Notícia
Governo quer empresas a apostarem na saúde fora de portas
Há um “potencial que está longe de estar esgotado” na exportação de bens e serviços no sector da saúde que o Governo está interessado em promover, disse esta segunda-feira o ministro da Saúde. Há oportunidades desde os têxteis-lar ao mobiliário, diz João Vasconcelos.
O Governo está interessado em acelerar a internacionalização do sector da saúde, aprofundando-a em áreas que têm estado menos sensíveis à exportação. No caso da indústria farmacêutica, actualmente "70% a 80% da sua actividade" tem como destino a venda ao exterior, descreveu o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, numa iniciativa em Lisboa esta segunda. Há vários outros sectores que podem reforçar a aposta no exterior e que ainda estão demasiado dependentes do mercado interno.
"Considerar que o nosso principal cliente está fora da fronteira é um importante desiderato. Os ‘stakeholders’ devem deixar de ver o Serviço Nacional de Saúde como o único cliente", afirmou Adalberto Campos Fernandes, durante a iniciativa "+ Saúde na Economia/+ Economia na Saúde". Ao abrigo desta iniciativa, foram formados grupos de trabalho em quatro áreas principais: Gestão e Projectos; Medicamentos; Dispositivos e Equipamentos Médicos; Investigação e Ensaios Clínicos.
Ao longo das próximas semanas, estes grupos de trabalho irão apresentar medidas para reforçar a respectiva internacionalização de cada uma destas áreas. Entre 2008 e 2015, as exportações na área da saúde registaram "crescimentos a dois dígitos" e as vendas fixaram-se em "quase 1,5 mil milhões de euros", precisou Adalberto Campos Fernandes.
"Há um potencial em Portugal que está longe de estar esgotado, não apenas no medicamento. Também nos dispositivos médicos, nos sistemas de informação", descreveu o ministro. É aí que os ministérios da Saúde e da Economia podem intervir. "Não nos intrometendo, mas dando aquilo que são as ajudas do ponto de vista institucional e da relação internacional para que estas empresas se expandam mais e criem mais valor saindo para fora dos limites das nossas fronteiras".
Mobiliário e têxteis-lar têm lugar na Saúde
Ao Negócios, o secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, diz que o objectivo desta iniciativa é "alertar outros sectores tradicionais para as oportunidades que existem no sector da saúde". "Há sectores que nunca olharam para a saúde e há dezenas de oportunidades, quer seja no mobiliário, nos têxteis-lar, na informática", enumerou.
Vasconcelos diz que as exportações têm tido "muito sucesso na área do medicamento, na indústria farmacêutica", mas o Governo quer isso também "aconteça na área dos equipamentos e dispositivos médicos, também queremos que aconteça na das infra-estruturas médicas". "Tivemos aqui arquitectos, engenheiros, empresas de instalação eléctrica, de ar condicionado, que equipam hospitais do mundo todo… e tivemos gestores de espaços e infra-estruturas de saúde. E estivemos a discutir porque não vamos em conjunto, porque não nos associamos", descreveu.
"As nossas exportações de saúde estão muito bem nos nossos mercados mais tradicionais – no Magrebe, nos mercados da lusofonia. Mas porque não vamos a outros mercados, a mercados mais exigentes e mais longínquos? Foi isso que estivemos a discutir", assinalou o secretário de Estado.
Admitindo que "tem falhado o diálogo" entre a diplomacia e as agências que apoiam a inovação e exportação, como AICEP, IAPMEI e até a relação com os fundos comunitários, Vasconcelos diz que esta aposta não pode fracassar, porque "se Portugal quer uma economia baseada no conhecimento e inovação, uma das prioridades tem que ser o sector da saúde".
SNS não é suficiente para fazer crescer empresas do sector
E repete a mensagem de Adalberto Campos Fernandes. "E não é [ter] Portugal como cliente, não é o SNS só como mercado, porque com as contenções orçamentais, com os compromissos orçamentais que temos, [isso] nunca será motor económico suficiente. Temos que fomentar a internacionalização deste sector e atrair mais players internacionais para fabricar a partir de Portugal para o mundo", defendeu.
Óscar Gaspar, que foi o relator do workshop ligado à Gestão e Projectos, diz que já há empresas a construir e gerir hospitais no exterior, mas que, ao contrário do que se faz noutros países, "nós não levamos a fileira toda de empresas atrás – como as que fornecem as camas, as cadeiras de rodas ou outros equipamentos". É por isso que é "preciso que nos organizemos internamente" e ter uma "diplomacia económica" robusta, "país a país".