Notícia
Campanha de cereais de outono/inverno, como trigo, foi a pior de sempre
Face aos mínimos históricos em termos de produção, INE alerta que produtores de cereais de sequeiro que se candidatam no âmbito do PEPAC a pagamentos associados poderão, na sua maioria, não ser elegíveis, em virtude de não cumprirem as produtividades mínimas exigidas.
É oficial. A campanha de cereais de outono/inverno, grupo que inclui trigo (duro e mole), centeio, cevada, aveia e triticale, foi "a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas", com a campanha "muito marcada pela seca severa" a resultar "em decréscimos de área e de produtividade".
"Os cereais semeados tardiamente após as chuvas de dezembro e janeiro foram muito penalizados, com emergências e desenvolvimento vegetativos fracos. A ausência de precipitação na primavera e as elevadas temperaturas prejudicaram muito o desenvolvimento vegetativo dos cereais praganosos de sequeiro, promovendo o seu adiantamento e o espigamento precoce", explica o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Neste âmbito, o INE alerta, aliás, que "os produtores de cereais de sequeiro que se candidatam no âmbito do PEPAC [Plano Estratégico da Política de Agrícola Comum (PEPAC)] aos pagamentos associados poderão, na sua maioria, não ser elegíveis, em virtude de não cumprirem as produtividades mínimas exigidas no âmbito da medida".
Em detalhe, à luz das previsões agrícolas, em 31 de julho, publicadas esta sexta-feira, a produção de trigo mole (usado para fabrico de pão e farinhas) é estimada, para este ano, em 28 mil toneladas (contra 47 mil em 2022), a de trigo duro em 8 mil toneladas (contra 13 em 2022), a de triticale em 10 mil toneladas (contra 18 mil toneladas), a de centeio em 12 mil toneladas (contra 15 mil toneladas), a de cevada em 15 mil toneladas (contra 27 mil toneladas) e a de aveia em 13 mil toneladas (contra 21 mil toneladas em 2022).
Mas Portugal não foi caso único. "A seca que penalizou extraordinariamente a produção nacional de cereais de outono/inverno também afetou a produção noutras regiões, nomeadamente na Europa do Sul, onde se produz trigo duro, com a diminuição da oferta a pressionar o preço desta 'commodity' nos mercados internacionais. Por outro lado, o trigo mole, cujo preço disparou com o início da guerra, tem registado uma tendência de descida", assinala o INE.
A produção de batata de sequeiro, cuja colheita está praticamente concluída, também decresceu para níveis historicamente baixos, mas o cenário não é homogéneo no país. Se, por um lado, no Norte observa-se uma "maior quantidade de tubérculos por planta e maiores calibres" face ao ano anterior, em contrapartida, no Oeste, assiste-se a "uma redução de calibre provocada pela falta de água e pelo encurtamento do ciclo, devendo assim a produção global decrescer 15% e 32%, face a 2022 e à média do último quinquénio, respetivamente". No caso da batata de regadio o ano apresenta-se "normal".
O mesmo não se pode dizer no caso do tomate para a indústria, cuja colheita se iniciou na terceira semana de julho. Embora as searas tenham um "normal desenvolvimento, sem problema fitossanitários a destacar", "a onda de calor de junho provocou algum aborto na floração, pelo que a produtividade, embora superior à alcançada na campanha anterior (+5%), deverá ser inferior à da média do último quinquénio (-4%).
Já a instalação das culturas de primavera/verão, em que se inclui o milho ou o sorgo, "decorreu com normalidade", com a campanha de regadio assegurada em 60 albufeiras hidroagrícolas, mantendo-se cinco com restrições de utilização de água de rega desde o ano passado. "De um modo geral, as culturas de primavera/verão apresentam um regular desenvolvimento, embora no caso do tomate para a indústria se antevejam produtividades inferiores ao normal", refere o INE.
Assim, de acordo com as previsões agrícolas a 31 de julho, a área de milho de regadio deverá ser semelhante à semeada em 2022, "encontrando-se a cultura maioritariamente no estado de enchimento de grão, com um bom desenvolvimento vegetativo e sem problemas fitossanitários relevantes".
A do milho de sequeiro deverá, por outro lado, decrescer 5%. "As sementeiras de março e início de abril beneficiaram das chuvas ocorridas em estágios fenológicos cruciais para a formação da espiga mas, em contrapartida, nas sementeiras mais tardias ou efetuadas em terrenos com menor capacidade de retenção da humidade, a cultura evidencia sinais de stress hídrico, uma vez que os chuviscos não foram suficientes para suprir as necessidades de água da cultura", explica o INE.
