Notícia
BES concedia crédito sem analisar risco, conclui Deloitte
A Assembleia da República já divulgou o relatório da auditoria especial realizada pela Deloitte, que analisou os atos de gestão no BES e no Novo Banco entre 2000 e 2018.
08 de Setembro de 2020 às 12:29
O Banco Espírito Santo (BES) fechou operações de crédito sem analisar o risco no momento da concessão, sem ter informação suficiente acerca dos devedores e sem exigir garantias. Esta é uma das principais conclusões da Deloitte, no âmbito da auditoria especial realizada aos atos de gestão praticados no BES e no Novo Banco, cujo relatório foi publicado esta terça-feira, 8 de setembro, pela Assembleia da República.
"O modelo de governance implementado no BES durante o período aplicável da nossa análise evidenciava um conjunto de fragilidades ao nível do processo de concessão e acompanhamento de operações de crédito", começa por referir o relatório da Deloitte, nas conclusões retiradas sobre as práticas de concessão de crédito levadas a cabo quando Ricardo Salgado liderava o BES. "Essas práticas resultavam, entre outras, em insuficiências na documentação acerca dos devedores, risco das operações e respetivas garantias", detalha.
A análise da Deloitte incidiu sobre os atos de gestão praticados entre 2000 e 2018, no BES e no Novo Banco. A auditora analisou 283 operações, das quais 201 foram operações de crédito, 26 foram operações relativas a subsidiárias e associadas e outras 56 relacionadas com outros ativos. Estas operações acabaram por gerar perdas de 4.042 milhões de euros, já no Novo Banco.
O relatório divulgado esta terça-feira confirma, agora, as falhas na gestão do BES que justificam parte destas perdas. "A título de exemplo, foram identificadas situações de processos de concessão de crédito sem análises de risco no momento da concessão de crédito ou com limitações relevantes ao nível da informação financeira, orgânica e operacional dos devedores, inexistência de avaliações dos colaterais imobiliários e mobiliários, assim como, no âmbito do processo de acompanhamento, a inexistência de análises de risco regulares dos devedores e exceções ao nível da reavaliação regular dos ativos recebidos como colateral", aponta a Deloitte.
Em concreto, conclui a consultora, o BES concedeu "um conjunto de créditos de grande dimensão, em alguns casos sem que fosse evidente, com base na informação disponibilizada, a capacidade de reembolso por parte do devedor". Nestas mesmas operações, por vezes, não eram apresentados colaterais ou a concessão era realizada com base em colaterais "que apresentavam volatilidade ou incertezas associadas à respetiva valorização".
A consequência destas práticas foi clara: "Num conjunto de situações, os devedores entraram em incumprimento, tendo gerado perdas de montante significativo registadas já na esfera do Novo Banco".
Novo Banco melhorou processo de concessão
Ainda quanto aos modelos de concessão de crédito, a Deloitte revela qual era o processo levado a cabo no BES e conclui que, logo em 2014, o Novo Banco começou a implementar várias alterações que contribuíram para melhorar estes processos.
Como exemplo, a auditora aponta que, no BES, "não era obrigatória a preparação de parecer prévio por um órgão independente da concessão para aprovação de operações de crédito". O banco definia apenas que era necessário realizar análises de risco anuais, relativas à situação financeira do devedor, mas não existia a obrigatoriedade de realização de uma análise de risco específica ou de um parecer específico sobre cada operação.
Ao mesmo tempo, até 2013, a aprovação das propostas de crédito "tinha como nível hierárquico mais elevado o Conselho Diário de Crédito, sendo apenas necessária a presença de um membro permanente para a aprovação de qualquer operação de crédito". E era "prática" as aprovações serem realizadas apenas por um membro, "independentemente do montante". Também não era requerida a participação do administrador com o pelouro de risco neste conselho.
Foi no período após a resolução do BES, nota a Deloitte, que estes processos começaram a alterar-se. "O Novo Banco implementou de forma gradual um conjunto de alterações nos seus normativos e procedimentos internos que contribuíram para a melhoria dos processos nesta matéria".
