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Lesados na Venezuela reclamam centenas de milhões de perdas no BES

Os emigrantes ou luso-descendentes venezuelanos querem um tratamento idêntico aos portugueses nas soluções encontradas para clientes lesados do BES. Por isso, enviaram uma carta ao Governo português.

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16 de Março de 2015 às 10:29
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Um grupo de luso-descendentes na Venezuela enviou uma carta ao governo português queixando-se das avultadas perdas no Banco Espírito Santo, falam em valores na ordem das centenas de milhões de euros e ameaçam retirar capitais dos bancos portugueses.

 

Em declarações à Agência Lusa, em Caracas, vários lesados do BES manifestaram a sua preocupação com o que lhes aconteceu e prometem não descansar enquanto não obtiverem respostas, nomeadamente do Banco de Portugal.

 

Numa carta enviada ao governo português, através do embaixador em Caracas, os lesados reclamam ser agora "o momento de fazerem ouvir a sua voz, com o objectivo de serem incluídos no grupo de prioridade máxima a que deverá corresponder o reembolso total dos valores negociados".

 

No documento a que a Lusa teve acesso, os lusodescendentes dizem esperar que "todos os argumentos utilizados pelos clientes em Portugal sejam também válidos para os da emigração, nomeadamente a venda de produtos sem identificar bem os riscos, a presunção de que o risco era Banco e não Grupo (nas vendas os funcionários diziam que era tudo a mesma coisa)".

 

"Os emigrantes, ao longo dos anos, tiveram e têm um papel muito importante no desenvolvimento do país e sempre confiaram nas autoridades portuguesas e, por isso, enviaram as suas poupanças de toda uma vida para Portugal", referem ainda os lesados do BES na Venezuela.

 

Em declarações à Lusa, em Caracas, Osvaldo Freitas, industrial do ramo alimentar, lamenta que tenha confiado no banco quando lhe propôs produtos financeiros e agora quando vai ao Novo Banco em Caracas ninguém tem respostas para lhe dar.

 

Osvaldo Freitas acha que a solução deste caso "está nas mãos do governador do Banco de Portugal", por ter decidido a divisão entre o "banco bom" e o "banco mau" mas também lembra as declarações do Presidente da República que "deu confiança a todos os emigrantes e disse que o BES era dos melhores bancos da Europa".

 

"Se não nos resolverem este problema, não confiamos mais em Portugal, retiramos o nosso dinheiro dos bancos portugueses", afirma, lembrando que podem estar em causa algumas centenas de milhões de euros.

 

José Luís Ferreira, importador e presidente honorário da Câmara de Comércio, diz ter contactos regulares com os cerca de 1.500 associados, garantindo que serão alguns milhares os lesados do BES na Venezuela.

 

"O BES é uma instituição muito reconhecida na Venezuela, tinha boa clientela, um banco muito fiável, hoje todos lamentamos, porque foram muitos anos de trabalho", diz José Luís Ferreira assegurando que as perdas podem estar acima dos cem milhões de euros.

 

A Venezuela e o Novo Banco

 

O Novo Banco, herdeiro do BES, defende que a sucursal venezuelana, inaugurada há cerca de três anos, tem vindo a "centrar a sua actividade nos segmentos da comunidade portuguesa residente no país e das grandes empresas e instituições locais" – o que já era dito nos últimos resultados do BES, em Julho de 2014. 

 

"O ano de 2014 foi também fortemente influenciado pelos acontecimentos associados à medida de resolução, bem como da conjuntura económica adversa do país com níveis de hiperinflação, tendo a sucursal encerrado o exercício com um activo de 307 milhões de euros", explica o Novo Banco, sem identificar a situação líquida da instituição. 

 

Nos resultados do Novo Banco, relativos a 2014, não é indicado que o desenvolvimento da actividade se baseia, "fundamentalmente" na captação de depósitos, como era assinalado no documento dos resultados do primeiro semestre do BES, em Julho de 2014.

 

Para os prejuízos históricos do BES dos primeiros seis meses do ano passado contaram cartas-conforto que garantiram a sociedades venezuelanas com dívida da Espírito Santo Internacional o seu reembolso sem qualquer garantia por parte desta sociedade ao banco. Além disso, a sua "aprovação não havia sido realizada de acordo com os procedimentos internos instituídos no banco". 

 

Muitos clientes emigrantes do BES acabaram por financiar o Grupo Espírito Santo através da subscrição de títulos de dívida incluídos em veículos criados pelo banco - os chamados SPE como a Poupança Plus, Top Renda e Euroaforro. Estes clientes terão a sua solução prestes a ser apresentada pelo Novo Banco.

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