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Ricciardi: “Salgado fazia tudo o que lhe apetecia e sobrava-lhe tempo”

José Maria Ricciardi, testemunha no julgamento do BES, explica como percebeu que as contas do grupo estavam a ser falsificadas, com o dinheiro a ser dirigido à holding da família.

José Maria Ricciardi
Pedro Zenkl
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"Ricardo Salgado fazia tudo o que he apetecia e sobrava-lhe tempo". A acusação foi feita por José Maria Ricciardi no terceiro dia do julgamento do megaprocesso do BES.

Aos juízes, o primo de Salgado que denunciou práticas irregulares no grupo descreveu a forma como se apercebeu da existência de falsificação de contas, nomeadamente na maneira como a ESI estava a ser usada para fazer aumentos de capital no grupo e ainda financiar a ES Control, a holding onde estavam as participações da família Espírito Santo.

Ricciardi explica que só começou tomar consciência de problemas graves no Grupo Espírito Santo entre 2013 e 2014. "Vi que as contas não eram reais", atirou. "Apercebi-me que o passivo era mais do dobro. O setor não financeiro era auditado e não tinha problemas. Nessa altura tentei começar a perceber para onde ia o dinheiro e percebi que ia para a Control e provavelmente para outras sociedades". Até António Ricciardi, seu pai e tio de Ricardo Salgado, perdeu: "O meu pai contribuiu para isso e perdeu tudo. Bem lhe disse para não contribuir", disse.

As transferências eram justificadas por Ricardo Salgado com a necessidade de aumentar o capital", sustentou perante o coletivo liderado por Helena Susano.

José Maria Ricciardi fez a fita do tempo desses momentos: "Foi descoberto que as contas não estavam certas em dezembro de 2013 mas só tive a prova em maio de 2014 com um documento que recebi e que reencaminhei no mesmo dia para o Banco de Portugal".

Os movimentos financeiros obedeciam a uma narrativa de que "tinha havido uma má consolidação e o sr ‘comissaire aux comptes’ se tinha enganado. Vivíamos nessa narrativa", disse.

Ricciardi sublinhou que não ficou em silêncio perante a suspeita: "Em outubro de 2013, fiz um documento assinado por seis membros do conselho superior [órgão que reunia os cinco ramos da família] em que propus a saída de Ricardo Salgado porque não havia controlo nem governance".

"Tudo o que soube transmiti às autoridades", insistiu.

O antigo banqueiro assegura, no entanto, que nada o move contra o primo: "Não sou amigo nem inimigo" de Ricardo Salgado, disse no início da sessão.

José Maria Ricciardi, primo de Ricardo Salgado, foi uma das figuras centrais nos últimos meses de vida do Banco Espírito Santo. Foi uma das vozes da família Espírito Santo que contestou a liderança do presidente executivo e chegou mesmo a denunciar, em carta dirigida ao Banco de Portugal, irregularidades na gestão do grupo.

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