Notícia
Sogrape compra empresa de distribuição no Reino Unido
O maior grupo português de vinhos tomou uma participação de 25% na Liberty Wines, especializada na restauração de topo, que absorve a estrutura que tinha criado há seis anos e passa a distribuir todas as marcas no mercado britânico.
A Sogrape acaba de entrar no capital da Liberty Wines (LW), uma das principais distribuidoras britânicas, através da compra de uma participação de 25%, adiantou ao Negócios o presidente executivo, Fernando Cunha Guedes. O Reino Unido, o segundo maior importador mundial de vinhos, é o quarto mercado mais relevante para a principal empresa portuguesa de vinhos, valendo 7% das vendas globais de 214 milhões de euros em 2016.
Além da aquisição de 25%, por valores não divulgados pelas partes, o "acordo de parceria estratégica" fechado na semana passada prevê a passagem, em exclusivo, de todo o portefólio da Sogrape – incluindo os vinhos que produz em Espanha, Argentina, Chile e Nova Zelândia – para a alçada desta empresa. Criada há duas décadas, no ano passado facturou 53 milhões de libras (62 milhões de euros) e continuará a ser gerida pelo fundador David Gleave.
"Maximizar as sinergias através de um maior controlo da cadeia de valor" foi o motivo que levou a Sogrape a avançar com este negócio, que lhe assegura a posição de "único sócio estratégico em termos de produtores de vinho" na LW. As restantes quotas estão repartidas pelo fundador, pela sua família e alguns accionistas individuais.
Com este reforço na distribuição, o grupo familiar com sede em Gaia procura manter a posição do Mateus Rosé (o mais vendido) no Reino Unido e impulsionar outras marcas, como a Casa Ferreirinha e a Sandeman (vinho do Porto). "Os vinhos portugueses estão a afirmar-se nos mercados internacionais. A qualidade ninguém põe em causa, a notoriedade cresce dia após dia, mas nem sempre é fácil encontrar uma rede de distribuição que permita chegar com êxito ao consumidor", resumiu o gestor.
Seguir a estratégia
O líder da Sogrape salvaguardou que a operação, concluída sem receios na semana em que o Brexit foi oficializado, "é consequência da execução de uma estratégia definida há dois anos" e que "não há uma causa-efeito" por estar "próxima de zero" a dívida líquida que em 2015 rondava os 15 milhões de euros. "Esta operação vinha a ser desenvolvida há meses, mas é verdade que coincidiu com uma fase boa da nossa vida, com aumentos de venda e da rentabilidade e de redução de dívida", respondeu.
Das 35 marcas detidas pela Sogrape, cinco surgem em destaque no plano estratégico por representarem mais de 50% das vendas: Mateus, Casa Ferreirinha, Gazela, Sandeman e a espanhola Lan. E seguindo a expressão dos melhores destinos em termos consolidados – o maior mercado é o português, que vale 25% do total e cresceu 11% em 2016; seguindo-se os EUA, Espanha e Reino Unido –, o grupo apontou-os também como focos de actuação nesse plano desenhado há dois anos.
"Para todos eles fixámos como objectivo ter uma posição forte em termos de distribuição", recua Cunha Guedes, notando que essa meta fica agora cumprida com a aquisição da LW.
Presidente executivo da Sogrape
Brexit? É nas fases difíceis que se fazem bons negócios
O líder da Sogrape reconhece a indefinição, mas afirma que são os "actos de coragem" que diferenciam as empresas.
Fecharam este negócio na semana em que o Reino Unido iniciou formalmente a saída da União Europeia. Que influência teve o Brexit na decisão?
Foi um factor que tivemos em conta no momento de decidirmos avançar. O Brexit traz algumas incertezas, ninguém sabe o que vai acontecer e que tipos de acordos serão feitos com a União Europeia. Mas continuará a ser um mercado relevante, no qual os vinhos europeus representam 55% das importações, e é também a verdadeira montra mundial em termos vitivinícolas. Como a nossa estratégia é de longo prazo, estamos tranquilos quanto à opção tomada.
É um acto de ousadia, que está no nosso perfil. Faz parte do nosso ADN. Gestão também é isto: analisar o enquadramento actual e ter alguns actos de coragem que depois nos fazem diferentes no futuro. Perguntaram-nos o mesmo quando comprámos a [produtora espanhola] Lan em 2012, no pico de crise em Portugal e Espanha. Todos nos recomendavam prudência e hoje estamos convictos de que foi um passo certo. É nestes momentos difíceis que se podem fazer boas operações.
Por outro lado, a Sogrape pode ficar mais protegida das atribulações no mercado britânico?
O principal objectivo é estratégico e não de protecção. Apesar de surgir num contexto mais complicado, a operação não é para defender o que já tínhamos, é para fortalecer a posição no mercado.