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Greve na distribuição: Sindicato antecipa "impacto", APED nem por isso
Greve realiza-se, este sábado, dia 11, de norte a sul do país. Os trabalhadores reivindicam, entre outros, um aumento geral dos salários e a valorização das carreiras profissionais.
Os trabalhadores das empresas de distribuição vão avançar com uma ação de greve, este sábado, dia 11, de norte a sul do país, para reivindicar "um aumento geral dos salários" e "a valorização das carreiras profissionais". Se, por um lado, o CESP - Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal - antecipa que tenha "impacto" face à "adesão significativa" que é esperada, por outro, a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) não prevê "perturbações de maior".
Ao Negócios, Célia Lopes, da comissão executiva do CESP, adianta que a greve avança com a expectativa de uma "enorme adesão" atendendo à "insatisfação e à incompreensão muito grande que os trabalhadores sentem relativamente à valorização das suas carreiras. Deixou de ser um tabu falarem das suas dificuldades. Cada mês que passa estão pior do que no anterior".
Mesmo que seja significativa a adesão, nunca terá capacidade para levar grandes superfícies a fecharem portas, mas como, "neste momento, estão em mínimos em termos de trabalhadores, a falta de um fará diferença", nomeadamente ao nível das caixas ou da reposição de produtos. "Não será um dia fácil", vaticina a mesma responsável.
Para Célia Lopes, o descontentamento generalizado dos trabalhadores só é passivel de ser revertido com melhores condições salariais, sendo a proposta do sindicato afeto à CGTP para o salário mais baixo do setor ainda para este ano de 850 euros.
Além do aumento geral dos salários, as principais reivindicações incluem a valorização das carreiras profissionais e a revisão do Contrato Coletivo de Trabalho — revisto pela última vez com a APED em 2016.
Era suposto ter havido uma reunião entre as partes, prometida após a entrega do pré-aviso de greve, que teve lugar em meados de outubro, mas acabou por não acontecer, porque a associação patronal "não disse mais nada".
O diretor-geral da APED confirma: "Não valia a pena realizá-la só por compromisso de calendário se não tinhamos uma contraproposta pronta. Não conseguimos chegar à proposta ambiciosa que nos colocou".
Gonçalo Lobo Xavier garante, no entanto, que uma contraproposta está a ser trabalhada nesta altura em que as empresas preparam os orçamentos para o próximo ano, a qual se espera pronta "até ao final de novembro" para ser discutida depois não só com o CESP, mas também com o SITESE (Sindicato dos Trabalhadores e Técnicos de Serviços, Comércio, Restauração e Turismo e com o STGSSP (Sindicato dos Trabalhadores das Grandes Superfícies, Armazéns e Serviços de Portugal).
Apesar do "respeito por esta forma de luta" dos trabalhadores, o diretor-geral da APED diz ao Negócios que entende que esta greve figura como "um ato de afirmação ou prova de vida dos sindicatos" e é "mais nacional do que setorial até", considerando que, "em bom rigor, as coisas têm tido alguma evolução".
E dá o exemplo do acordo de atualização do Contrato Colectivo de Trabalho firmado com o SITESE, afeto à UGT, no ano passado. Com efeito, e apesar de algumas negociações terem prosseguido em 2023, Gonçalo Lobo Xavier reconhece que estancaram: "Infelizmente chegamos a um ponto em que não nos é possível firmar um novo este ano".
"O aumento do salário mínimo e mesmo a situação económica do país não permitiu que chegássemos a acordo do ponto de vista das remunerações. O aumento do salário mínimo está a causar algumas dificuldades às empresas. Ninguém está contra, mas as 202 empresas nossas associadas têm todas situações muito diferentes ao nível da rendibilidade e dos negócios. A APED representa um setor e não empresas", reforça.
Relativamente ao impacto da paralisação de sábado, o diretor-geral da APED tem uma perspetiva diferente do CESP: "As últimas greves do CESP (designadamente em 1 de maio e 18 de março) não tiveram muita adesão, até porque o movimento sindicalista tem perdido alguma força. Estamos confiantes de que não irá causar perturbações de maior".
CESP desmente Sonae MC que desmentiu CESP
Esta terça-feira, dia 7, o CESP realizou uma ação específica versando a Sonae, tendo entregue à empresa liderada por Cláudia Azevedo as reivindicações para o próximo ano. Reivindicações que a MC, braço dedicado ao retalho alimentar da 'holding', veio lamentar por entender que o sindicato em causa não representa os seus trabalhadores.
"O caderno reivindicativo apresentado é da responsabilidade de um dos sindicatos do setor da distribuição (...), pelo que não representa a MC ou os seus colaboradores", apontou a dona do Continente, numa nota enviada à Lusa, em que detalhou que "a representatividade da MC neste sindicato é inferior a 1%".
Célia Lopes, da comissão executiva do CESP, contesta: "Não corresponde à verdade. Somos o sindicato mais representativo" ao nível das cadeias de distribuição.
"Quando a resposta da Sonae às reivindicações dos trabalhadores é esta, penso que está tudo dito", afirmou a dirigente sindical, lamentando que "os seus gestores tenham tido aumentos de 18,4%, quando há trabalhadores com 30 anos de casa a ganhar 765 euros", ou seja, mais cinco euros do que o salário mínimo nacional.