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Ultra-ricos usam hipotecas gigantes para ter acesso a dinheiro barato
A penthouse no 15 Central Park West tem tudo o que se podia esperar de um imóvel de 88 milhões de dólares: mais de 625 metros quadrados de área, um terraço que contorna o apartamento e vistas deslumbrantes de Manhattan.
Desde junho, o apartamento da família do bilionário russo Dmitry Rybolovlev tem também um recurso extra que só está disponível para os super-ricos: uma hipoteca de 42,5 milhões de dólares do JPMorgan Chase. Com juros de 2,9%, os pagamentos são de cerca de 177 mil dólares por mês.
Rybolovlev - que não quis comentar através de uma porta-voz - comprou o apartamento a Sandy Weill há cerca de uma década para a sua filha Ekaterina. A família tentou vendê-lo alguns anos depois, quando os preços dos imóveis mais caros da cidade começaram a cair. Em vez disso, decidiram alavancar o ativo.
Embora a gigantesca hipoteca seja uma das maiores contratadas nos últimos meses, está longe de ser a única. As instituições têm aumentado a oferta de crédito a clientes importantes depois de os bancos centrais terem cortado as taxas de juro para proteger a economia dos efeitos da pandemia de covid-19. Isso permite aos ultra-ricos fazerem empréstimos para investir em ações, criptomoedas ou imóveis, mesmo com o desemprego persistente, que está a levar o incumprimento aos níveis mais altos desde 2010.
"Os juros estão baixos e, portanto, os clientes procuram tirar vantagem com alguma forma de dívida para ter acesso a dinheiro barato", disse Casey S. Kriedman, consultor financeiro do Broad Group, uma unidade do UBS Global Wealth, em Nova Iorque.
A tendência também é visível a partir dos dados dos meramente ricos. Após a forte queda durante os primeiros dias da pandemia, o número de hipotecas de mais de 766 mil dólares aumentou mais de dois terços em agosto em relação ao ano anterior, de acordo com a Associação de Bancos Hipotecários dos EUA. Outros fatores que impulsionam a tendência: mais pessoas compram imóveis maiores em áreas rurais ou mais distantes dos centros urbanos em busca de refúgio; proprietários optam pelo refinanciamento; e o mercado acionista está em alta.
"A franja superior do mercado de hipotecas está muito focada nos retornos dos mercados financeiros", disse Michael Fratantoni, economista-chefe da associação. "Isso tem fornecido recursos."
Nova Iorque é uma das poucas grandes cidades a divulgar publicamente os dados de hipotecas. O magnata de outdoors Drew Katz obteve uma hipoteca de 15 milhões de dólares em agosto para uma penthouse em Nova Iorque que comprou há quatro anos por 22 milhões de dólares, mostram os documentos. Em abril, o fundador de hedge fund Dan Och obteve uma hipoteca de 50 milhões para um imóvel no Billionaire’s Row, em Manhattan, que adquiriu no ano passado. No mês seguinte, uma empresa dos EUA controlada pela herdeira mexicana Karen Virginia Beckmann - parte da família por trás da tequila José Cuervo - conseguiu uma hipoteca de 19 milhões para um apartamento comprado há três anos na mesma área.