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Agroalimentar tem armazéns cheios "até ao limite" mas teme rutura financeira de empresas

A Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA) garante que o abastecimento de bens alimentares não está em risco, mas pede medidas ao Governo para que as empresas sobrevivam.

Hugo Rainho
18 de Março de 2020 às 17:13
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Os armazéns estão cheios "até ao limite" e o fornecimento de matérias-primas ao setor agroalimentar não está em risco. Os produtos frescos vão continuar a chegar às prateleiras dos supermercados nas próximas semanas sem problemas, garante ao Negócios Jorge Tomás Henriques, presidente da FIPA. 

"Temos estado a trabalhar com a normalidade possível, no âmbito desta situação extraordinária que estamos a viver. Há alguns constrangimentos, porque diariamente temos de adaptar as linhas de produção à disponibilidade do pessoal. Mas o agroalimentar tem vindo a reforçar os seus stocks de aprovisionamento de matérias-primas e está a reforçar o produto acabado até ao limite da capacidade logística dos armazéns", assegura. 

O responsável da FIPA dá conta, no entanto, de algumas preocupações vividas pelos empresários do setor. A procura caiu, em comparação com "a corrida da semana passada". E nos próximos dias deverá diminuir ainda mais, prevê Jorge Tomás Henriques.

Outra questão tem a ver com o esforço das empresas para manter os stocks, que está a gerar "preocupação" ao nível da tesouraria. "As PME e até as grandes empresas vão ficar com a sua tesouraria extremamente comprometida. Nos circuitos da cadeia logística há uma enorme quebra nos canais de distribuição, devido ao encerramento de lojas e à menor afluência de clientes. Isso é uma situação dramática, com quebras que alteraram completamente os planos de produção, de entregas e de fluxos financeiros das empresas. É uma questão que se vai agravar com o estado de emergência. Já há situações de incerteza em alguns setores", antevê o responsável. 

Jorge Tomás Henriques não prevê, para já, que a pandemia possa vir a culminar em despedimentos ou no fecho de empresas, mas considera que há medidas que podem ser tomadas "já" para precaver o pior. 

"Os setores devem entreajudar-se e a questão dos prazos de pagamento ganha aqui relevância. Deve ser estabelecido um prazo máximo de 30 dias. Isso ajudaria a assegurar necessidades do mercado".

Face aos apoios anunciados hoje pelo Governo ao setores do turismo, indústria e restauração, o líder da FIPA diz ter "estranhado" a ausência do setor agroalimentar na lista das linhas de crédito. "Esperamos que o Governo tenha em conta a importância deste setor para a economia e a criação de emprego, como foi, de resto, visível durante a última crise financeira". 

Jorge Tomás Henriques alega que "é preciso muito apoio", e que "o deferimento e o pagamento de impostos a prestações são medidas importantes, mas não suficientes".

Sem querer avançar com prognósticos sobre as consequências da pandemia de coronavírus nas exportações do setor, o líder da FIPA antecipa apenas que as vendas de 2020 "vão sofrer, a começar pelas vendas a Espanha", que é o maior cliente.

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