ter lugar nas prateleiras das grandes superfícies, o que as coloca em desvantagem relativamente às marcas próprias dos retalhistas o que, a seu ver, explica, pelo menos em parte, a grande diferença de preços.

"Quando uma marca de fabricante negoceia com um operador de retalho, está a negociar com o seu maior cliente mas, ao mesmo tempo, com o seu maior concorrente. Porquê? Porque não só o operador de distribuição é o principal cliente porque compra os produtos da marca de fabricante, como também tem o seu produto próprio", pelo que quando quer chegar ao escaparate de um hipermercado "tem de pagar o que eu chamo quase uma portagem para lá estar", critica.

Nuno Fernandes Thomaz afirmou mesmo que há "alcavalas" que as marcas de fabricante pagam e que a marca própria não, relativas, por exemplo, à localização do produto ou à reposição. 

Um termo "inqualificável" nas palavras do diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, porque, a seu ver, "induz uma forma de trabalhar que não existe no setor". "No retalho alimentar, precisamos das marcas de fabricante porque, em primeiro lugar, são essas que o consumidor procura. Se, depois, em face do preço da marca de fabricante, escolhe as marcas próprias é uma escolha sua, racional", afirmou.
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