Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Teixeira dos Santos: “Preocupa-me que se queira forçar a iberização da banca”

A Autoridade Bancária Europeia está a forçar uma subalternização da banca portuguesa face à espanhola? “Não acredito em conspirações, mas que as há, há”, responde o presidente do EuroBic.

O malparado não é um problema para o EuroBic. Ainda assim, Teixeira dos Santos alinha com a Associação Portuguesa de Bancos e critica a proposta de Bruxelas de penalizar os bancos com rácio de malparado acima dos 5%.

Nos últimos anos tem sido evidente a presença crescente de capitais espanhóis no sistema bancário português. Há uma espanholização da banca?
Sente-se que a presença de accionistas e capital espanhol no sector se tem vindo a fortalecer. Não tenho preconceitos quanto à presença de capital estrangeiro na nossa economia, inclusive no sector bancário. A minha única preocupação tem mais a ver com aquilo a que chamaria a cadeia de decisão que se estabelece. É importante que, independentemente da origem do capital das instituições, as decisões possam ser tomadas a nível nacional. No caso do EuroBic, acho que é importante continuar a poder dizer aos nossos clientes – sejam eles depositantes, empresas ou famílias que precisam do financiamento – que as decisões são tomadas ao nível do banco, das agências, dos directores regionais ou directores nacionais ou até, quando a complexidade ou a dimensão da operação o obriga, ao nível da administração, mas que a decisão não vai mais longe do que Lisboa.

O Novo Banco continua a ser um fardo para o sistema financeiro?
"É um fardo bem menor face ao cenário alternativo, que era, pura e simplesmente, a necessidade de liquidar, e de uma falência completa de um banco da dimensão do Espirito Santo.
antónio ramalho
presidente do novo banco

Tem a percepção de que há decisões em bancos onde a maioria ou a totalidade do capital é espanhol que são transferidas para Espanha?
Não estarei muito à vontade para comentar isso a 100% mas tenho tido alguns ecos que me dão conta de que algumas decisões dependem de instâncias que não estão no país.

Isso é, ou não, prejudicial para as empresas portuguesas?
Creio que pode ser prejudicial porque, por um lado, alonga os processos de decisão, e muitas vezes o tempo é crucial em muitos projectos, e mais, eu creio que neste tipo de negócio, que é muito relacional,  é preciso conhecer bem o cliente e interagir com ele. Daí a minha preocupação no EuroBic de assegurar que temos um nível de decisão que garante essa proximidade e essa interacção com o cliente.

A consolidação e até uma certa iberização da banca é um conceito que tem sido defendido pela EBA (Autoridade Bancária Europeia).
Pessoalmente preocupa-me que se queira forçar as coisas nesse sentido. Agora há aqui um aspecto que é relevante, não podemos dizer que tudo é mau, não alinho nesse tipo de discurso. Considero que, apesar de tudo, este contexto cria um ambiente de maior exigência às instituições. Há aqui um ambiente de concorrência, por um lado, que exige maior eficiência, maior qualidade do serviço e esse é um aspecto positivo.

A Associação Portuguesa de Bancos manifestou-se contra a proposta da EBA de penalizar os bancos com rácio de crédito malparado acima dos 5%. Apesar de não estarem nestas circunstâncias, o EuroBic partilha desta opinião?
Sim, porque há uma pressão muito forte a nível europeu, que é uma forma de resolver estes problemas, de os bancos venderem parte destes créditos e venderem a entidades que os querem comprar a desconto. Mas o que se coloca aqui é que a venda a desconto destes créditos a entidades terceiras, por um lado, implica perdas e necessidades de capital adicionais nos bancos. Por outro lado, é obrigar os bancos a registarem e a sofrerem perdas imediatas quando estamos num percurso de melhoria de rendibilidade e os bancos precisam de melhorar a sua rendibilidade. Algum gradualismo na solução do problema parece-me aconselhável. Em segundo lugar, numa conjuntura em que a economia está a melhorar, ninguém melhor que os bancos conhecem a situação dos devedores que estão em dificuldade e as perspectivas de recuperação desses créditos. Estão em melhores condições de negociar e renegociar os termos de recuperação desses créditos do que uma entidade terceira que chega aqui e a única coisa que pensa é ir cobrar crédito. Uma solução que eu diria de revolução rápida como aquela que parece ser preconizada a nível europeu, acho que pode causar não só problemas nos próprios bancos mas acima de tudo pode agravar problemas económicos de empresas com consequências na sobrevivência de algumas empresas e na manutenção.

Disse que era uma solução europeia, mas é ou não mais penalizadora para os bancos portugueses do que, por exemplo, para bancos franceses?
Sem dúvida que é mais penalizador para Portugal porque nós a seguir à Grécia e ao Chipre somos o país com um peso mais significativo do crédito malparado. Temos uma dimensão relativa de crédito malparado que é muito significativa no contexto europeu.

É aí que surge novamente a teoria conspirativa de que a EBA ao fazer este tipo de pressão sobre os bancos portugueses mais não está a tentar do que senão implementar uma solução de subalternização da banca portuguesa em relação à banca espanhola?
Permita-me parafrasear um velho ditado: Não acredito em conspirações, mas que as há, há. Esse é um tipo de comentário que se ouve com muita frequência. Quero acreditar que as autoridades europeias se colocarão acima desse tipo de interesses mais imediatos, mas sem dúvida que o precipitar de certo tipo de soluções e o colocar a banca portuguesa numa situação de dificuldade, com certeza que criará um cenário que pode favorecer desse tipo de episódios de reforço de posições de bancos estrangeiros em Portugal.

Ver comentários
Saber mais Teixeira dos Santos EBA banca EuroBic Espanha malparado APB
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio