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No mundo do jet set de Ghosn, fortuna de 120 milhões pode ser irrisória
Para a maioria das pessoas, a fortuna de Carlos Ghosn representa um nível quase inconcebível de riqueza, e as alegações de que o gestor estava a tentar aumentá-la podem parecer estranhas. Mas, no reino dos executivos que são superestrelas, uma fortuna de nove dígitos pode parecer uma ninharia.
O património líquido de Carlos Ghosn é pequeno se for comparado com o de alguns colegas. O falecido Sergio Marchionne tinha ações da Fiat Chrysler Automobiles, da Ferrari e da CNH Industrial que valiam ao todo 486 milhões de dólares. O salário de Ghosn era menor do que o dos gestores da Ford Motor e da Volkswagen.
A discrepância é ainda maior fora do mundo automóvel. 11 executivos de empresas de capital aberto dos EUA receberam mais de 100 milhões de dólares de remuneração em 2017, de acordo com o Bloomberg Pay Index. E a fortuna de Ghosn é ofuscada pela de executivos de longa data do setor bancário, como Jamie Dimon (1,5 mil milhões de dólares), do JPMorgan Chase, e Lloyd Blankfein( 1,1 mil milhões de dólares), do Goldman Sachs Group.
Aviões particulares
Para Ghosn, figura com presença no Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, estes são os executivos com quem andava e com quem se comparava. Ghosn gostava de quantificar o sucesso. "Estou atento à tabela de desempenho", afirmou a um grupo de formandos de Administração tailandeses, quando lhe pediram que explicasse a sua ascensão.
E 120 milhões de dólares têm um limite no exclusivo mundinho de aviões particulares e casas caras que Ghosn habitava - particularmente para um divorciado que deu uma festa inspirada em Maria Antonieta no Palácio de Versalhes para celebrar o seu segundo casamento.
A Nissan forneceu a Ghosn e à sua família o uso de imóveis em sítios como Brasil e França. Comprar as cinco casas identificadas pela Bloomberg custaria cerca de 25 milhões de dólares. Se Ghosn tivesse que usar um avião próprio, em vez do jato da Nissan, um Gulfstream G650 usado custaria entre 40 milhões e 60 milhões de dólares, de acordo com Tim Barber, da Duncan Aviation, supondo que "não quisesse desembolsar 70 milhões de dólares para comprar um novo".
Diferença de riqueza
Estas despesas ressaltam a crescente disparidade de riqueza entre os ricos e os realmente ricos, um reino raramente visto, onde o nível de serviço de elite em alguns bancos privados atualmente é reservado para quem tem mil milhões de dólares. Esta desconexão - apenas vivida por uma fração minúscula da população - oferece uma explicação para porque Ghosn procurou elevar o seu salário e se recompensar com remunerações elevadas após a reforma.
Ghosn elaborou um plano de incentivo de 10 mil milhões de ienes (80 milhões de euros) para a administração executiva, sendo que 90% do valor estava destinado a si próprio, revelaram pessoas com conhecimento direto da investigação. Além disso, havia um plano vinculado ao preço das ações de 4,7 mil milhões de ienes, chamado de direito de valorização das ações, que Ghosn planeava receber depois da reforma. E os promotores alegam que não declarou oito anos de pagamento diferido, que também chegou a cerca de 9 mil milhões de ienes. O plano de incentivo não foi adotado e os direitos de valorização das ações teriam expirado em março de 2019, de acordo com outras pessoas com conhecimento do caso de Ghosn.
Ghosn negou ter cometido irregularidades em relação a estes programas de compensação, que poderiam ter aumentado a sua fortuna para mais de 200 milhões de dólares, segundo cálculos da Bloomberg.
Tamanhas riquezas materiais são agora uma perspetiva distante para o executivo em apuros. Após a sua aparição no tribunal, Ghosn regressou à prisão de Tóquio, onde os seus dias são interrompidos por 30 minutos de exercícios obrigatórios e três refeições.
(Texto original: In Ghosn's Jet-Set World, a $120 Million Fortune Can Be Peanuts)