Em causa estão fatores como a criação do departamento de crédito (um órgão independente da área comercial que passou a fazer parte do processo de decisão de crédito no Novo Banco), bem como a obrigatoriedade de emissão de um parecer técnico pelo departamento de risco ou rating para as operações de maior dimensão ou risco.
(Notícia atualizada pela última vez às 12h55 com mais informação)
"O modelo de governance implementado no BES durante o período aplicável da nossa análise evidenciava um conjunto de fragilidades ao nível do processo de concessão e acompanhamento de operações de crédito", começa por referir o relatório da Deloitte, nas conclusões retiradas sobre as práticas de concessão de crédito levadas a cabo quando Ricardo Salgado liderava o BES. "Essas práticas resultavam, entre outras, em insuficiências na documentação acerca dos devedores, risco das operações e respetivas garantias", detalha.
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A análise da Deloitte incidiu sobre os atos de gestão praticados entre 2000 e 2018, no BES e no Novo Banco. A auditora analisou 283 operações, das quais 201 foram operações de crédito, 26 foram operações relativas a subsidiárias e associadas e outras 56 relacionadas com outros ativos. Estas operações acabaram por gerar perdas de 4.042 milhões de euros, já no Novo Banco.
O relatório divulgado esta terça-feira confirma, agora, as falhas na gestão do BES que justificam parte destas perdas. "A título de exemplo, foram identificadas situações de processos de concessão de crédito sem análises de risco no momento da concessão de crédito ou com limitações relevantes ao nível da informação financeira, orgânica e operacional dos devedores, inexistência de avaliações dos colaterais imobiliários e mobiliários, assim como, no âmbito do processo de acompanhamento, a inexistência de análises de risco regulares dos devedores e exceções ao nível da reavaliação regular dos ativos recebidos como colateral", aponta a Deloitte.
Em concreto, conclui a consultora, o BES concedeu "um conjunto de créditos de grande dimensão, em alguns casos sem que fosse evidente, com base na informação disponibilizada, a capacidade de reembolso por parte do devedor". Nestas mesmas operações, por vezes, não eram apresentados colaterais ou a concessão era realizada com base em colaterais "que apresentavam volatilidade ou incertezas associadas à respetiva valorização".
A consequência destas práticas foi clara: "Num conjunto de situações, os devedores entraram em incumprimento, tendo gerado perdas de montante significativo registadas já na esfera do Novo Banco".
Novo Banco melhorou processo de concessão
Ainda quanto aos modelos de concessão de crédito, a Deloitte revela qual era o processo levado a cabo no BES e conclui que, logo em 2014, o Novo Banco começou a implementar várias alterações que contribuíram para melhorar estes processos.
Como exemplo, a auditora aponta que, no BES, "não era obrigatória a preparação de parecer prévio por um órgão independente da concessão para aprovação de operações de crédito". O banco definia apenas que era necessário realizar análises de risco anuais, relativas à situação financeira do devedor, mas não existia a obrigatoriedade de realização de uma análise de risco específica ou de um parecer específico sobre cada operação.
Ao mesmo tempo, até 2013, a aprovação das propostas de crédito "tinha como nível hierárquico mais elevado o Conselho Diário de Crédito, sendo apenas necessária a presença de um membro permanente para a aprovação de qualquer operação de crédito". E era "prática" as aprovações serem realizadas apenas por um membro, "independentemente do montante". Também não era requerida a participação do administrador com o pelouro de risco neste conselho.
Foi no período após a resolução do BES, nota a Deloitte, que estes processos começaram a alterar-se. "O Novo Banco implementou de forma gradual um conjunto de alterações nos seus normativos e procedimentos internos que contribuíram para a melhoria dos processos nesta matéria".
Em causa estão fatores como a criação do departamento de crédito (um órgão independente da área comercial que passou a fazer parte do processo de decisão de crédito no Novo Banco), bem como a obrigatoriedade de emissão de um parecer técnico pelo departamento de risco ou rating para as operações de maior dimensão ou risco.
(Notícia atualizada pela última vez às 12h55 com mais informação)