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Ex-administrador do Banco de Portugal cria start-up de negócio de facturas
António Varela, que saiu do Banco de Portugal em 2016, fundou a Netinvoice. A start-up está na área do factoring, mas dirige-se à compra de facturas de pequenas empresas. O objectivo é colocá-las em investidores institucionais. As comissões são a fonte do negócio.
O antigo administrador do Banco de Portugal, António Varela, de onde saiu em 2016, virou-se para o mundo das start-ups. A Netinvoice é a sociedade por si fundada e que pretende satisfazer necessidades de tesouraria de empresas de pequena dimensão, que não consigam essa resposta junto de bancos e financeiras.
A Netinvoice é, na prática, uma plataforma que vai unir vendedores de facturas (que precisam de compor a tesouraria e não querem esperar pelo reembolso) e compradores (investidores), numa correspondência que, considera António Varela, o "factoring" bancário não possibilita actualmente, dado tratar-se de pequenas empresas.
A empresa fundada, detida em 50% e presidida por Varela, que passou pelo UBS, BCP e Banif, tem como objecto a intermediação de facturas. Há uma empresa que submete a sua factura na plataforma da start-up. A factura é sobre uma outra companhia sua cliente, e o objectivo é receber aquele dinheiro em adiantado, sem ter de esperar. A Netinvoice verifica a factura e analisa o seu risco, com base no qual é definido um preço mínimo pelo qual aquela factura pode ser adquirida. A empresa vendedora pode aceitar ou não. A plataforma coloca-a, caso tenha havido aceitação, disponível para licitações de compradores. Havendo transacção, a Netinvoice paga à empresa, depois receberá o dinheiro directamente do cliente desta, e vai pagar ao comprador.
Pelo meio, a Netinvoice vai cobrar comissões aos vendedores das facturas e também aos compradores (a uma comissão média entre 0,8% e 1,2%, antecipam os seus responsáveis). É esta a fonte do seu negócio.
No lado de empresas vendedoras, o objectivo da Netinvoice é colocar-se junto de pequenas empresas com receitas entre 1 e 100 milhões de euros, e que façam "vendas significativas a crédito". Na prática, aquelas em que o pagamento da transacção não é imediato. E isto também em facturas em que os prazos de vencimento sejam superiores a 30 dias. Estas são sociedades com menor capacidade de obterem soluções de tesouraria com o "factoring" de instituições financeiras.
Já o lado dos compradores é de investidores institucionais, como bancos ou fundos de investidores. O público em geral (clientes de retalho) está impossibilitado de adquirir facturas.
Banco CTT assegura facturas se não houver comprador
O Banco CTT é o parceiro principal do negócio. Na prática, o banco já elencou um conjunto de 14.700 empresas sobre as quais não há grande risco, pelo que as facturas passadas sobre essas empresas estão já pré-aprovadas. Em causa estão as empresas clientes das vendedoras das facturas e não as vendedoras. E sobre elas há uma espécie de "tomada firme" pelo banco, cujo montante não foi especificado, sobre facturas passadas por pequenas empresas sobre grandes empresas, as consideradas menos arriscadas. A "tomada firme" serve para o caso de os leilões na plataforma não encontrarem comprador.
Segundo António Varela, há já empresas neste ramo na Europa, mas o gestor que também foi administrador da Cimpor considera que se diferencia por não haver um valor mínimo na factura a ser transferida. De qualquer forma, para já, o negócio é apenas para facturas passadas em Portugal. A expansão internacional pode ocorrer, mas não agora. Para já, avança um roteiro pelo país, para dar-se a conhecer a empresários e associações.
A start-up, que também estará pela Web Summit entre 5 e 8 de Novembro, é detida, em 50%, por António Varela. O restante capital está nas mãos da Expand Capital, sociedade detida por antigos altos responsáveis do Banif, banco por onde António Varela passou, como Nuno Roquette Teixeira. Os gestores da Netinvoice (a equipa executiva será presidida por João Castro Pinheiro) podem vir a tornar-se accionistas através de opções de compra dependentes do desempenho. O investimento inicial da start-up, fundada em Julho de 2017 mas que só agora avança com maior dimensão, é de 1 milhão de euros. "Dentro de dois três anos", António Varela espera ter já rentabilidade sobre o dinheiro investido.