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O que mudou no BPI com a gestão espanhola?

Com um accionista maioritário, o BPI ficou mais magro. Deixou áreas não centrais do negócio. Os clientes empresariais mostram-se satisfeitos, mas as comissões estão a subir. Assim é o BPI um ano depois de Forero ter sido eleito para substituir Fernando Ulrich.

O número de empresas cotadas no índice de referência nacional continua a diminuir. O BPI foi a mais recente empresa a juntar-se ao clube de empresas que permanecem cotadas em bolsa, mas com um reduzido capital disperso, na sequência da OPA do CaixaBank. Ainda na semana passada, a Sumol+Compal votou a favor da saída de bolsa.
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Empresas já sentem "bons ventos" na concessão de crédito

Os líderes empresariais reconhecem, um ano depois da alteração accionista e de gestão do BPI, que não se confirmaram os piores receios sobre a "espanholização", seja na concessão de crédito ou na mudança dos centros de decisão. A maior parte assegura que o comportamento do banco está na mesma linha (restritiva) dos restantes, e há até quem sinta agora maior "agressividade" no terreno.


Lembrando que o BPI "era daqueles bancos que só queriam a melhor carne da peça" e tinha um perfil "muito fechado e elitista", o presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário sente que "com esta entrada dos espanhóis se tornou um pouco mais popular no sentido de maior aproximação às empresas". "Está mais agressivo em termos comerciais", detalhou Vítor Poças, notando ainda que "a boa ou a má gestão dos bancos não tem tido a ver com a nacionalidade dos seus capitais ou da administração".


Em Paços de Ferreira, Rui Carneiro está mais dividido. Se, por um lado, "tendo cá tudo é sempre melhor", por outro, acha que "estar ligado a Espanha até terá mais vantagens do que desvantagens, em particular na solidez". Com 800 associados, sobretudo fabricantes de móveis e têxteis, o líder da associação empresarial local atesta que "não mudou nada [naquela] zona" e "os industriais não reportam mudanças na forma de trabalhar do banco".

Mais a norte também "não se confirmaram os medos" surgidos pela tomada de controlo do catalão CaixaBank e pela substituição de Fernando Ulrich por Pablo Forero na equipa executiva. "No nosso território não vemos diferença significativa. Não houve modificação nem fragilizou o mercado; o BPI está a ter um procedimento normal. E o que ambicionamos num banco é que seja normal", resumiu João Albuquerque, presidente da Associação Comercial e Industrial de Barcelos.


No final de Março, o BPI contava com uma carteira de crédito a empresas de 7,4 mil milhões de euros, mais 3,5% do que no final do ano, número que compara com os 6,9 mil milhões registados em Março do ano passado.

Crítico da "evolução mais ou menos homogénea da parte de todos os bancos" no sentido de "dar tudo às melhores empresas e de levantar dúvidas às restantes por critérios que não são totalmente coerentes, compreensíveis e adequados à economia real", os industriais de metalurgia e metalomecânica também andam descontentes com a banca.


Rafael Campos Pereira confirma que "cada vez mais empresas estão a ir financiar-se a Espanha". "Não me parece que o BPI ser espanhol esteja a prejudicar as empresas portuguesas, senão estas não iam recorrer a outros bancos espanhóis", conclui o porta-voz do sector mais exportador da economia nacional.
Comissões: Encargos dos clientes chegam a duplicar

O último ano foi marcado por um extenso conjunto de agravamentos nas comissões bancárias aplicadas pelo BPI aos seus clientes. As transferências, o crédito e os cheques foram os segmentos que assistiram ao maior número de alterações. E, em alguns casos, as comissões chegaram a duplicar, neste espaço de tempo.

Comparar o preçário do BPI de Abril do ano passado com o actual revela muitas diferenças. Foram várias as despesas agravadas. E é no capítulo dos cheques que se encontram os aumentos mais expressivos: o custo com a requisição de módulos de cheques não à ordem duplicou. Os módulos de cinco cheques passaram de um custo de 4,94 euros (com imposto do selo) para 10,4 euros, por exemplo.


Foram ainda agravadas as anuidades de cartões de débito e crédito, bem como algumas operações relacionadas com os financiamentos, como a comissão de avaliação no crédito à habitação. Em média, as despesas dos clientes aumentaram 55,8%, no último ano.


E mais novidades estão na calha. Isto porque o BPI já anunciou que, a partir de Junho, vai passar a cobrar as transferências para outras instituições realizadas nos canais digitais. A instituição era o único dos cinco grandes bancos que não aplicava esta comissão. "Esta é a prática generalizada da banca e o banco decidiu seguir essa prática, com um preçário muito competitivo", justificou fonte oficial do BPI ao Negócios.

