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"Só há boa banca se houver boa economia"

António Ramalho e Gonçalo Moura Martins defendem que o excesso de capital que os bancos portugueses têm hoje deve servir não só para aumentar a remuneração aos acionistas, mas também ser posto ao serviço da economia. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.

08 de Setembro de 2024 às 12:00
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"No final do ano vamos ter 5 mil milhões de euros de capital excedentário na banca portuguesa", o que representa "33 mil milhões de crédito potencial a ser concedido à economia, ou seja, dois PRR", sublinha António Ramalho no 15.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas.

Depois de no primeiro semestre os cinco maiores bancos terem apresentado lucros de mais de 2,6 mil milhões de euros, mais 31% do que no mesmo período de 2023, o gestor defende que esse excesso de capital "deve resolver os compromissos de cada instituição, satisfazer os seus acionistas e simultaneamente, e muito importante, aumentar o apetite de risco e as competências para gerirem um crédito muito mais ligado às empresas e à sociedade".

Também Gonçalo Moura Martins defende que os elevados resultados dos bancos "deverão traduzir-se num aumento do financiamento a empresas e famílias, e numa maior remuneração acionista".

Em seu entender, "a economia não vai lá sem o apoio dos bancos", mas estes também "não vão manter este nível de resultados se a economia não crescer". "Os bancos neste momento têm uma obrigação acrescida de estimular a economia, e não creio que estejam a fazê-lo", lamenta.

O gestor sublinha que o rácio de transformação dos depósitos em crédito está a diminuir. Ou seja, "os bancos têm mais dinheiro, mas estão a emprestar menos". Por essa razão, questiona se "a banca está mesmo ao serviço das famílias e da economia como deve estar".

A quase "estagnação" nas carteiras de crédito das instituições financeiras é também salientada por António Ramalho, que a explica com "a experiência do passado que leva a uma grande prudência", mas também com a regulação.

Em seu entender, "já está na altura de tirar proveito do excelente trabalho que foi feito". "A banca fez um trabalho significativo em termos de liquidez, capital e custos", o que permite agora "exigir desviar-se das regras de Frankfurt" e ganhar "o direito a ter as particularidades próprias do nosso sistema".

"Ganhámos esse direito nos últimos 10 anos", afirma, dando como exemplo a possibilidade de os bancos poderem conceder crédito à habitação de 100% do valor do imóvel desde que a taxa de esforço o permita ou alterarem, no caso das empresas, as maturidades dos empréstimos.

"Só há boa banca se houver boa economia", avisa o gestor.

Também Moura Martins alerta que "um cenário de uma banca muito rica e robusta e uma economia destroçada não vai existir, porque nesse dia os bancos caem tão rapidamente como a economia".

"A banca tem que mudar alguns procedimentos de forma a pegar neste stock de capital e pô-lo ao serviço da economia", afirma, defendendo que "tem de estar muito mais disponível".

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