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Jerónimo Martins antecipa dividendos para evitar impostos

A Jerónimo Martins propôs a distribuição de 235,6 milhões de euros em dividendos, o que equivale a 37,5 cêntimos por acção.

Miguel Baltazar
06 de Novembro de 2015 às 10:08
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A Jerónimo Martins é mais uma das cotadas portuguesas que decidiram avançar com uma remuneração extraordinária. Mas ao contrário das outras, a empresa liderada por Pedro Soares dos Santos quer entregar este dividendo especial já com a "fatia" dos lucros deste ano que continuam a subir. Uma antecipação estratégica, à semelhança do que fez no passado, que terá como objectivo proteger-se do agravamento fiscal sobre os dividendos prometido por um Governo à esquerda.

 

Até ao final de Setembro, a Jerónimo Martins lucrou mais 6,4% para 252 milhões de euros. O EBITDA aumentou em 7,3%, suportado num aumento de 9% das receitas. Um crescimento superior ao antecipado, que fez aumentar ainda mais as reservas da empresa. "Perante a solidez do balanço e os fluxos de caixa gerados, o conselho de administração vai solicitar" uma assembleia extraordinária para "aprovar o pagamento em 2015 de 236 milhões de euros", anunciou a empresa. Este montante equivale a 37,5 cêntimos por acção.

 

A empresa liderada por Pedro Soares dos Santos pretende, assim, entregar já a remuneração especial, mas também o dividendo que habitualmente é entregue apenas após o fecho das contas anuais, em Abril e Maio. Esta antecipação, aprovada no dia anterior, surge após ser revelado que o acordo à esquerda (entre PS, BE e PCP) prevê que o regime de eliminação de dupla tributação sobre os lucros em IRC só se aplique a participações mínimas de 10% em diante, contra os actuais 5%. Uma alteração que teria impacto para os grandes investidores da Jerónimo Martins.

 

A antecipação desta remuneração, no valor de 236 milhões de euros, não é inédita na bolsa nacional. Em 2010, Portugal Telecom, Portucel, mas também a Jerónimo Martins, decidiram entregar antecipadamente parte dos lucros aos accionistas de forma a evitar a elevada tributação que ia entrar em vigor no ano seguinte. Agora, ainda que não seja certo que exista sequer um Governo à esquerda, a empresa avança com esta medida que permite proteger alguns milhões de euros em impostos.

 

Mais Polónia

 

Para o crescimento dos resultados da retalhista, ajudando ao aumento das reservas que irá entregar aos investidores, contribuíram praticamente todas as áreas de negócio, tanto em Portugal como na Polónia e até na Colômbia. As receitas ascenderam a 10.175 milhões de euros, beneficiando ligeiramente de um efeito cambial. Na Polónia, as vendas cresceram mais de 10%, o dobro do registado no Pingo Doce.

 

A abertura de novas lojas acentuou o aumento das receitas, sendo que no perímetro de lojas comparável ("like-for-like"), as vendas cresceram, mas menos: subiram 3,3%, com a Biedronka a registar o aumento menos acentuado do grupo (2,9%). Ainda assim, a cadeia de supermercados da Polónia mantém a sua relevância nas contas. As vendas no país representam 67,2% do total do grupo, aumentando ligeiramente a proporção face ao período homólogo. O aumento do volume de negócios permitiu "compensar substancialmente a deflação", diz a empresa sem fazer qualquer referência ao imposto sobre o retalho prometido pelo novo Governo do partido Lei e Justiça. 

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