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Escolas sem “papel relevante” no risco de infeção das famílias

Henrique Barros garante que a evolução da infeção nas crianças e nos adultos teve “um curso independente da abertura das escolas”. Por outro lado, a carga sobre o SNS a seguir ao Natal aumentou a letalidade da covid-19.

Os estabelecimentos escolares foram encerrados no dia 22 de janeiro. Inicialmente era apenas por duas semanas, mas continuam sem data para reabrir.
Mariline Alves
23 de Março de 2021 às 11:52
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Tendo começado o desconfinamento pelas escolas e a vacinação pelas idades mais adiantadas, Henrique Barros diz ser natural que nos próximos tempos aumente o número de infeções entre os mais jovens. No entanto, o especialista deixou claro que "as crianças não parecem ter um papel relevante no risco de infeção nas famílias" e que "as medidas de mitigação em ambiente escolar funcionaram, funcionam e fazem acreditar que a atividade letiva vai ser segura".

 

Face aos primeiros dados, provenientes do Reino Unido, de que as crianças e adolescentes têm um risco menor de infeção e também um papel menor do que os adultos na transmissão da doença, acabou por haver naquele país uma "despreocupação com as medidas" nas escolas. E foi isso que "levou à ideia de que o fecho das escolas poderia ter um efeito determinante no combate à infeção".

 

Em Portugal, contrapôs esta manhã o investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), olhando para as idades escolares, verifica-se que os mais velhos infetam primeiro e, por isso, "parece haver uma concordância com a infeção na comunidade". "Isto pode significar que, ao contrário de países como o Reino Unido, em Portugal as medidas de mitigação e proteção em ambiente escolar foram levados muito a sério e, por isso, temos resultados diferentes", completou.

 

Não só "a evolução da infeção nas crianças e nos adultos teve um curso independente da abertura das escolas", como, separando entre agregados que têm e que não têm crianças – e numa análise que levou em linha de conta os testes PCR e também a prevalência de anticorpos –, Barros atestou que "ter crianças no agregado familiar não aumentou e até, pelo contrário, reduziu a probabilidade, o risco, a frequência de infeções".

Carga sobre SNS aumentou a letalidade da doença

 

Na intervenção na reunião do Infarmed, o especialista frisou que o prognóstico sobre a doença "praticamente estabiliza" ao fim de 50 dias após a notificação, calculando que cerca de 2% das pessoas estão a falecer em Portugal por terem um diagnóstico de infeção. Mas seguindo a estimativa de que haverá três vezes mais casos do que os que são diagnosticados recorrendo aos testes, a letalidade no país andará pelos 0,7%.

 

Por outro lado, o risco de morrer por covid-19 é maior acima dos 90 anos (letalidade de 20%) e na faixa etária dos 80 aos 89 anos (superior a 12%). Além disso, é "significamente maior" nos homens (2,27%) do que nas mulheres (1,7%).

 

A idade e o sexo das pessoas que adoecem são também fatores que ajudam a explicar as variações regionais. Em conjugação com a naturalidade, os valores citados mostram que na Madeira há um menor risco de morrer. "Se assumirmos o Norte como risco de base, vemos que o Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve têm valores mais altos, enquanto os da Madeira são mais baixos – cerca de metade do risco de morrer, em comparação com o Norte do país".

Os períodos de grande afluência e carga sobre o SNS podem ter tido um efeito na maior probabilidade de se morrer. Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto



Henrique Barros ilustrou que o maior risco de morrer por causa do novo coronavírus foi registado nos meses iniciais da pandemia (março e abril de 2020) e que depois "rapidamente começou a diminuir". Porém, em dezembro de 2020 e em janeiro de 2021 voltaram a surgir valores mais altos do que os que tinham sido observados entre maio e novembro.

 

"Estes números [mais recentes] ainda não estão fechados – há pessoas que ainda podem vir a falecer -, mas mostram que os períodos de grande afluência e de carga sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) podem ter tido um efeito na maior probabilidade de morrer", concluiu o presidente do ISPUP.

Vacina com efetividade de 91% no S. João

 

Por fim, Henrique Barros aproveitou a presença nesta reunião – a primeira desde o arranque do segundo desconfinamento – para sublinhar que "a vacinação mostrou-se claramente um processo efetivo de prevenção, que vai ter um papel central no planeamento da resposta à infeção no curto prazo". E trouxe dados concretos para suportar esta tese.

 

No Centro Hospitalar de São João, que tem 7 mil funcionários – dos quais cerca de mil tiveram a doença e 4.700 já foram vacinados desde o início do processo de vacinação a 27 de dezembro –, os dados mostram que houve apenas 7 casos de covid-19 entre os vacinados (assim considerados 14 dias depois da primeira inoculação) para cada 100 casos detetados entre os não vacinados (0,07%).

 

Os resultados do maior hospital do Norte do país, que tem estado na primeira linha de combate desde o início da pandemia, revelam ainda um risco de infeção superior nos assistentes operacionais e mais baixo nos médicos, com os enfermeiros num ponto intermédio. E levando em conta o sexo, a idade e a categoria profissional, daqui resulta uma efetividade vacinal de 91%, isto é, em linha com a que deram os ensaios clínicos das vacinas.

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