A cultura do arroz, por seu turno, embora com a presença de infestantes, nomeadamente a milhã, apresenta "um bom desenvolvimento vegetativo", tendo a precipitação acumulada entre outubro e dezembro de 2022 permitido a reposição da grande maioria das reservas hídricas dos aproveitamentos hidroagrícolas onde se cultiva arroz, prevendo-se um aumento de 5% na produtividade, face a 2022, refere o INE.
Frutas com novas quebras
Olhando para as culturas permanentes antecipam-se decréscimos de produtividade pelo segundo ano consecutivo nos pomares de pereiras e macieiras, de 10% e 15%, respetivamente.
Já a produção de cereja foi menos de metade (-55%) da campanha anterior.
Quanto ao pêssego, as variedades mais precoces encontram-se na fase terminal de produção, prevendo-se, apesar das condições meteorológicas adversas, designadamente a seca e as elevadas temperaturas, produtividades próximas das normais (-6%, face à média do último quinquénio).
Já para as vindimas as perspetivas são boas, com o INE a referir que se esperam aumentos de produtividade em todas as regiões (exceto no Dão, que deverá manter a alcançada no ano anterior), devendo o rendimento unitário global atingir os 42 hectolitros/hectare (+8%, face à vindima de 2022). Na uva de mesa, prevê-se um aumento de 10% na produtividade face ao ano passado.
A amêndoa também deverá ver a produtividade aumentar, pelo terceiro ano consecutivo, na ordem dos 15%, no caso do Alentejo "devido essencialmente à entrada de cada vez mais pomares em produção cruzeiro no Alentejo, o que tem contribuído para a tendência de crescimento dos rendimentos unitários" e, no de Trás-os-Montesm devido a condições meteorológicas propícias a um bom desenvolvimento vegetativo.
O ano tem sido particularmente difícil para a pecuária, com a escassa produção de matéria verde para o pastoreio, em particular a sul do Tejo, a obrigar à antecipação da suplementação dos efetivos em regime extensivo com alimentos conservados, aumentando a procura num cenário de escassa oferta, com os preços a duplicarem face a 2022, refere o INE.
"As condições meteorológicas adversas ocorridas desde janeiro, nomeadamente a escassa precipitação e as elevadas temperaturas para a época, em particular a sul do Tejo, condicionaram muito negativamente o ciclo vegetativo dos prados, pastagens e culturas forrageiras, penalizando o seu desenvolvimento e, consequentemente, a produção de biomassa destinada à alimentação dos efetivos pecuários".
Como resultado, aponta o INE, "a produção forrageira (natural, melhorada ou semeada) foi muito escassa e inferior à do ano anterior - também fortemente marcado pela seca -, com impacto negativo nas disponibilidades alimentares em pastoreio direto e, simultaneamente, na obtenção de alimentos conservados (fenos e silagens), essenciais à alimentação dos efetivos pecuários em épocas de maior carência alimentar".
Portugal vive um ano agrícola novamente marcado pela seca que atinge 96,9% do Continente, com 34,4% do território em seca severa ou extrema (a sul do Tejo).
"Os cereais semeados tardiamente após as chuvas de dezembro e janeiro foram muito penalizados, com emergências e desenvolvimento vegetativos fracos. A ausência de precipitação na primavera e as elevadas temperaturas prejudicaram muito o desenvolvimento vegetativo dos cereais praganosos de sequeiro, promovendo o seu adiantamento e o espigamento precoce", explica o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em detalhe, à luz das previsões agrícolas, em 31 de julho, publicadas esta sexta-feira, a produção de trigo mole (usado para fabrico de pão e farinhas) é estimada, para este ano, em 28 mil toneladas (contra 47 mil em 2022), a de trigo duro em 8 mil toneladas (contra 13 em 2022), a de triticale em 10 mil toneladas (contra 18 mil toneladas), a de centeio em 12 mil toneladas (contra 15 mil toneladas), a de cevada em 15 mil toneladas (contra 27 mil toneladas) e a de aveia em 13 mil toneladas (contra 21 mil toneladas em 2022).
Mas Portugal não foi caso único. "A seca que penalizou extraordinariamente a produção nacional de cereais de outono/inverno também afetou a produção noutras regiões, nomeadamente na Europa do Sul, onde se produz trigo duro, com a diminuição da oferta a pressionar o preço desta 'commodity' nos mercados internacionais. Por outro lado, o trigo mole, cujo preço disparou com o início da guerra, tem registado uma tendência de descida", assinala o INE.
A produção de batata de sequeiro, cuja colheita está praticamente concluída, também decresceu para níveis historicamente baixos, mas o cenário não é homogéneo no país. Se, por um lado, no Norte observa-se uma "maior quantidade de tubérculos por planta e maiores calibres" face ao ano anterior, em contrapartida, no Oeste, assiste-se a "uma redução de calibre provocada pela falta de água e pelo encurtamento do ciclo, devendo assim a produção global decrescer 15% e 32%, face a 2022 e à média do último quinquénio, respetivamente". No caso da batata de regadio o ano apresenta-se "normal".
