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António Gonçalves Ferreira: “Hoje os ambientalistas somos nós, produtores florestais”

O líder da União da Floresta Mediterrânica diz que o Estado tem uma “tentação proibicionista muito grande” e acusa o PEV e o Bloco de Esquerda de serem as forças ideológicas que motivam esta atitude.

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António Gonçalves Ferreira diz que este Orçamento do Estado poderia ajudar os produtores florestais "com pequenos incentivos" e "medidas emblemáticas", como as de poderem reinvestir os lucros sem serem tributados e de os custos de limpeza à volta das habitações fossem uma dedução à colecta de IRS.

Este Orçamento poderia ir mais além em matéria de apoios ou a nível fiscal no que diz respeito à fileira da floresta?
Podia. Penso que sim, podia com pequenos incentivos e com medidas emblemáticas.

Tais como?
Uma tem a ver com o impacto do reinvestimento florestal, a de haver uma possibilidade dos produtores florestais reinvestirem os lucros sem serem tributados, como existe [essa possibilidade] para um proprietário de uma casa que a venda: se reinvestir não tem impacto em mais-valias. E nós propusemos isso. Havia uma outra medida, que poderia ser também diferenciadora. Nós proprietários florestais , no ano passado, – 400 mil proprietários florestais portugueses e alguns que são proprietários urbanos – fomos confrontados com a necessidade de actuação muito pesada em termos de custos ao nível da limpeza à volta das habitações. Se o Estado possibilitasse, por exemplo, que esse custo fosse uma dedução à colecta de IRS, isso era uma medida concreta e um acto positivo do Estado, no sentido de dizer: ‘eu quero que isto seja feito, porque é importante, mas estou aqui a comprometer-me convosco. Eu que permiti que houvesse o desordenamento urbanístico que existe em Portugal, entro convosco nesta empreitada, e vou assegurar-vos que se vocês fizerem isso tem aqui uma contrapartida’. Penso que tem de haver aí alguma inovação ao nível das medidas fiscais que levam a resultados concretos.

Porque não houve nada concreto direccionado para a floresta…
Existem alguns pontos que na especialidade têm de ser desmistificados, e percebidos. Existem alguns benefícios fiscais dados às entidades de gestão florestal, mas que sinceramente não conseguimos ainda bem a dimensão do seu alcance.

O mercado já absorveu toda a madeira ardida na sequência dos incêndios?
Penso que uma parte substancial da madeira terá sido absorvida pelo mercado, ou pelo menos o impacto em termos do mercado da madeira de serração e para triturados não foi tão grande como se estava à espera. Terá sido grande na zona mais de fronteira das zonas ardidas, mas o resto do país conseguiu passar um bocadinho ao lado desse problema. O problema grande aí, e que não está quantificado, é qual foi a dimensão do volume de madeira que se perdeu.

O volume de madeira ardida representou um acréscimo de negócio para as empresas?
Não, representou essencialmente um gravíssimo problema. Mas eu gostava de deixar aqui uma mensagem de futuro. Temos de ser inovadores, temos de mudar a agulha.

Já percebemos que essa pretensão da União não conta muito com a colaboração do Estado.
Nós contamos com o que é a vida real, hoje em dia, que é uma vida com menos Estado, com um Estado que neste momento tem uma tentação proibicionista grande e pouca capacidade de olhar para o futuro.

Porque pensa que existe essa tentação proibicionista?
Porque é real, nós somos confrontados com ela todos os dias.

Qual é a motivação que está por detrás dela?
A motivação é essencialmente ideológica. Existe neste momento um grupo de pressão grande…

Ou seja os ambientalistas dominam o pensamento estratégica do Governo em matéria de florestas?
Não são os ambientalistas. Os ambientalistas, graças a Deus, grande parte deles, já percorreram um caminho que lhes permite olhar para o território e para a floresta de um modelo que é muito próximo do que nós produtores florestais e agricultura usamos.

Então são quem?
Atrevo-me a dizer que os ambientalistas hoje em dia somos nós. Porque nós é que defendemos o território. Nós é que sentimos que os tais serviços do ecossistema – que exista água de qualidade, o sequestro do carbono – são promovidos por nós e fazem parte do nosso dia-a-dia.

Então quem inculca essa matriz ideológica que conduz a esse afã que classifica como proibicionista?
Quem está por detrás disso, concretamente, não tenho dúvidas, é o PEV e o Bloco de Esquerda, que têm atrás de si uma desinformação gritante sobre o que é a realidade da floresta e o que poderemos querer como futuro dos nossos territórios. São grupos políticos muito urbanos com um desconhecimento total do que é o país e que estão a querer alargar a sua área de influência a zonas não tradicionais, causando gravíssimos problemas, ao que é o futuro do país. Nós precisamos de investir fortemente em duas coisas. Uma é em informação de qualidade, e aí os media têm um papel determinante, que é irem às fontes certas de informação e darem espaço para que outras visões da floresta, mais realistas, uma visão de eco-territórios, cheguem com tanto peso às notícias como chegam outro tipo de notícias mais catastróficas e que nos parece que contribuem menos para o futuro do país. A outra vertente é que precisamos de investir fortemente na formação dos nossos jovens, os nossos jovens têm de aprender uma visão da realidade que seja essa própria realidade e o que lhes está a vender em termos de informação é uma visão errada, incompleta e deturpada, do que é o meio rural, do que é a floresta e do que é o país. E era nisso que nós gostávamos de ganhar o desafio que era termos soluções novas, soluções baseadas no enorme potencial que o território português tem para a agricultura e floresta, com soluções eco-eficientes, temos de caminhar por aí, é impensável para nós não caminharmos nesse sentido, mas temos de contar com dois apoios de monta.
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