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Famílias de menos recursos recorrem aos créditos pessoal e de habitação para comprar casa

Contratação simultânea de créditos ao consumo e à habitação tem sido recurso de famílias que compram habitação com menos verbas disponíveis, o que preocupa a Deco. Banco de Portugal diz que a prática ainda é reduzida.

Há cerca de cinco milhões de pessoas que vivem em imóveis em propriedade horizontal e um número indeterminado de empresas de gestão de condomínios.
08 de Agosto de 2022 às 12:20
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Há famílias que estão a recorrer em simultâneo a crédito de habitação e crédito pessoal por falta de verbas para dar entrada na compra de uma habitação. Desta forma, o comprador consegue financiamento a 100% do valor de aquisição, mas com custos mais elevados que podem ser agravados com a subida das taxas de juro.   


O Banco de Portugal (BdP) admite o cenário de duplos créditos e apesar de não revelar dados diz que tem dimensão ainda reduzida. Em resposta ao Público, o supervisor bancário diz que "a contratação simultânea de crédito ao consumo e crédito à habitação, seja na mesma instituição de crédito, seja recorrendo a instituições de crédito diferentes, tem, de acordo com os dados recolhidos até à data, reduzida materialidade, não se tendo observado uma alteração estrutural desde a entrada em vigor da recomendação [macroprudencial]". O supervisor não revelou, contudo, a dimensão dos dados recolhidos.


Mas Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Apoio Financeiro, da Deco, associação de defesa do consumidor, diz ao Público estar preocupada com o seu impacto no futuro. Isto porque, diz, "o recurso a esta solução é feito essencialmente por famílias com menores rendimentos, nomeadamente jovens a comprar a primeira habitação". A responsável lembra que o crédito ao consumo representa maior risco para as famílias, desde logo porque "as taxas de juro são muito mais elevadas" e, como a duração destes empréstimos é mais curta (no limite sete anos), acaba por representar uma prestação mensal elevada, a acumular com a do crédito à habitação.


A TAEG, a taxa anual de encargos efetiva global, que reflete todos os custos associados a este tipo de créditos, pode superar os 10%, sendo o limite fixado pelo BdP para o terceiro trimestre, ou seja, até setembro, de 13%.


E as situações que chegam à Deco mostram várias práticas: "Temos conhecimento de, aquando da visita ao imóvel para compra, ser o próprio vendedor, que também acaba por ser intermediário de crédito, a propor uma situação semelhante [o recurso a duplo crédito], mas também de situações de pessoas que tentaram fazer isso no próprio banco onde estavam a pedir o crédito à habitação e não conseguiram. E depois verificamos outras situações em que o crédito pessoal é contratado na mesma data ou muito próximo da escritura de formalização do crédito à habitação", explica ao Público a responsável.


Natália Nunes dá, ao Público, o exemplo de uma simulação, meramente ilustrativa, para a aquisição de um imóvel de 150 mil euros, em que o banco apenas empresta 90% (135 mil euros) e o particular precisa de outro crédito para os restantes 15 mil euros. A prestação do primeiro, tendo por base o atual nível da Euribor, corresponde a 530 euros, e a do crédito pessoal a cerca de 250 euros, durante 84 meses (sete anos), o que eleva o valor das duas para 780 euros mensais.

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