A estratégia comercial da instituição ficou ainda marcada pela criação da Conta Valor, a conta-pacote, e por dois cortes do "spread" mínimo no crédito à habitação. Deixou de ter a margem mais elevada do mercado. Caiu de 1,95% para 1,5%.
Trabalhadores: Os programas que levaram a 613 saídas

Um dia depois de receber a aprovação dos accionistas, Pablo Forero pôde ler, no comunicado do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários, um elogio num tema complicado: o processo de rescisões e de reformas antecipadas contava com " com um conjunto de condições interessantes". O banco pagava 2,5 salários por ano trabalhado nas rescisões voluntárias, já que não dava direito a subsídio de desemprego.

Contaram-se 226 saídas por esta via, a juntar a 289 reformas antecipadas. Havia ainda 98 trabalhadores que já tinham acordado a rescisão, e que acabaram por ter direito às mesmas condições, incluindo a manutenção do acesso ao subsistema na área de saúde através do SAMS. No seu todo, o BPI inclui 613 saídas nestes programas. 


O banco sediado no Porto fechou o ano passado com 4.930 trabalhadores na unidade doméstica. No início deste ano, já saíram dos quadros mais 34 pessoas.


Pablo Forero concluiu o processo em que as saídas deverão proporcionar, segundo projecta o banco, uma redução anual de 37 milhões de euros nos custos a partir de 2019. É uma das áreas de sinergias estimadas aquando da oferta que deu o controlo do banco português ao CaixaBank.


O tema das rescisões acabou por acompanhar uma reorganização interna do banco, nomeadamente com diminuição das direcções.


Já este ano, um dos temas que preocuparam os sindicatos foi a proposta de aditamento aos contratos de trabalho para formalizar a autorização a gravações telefónicas em determinadas áreas do negócio. Não chegou a avançar, passando o assunto a ser remetido para um normativo interno. 
Participações: Banco deixa as bebidas, as comidas e as telecomunicações

Foi com o acordo com o BPI, já maioritariamente nas mãos do espanhol CaixaBank, que o grupo português Violas passou a controlar a Super Bock. Foi em Fevereiro que o banco, directamente e através do fundo de pensões dos seus trabalhadores, encaixou 233 milhões de euros pela venda da posição na Viacer, gerando um ganho de 60 milhões nos resultados do primeiro trimestre.


Mas a bebida não foi a única área de que o BPI saiu. Na alimentação, há outro exemplo: Ibersol. Foi já este ano que o banco liderado por Pablo Forero assumiu o papel de último grande banco português a deixar o capital da empresa que, em Portugal, tem os direitos sobre a marca Burger King e Telepizza.


A Nos foi outro exemplo: foi havendo uma progressiva venda de capital e, em Março, deixou de ter uma participação qualificada.


No ramo financeiro, o BPI está vendedor da sua posição na SIBS.


No banco, recusa-se a ideia de que haja uma orientação para a venda deste tipo de participações. Mas é certo que há um olhar mais atento para as oportunidades do mercado. E as vendas têm acontecido. 
Accionistas: Um novo dono que continua a pedir mais ao banco português

O CaixaBank tem-se mostrado satisfeito com o investimento que fez no BPI, mas continua a pedir mais. "Entre as prioridades para este ano encontra-se a de impulsionar o crescimento do negócio em Portugal", afirmou este mês Gonzalo Gortázar, o gestor que lidera o banco espanhol e que é também administrador da entidade portuguesa.


As metas para 2020 estão traçadas pelo BPI e, na assembleia-geral do banco com raiz catalã que se realizou no início de Abril, foram repetidas por Gortázar: "Alcançar uma rentabilidade superior a 10% e uma eficiência em torno de 50%." Afinal, na oferta concluída em Fevereiro do ano passado, saiu da Catalunha um esforço de 644,5 milhões de euros para controlar o BPI.


O CaixaBank ficou como grande accionista, com 84,5% do capital, mas a Allianz manteve a sua participação accionista, na ordem dos 8,4%.


A parceria com a seguradora manteve-se, mesmo com a nova liderança no banco português: o BPI detém 35% da Allianz Portugal, na área de seguros não vida, e 50% da Cosec, de seguros de crédito. A distribuição de seguros também não sofreu modificações.


E ainda há pequenos accionistas no BPI. Aliás, apesar de apenas 7% do capital estar disperso, há casas de investimento a seguir o desempenho do banco. A cotação, desde a data da assembleia-geral de 26 de Abril, tem sido num sentido: positiva. A valorização no último ano é superior a 10%. 
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