O mesmo não se pode dizer no caso do tomate para a indústria, cuja colheita se iniciou na terceira semana de julho. Embora as searas tenham um "normal desenvolvimento, sem problema fitossanitários a destacar", "a onda de calor de junho provocou algum aborto na floração, pelo que a produtividade, embora superior à alcançada na campanha anterior (+5%), deverá ser inferior à da média do último quinquénio (-4%).
Já a instalação das culturas de primavera/verão, em que se inclui o milho ou o sorgo, "decorreu com normalidade", com a campanha de regadio assegurada em 60 albufeiras hidroagrícolas, mantendo-se cinco com restrições de utilização de água de rega desde o ano passado. "De um modo geral, as culturas de primavera/verão apresentam um regular desenvolvimento, embora no caso do tomate para a indústria se antevejam produtividades inferiores ao normal", refere o INE.
Assim, de acordo com as previsões agrícolas a 31 de julho, a área de milho de regadio deverá ser semelhante à semeada em 2022, "encontrando-se a cultura maioritariamente no estado de enchimento de grão, com um bom desenvolvimento vegetativo e sem problemas fitossanitários relevantes".
A do milho de sequeiro deverá, por outro lado, decrescer 5%. "As sementeiras de março e início de abril beneficiaram das chuvas ocorridas em estágios fenológicos cruciais para a formação da espiga mas, em contrapartida, nas sementeiras mais tardias ou efetuadas em terrenos com menor capacidade de retenção da humidade, a cultura evidencia sinais de stress hídrico, uma vez que os chuviscos não foram suficientes para suprir as necessidades de água da cultura", explica o INE.
A cultura do arroz, por seu turno, embora com a presença de infestantes, nomeadamente a milhã, apresenta "um bom desenvolvimento vegetativo", tendo a precipitação acumulada entre outubro e dezembro de 2022 permitido a reposição da grande maioria das reservas hídricas dos aproveitamentos hidroagrícolas onde se cultiva arroz, prevendo-se um aumento de 5% na produtividade, face a 2022, refere o INE.
Frutas com novas quebras
Olhando para as culturas permanentes antecipam-se decréscimos de produtividade pelo segundo ano consecutivo nos pomares de pereiras e macieiras, de 10% e 15%, respetivamente.
Já a produção de cereja foi menos de metade (-55%) da campanha anterior.
Quanto ao pêssego, as variedades mais precoces encontram-se na fase terminal de produção, prevendo-se, apesar das condições meteorológicas adversas, designadamente a seca e as elevadas temperaturas, produtividades próximas das normais (-6%, face à média do último quinquénio).
Já para as vindimas as perspetivas são boas, com o INE a referir que se esperam aumentos de produtividade em todas as regiões (exceto no Dão, que deverá manter a alcançada no ano anterior), devendo o rendimento unitário global atingir os 42 hectolitros/hectare (+8%, face à vindima de 2022). Na uva de mesa, prevê-se um aumento de 10% na produtividade face ao ano passado.
A amêndoa também deverá ver a produtividade aumentar, pelo terceiro ano consecutivo, na ordem dos 15%, no caso do Alentejo "devido essencialmente à entrada de cada vez mais pomares em produção cruzeiro no Alentejo, o que tem contribuído para a tendência de crescimento dos rendimentos unitários" e, no de Trás-os-Montesm devido a condições meteorológicas propícias a um bom desenvolvimento vegetativo.
O ano tem sido particularmente difícil para a pecuária, com a escassa produção de matéria verde para o pastoreio, em particular a sul do Tejo, a obrigar à antecipação da suplementação dos efetivos em regime extensivo com alimentos conservados, aumentando a procura num cenário de escassa oferta, com os preços a duplicarem face a 2022, refere o INE.
"As condições meteorológicas adversas ocorridas desde janeiro, nomeadamente a escassa precipitação e as elevadas temperaturas para a época, em particular a sul do Tejo, condicionaram muito negativamente o ciclo vegetativo dos prados, pastagens e culturas forrageiras, penalizando o seu desenvolvimento e, consequentemente, a produção de biomassa destinada à alimentação dos efetivos pecuários".
Como resultado, aponta o INE, "a produção forrageira (natural, melhorada ou semeada) foi muito escassa e inferior à do ano anterior - também fortemente marcado pela seca -, com impacto negativo nas disponibilidades alimentares em pastoreio direto e, simultaneamente, na obtenção de alimentos conservados (fenos e silagens), essenciais à alimentação dos efetivos pecuários em épocas de maior carência alimentar".
Portugal vive um ano agrícola novamente marcado pela seca que atinge 96,9% do Continente, com 34,4% do território em seca severa ou extrema (a sul do Tejo).