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Defesa de João Rendeiro quer suscitar "questões constitucionais" em tribunal
A defesa de João Rendeiro vai levantar "questões constitucionais" para contrapor no processo do pedido de extradição, que volta esta quinta-feira a ser discutido no Tribunal de Verulam, com a presença do antigo presidente do Banco Privado Português (BPP).
27 de Janeiro de 2022 às 06:54
"Vou levantar várias questões constitucionais. Os meus argumentos serão longos", afirmou à Lusa a advogada June Marks, assegurando que a sua intervenção irá recorrer a jurisprudência em casos desta natureza e também ao nível da validação de documentos, em alusão à fita vermelha e verde que selava o conjunto de documentos em português enviados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e que se descobriu na última sessão estar partida.
Sublinhando que "não é necessário" solicitar um inquérito sobre uma eventual violação da documentação selada, a mandatária do ex-banqueiro realçou ainda estar "muito confiante" sobre a força das questões constitucionais que irá suscitar na audiência e que terão a sustentação e "autoridade vinculativa" do Tribunal Constitucional da África do Sul. "Nisto ele tem todos os direitos constitucionais de qualquer pessoa na África do Sul", referiu.
A sessão desta quinta-feira sobre o processo de extradição de João Rendeiro, recebido na audiência anterior pelo Tribunal de Verulam, vai analisar a questão do lacre rompido nos documentos enviados através de via diplomática por Portugal.
O magistrado Johan Van Rooyen, que preside aos trabalhos, aceitou os documentos no passado dia 21, dizendo que seriam 'guardados a sete chaves' pela National Prosecuting Authority (NPA, Ministério Público sul-africano) e que na sessão de hoje seria analisada a questão.
Nessa última sessão, o procurador sul-africano Naveen Sewparsat anunciou que iria fazer um pedido ao tribunal para devolver os documentos a Portugal, por forma a que sejam "verificados e selados novamente" e depois "reenviados por via diplomática". Contudo, tal ainda não aconteceu.
"Os documentos ainda não foram devolvidos. A NPA quer devolvê-los e a advogada de João Rendeiro vai argumentar que os documentos não devem ser devolvidos", confirmou à Lusa a porta-voz da NPA, Natasha Ramkisson-Kara, acrescentando: "É por isso que o assunto volta ao tribunal".
Detido em 11 de dezembro na cidade de Durban, após quase três meses fugido à justiça portuguesa, João Rendeiro foi, então, presente ao juiz Rajesh Parshotam, do tribunal de Verulam, que lhe decretou no dia 17 de dezembro a medida de coação mais gravosa, colocando-o em prisão preventiva no estabelecimento prisional de Westville.
O ex-banqueiro foi condenado em três processos distintos relacionados com o colapso do BPP, tendo o tribunal dado como provado que retirou do banco 13,61 milhões de euros. Das três condenações, apenas uma já transitou em julgado e não admite mais recursos, com João Rendeiro a ter de cumprir uma pena de prisão efetiva de cinco anos e oito meses.
João Rendeiro foi ainda condenado a 10 anos de prisão num segundo processo e a mais três anos e seis meses num terceiro processo, sendo que estas duas sentenças ainda não transitaram em julgado.
O colapso do BPP, em 2010, lesou milhares de clientes e causou perdas de centenas de milhões de euros ao Estado.