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Epidemia evolui favoravelmente mas aumento dos contactos preocupa especialistas

Os indicadores têm evoluído favoravelmente em Portugal apesar da subida "normal" do R(t).

Mariline Alves
23 de Março de 2021 às 11:14
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A evolução da pandemia em Portugal tem sido positiva na maioria dos aspetos. Mesmo com um aumento da mobilidade "linear", Portugal apresenta em todo o continente um R(t) abaixo de 1 e uma incidência inferior a 120 casos novos por 100 mil habitantes. Também o número de internamentos em unidades de cuidados intensivos está bem abaixo do limite de 245 camas. O que preocupa mais é mesmo o aumento dos contactos.

Os contactos têm vindo a aumentar, fruto do levantamento de algumas restrições, e Portugal deixou de ser o país com menos mobilidade, segundo os dados da Google apresentados hoje na reunião entre especialistas e Governo no Infarmed. Grécia e República Checa impuseram novas medidas de confinamento e ultrapassaram Portugal no indicador, enquanto os países com maior mobilidade e menos medidas estão no norte da Europa e Escandinávia. 
 
Por cá, os contactos têm vindo a aumentar, mas com uma alteração nos padrões. As várias faixas etárias contactam cada vez menos entre si e o pior comportamento parece vir dos mais velhos que, com o aumento da percentagem de vacinados, tem visto os indivíduos com 70 anos ou mais retomar os contactos para valores semelhantes aos da segunda quinzena de dezembro. Por oposição, a incidência diminui em todos os grupos, sobretudo no dos com mais de 80 anos. 

Nos restantes indicadores, Portugal tem registado uma diminuição das hospitalizações, sobretudo no caso dos indivíduos com 60 ou mais anos internados em unidades de cuidados intensivos. O R(t) mantém-se, a 17 de março, nos 0,92 e deve continuar a crescer - o que é "normal" face número cada vez mais estável de novos casos que parece estar a crescer nos jovens adultos entre os 20 e 30 anos. 

Ainda em matéria de incidência, destaque para uma redução "à medida que a idade auemnta". Ou seja, os novos casos surgem cada vez menos entre os mais velhos e mais entre os mais novos, o que, salientou Baltazar Nunes.

Testagem dispara com introdução nas escolas

Como porta-voz do grupo de trabalho recém formado pelo Governo para preparar a testagem em massa, Ricardo Mexia alertou esta manhã que "é preciso ter um sistema de notificação o mais abrangente possível, simples e ágil, seja através de plataformas web ou ‘app’", e também uma "forte capacidade de resposta, obviamente muito conexa com a vigilância epidemiológica".
 
Lembrando que "os testes não se substituem uns aos outros" e que há "uma enorme complementaridade com os PCR", o responsável sublinhou que está a haver um "aumento importante" na testagem, que atribui à subida "muito recente nos testes de antigénio, que tem a ver com a massificação da testagem na retoma da atividade escolar", uma vez que a testagem por PCR está estável.
 
Ricardo Mexia adiantou ainda que a 19 de março a taxa de positividade global nos testes era de 1,2% - embora nos testes PCR, considerados isoladamente, ascendia a 2,3% - e partilhou também alguns dados sobre os grupos específicos que têm sido alvo de uma estratégia de testagem mais abrangente nas últimas semanas.
 
É o caso das prisões, onde foram feitos 14.700 testes, com uma taxa de positividade de 7%; nas escolas houve já mais de 80 mil testes e a taxa foi inferior a 0,1%; nas análises efetuadas a propósito das deslocações de membros do Governo a taxa foi de 1,4%; na chamada rede de cuidados continuados e integrados deram positivos 4,5% dos 60 mil testes realizados; e nos lares de idosos, num total de 150 mil testes, foram detetados 2.627 casos positivos de coronavírus.

Massificação de testes rápidos prejudica estudo das variantes
Ainda assim, a introdução de testes rápidos nas escolas, farmácias e a recente disponibilização de auto-testes acarreta problemas e João Paulo Gomes alerta para o caso específico do estudo das variantes, em que Portugal assume um lugar de liderança entre os 3 países com mais amostras sequenciadas. 

Segundo o virologista do Instituto Ricardo Jorge, "a diminuição da utilização de testes RT-PCR, substituídos por testes rápidos, pode ter repercussões no número de amostras sequenciadas e pesquisa de variantes". É que as amostras recolhidas com testes rápidos não permite obter colheitas que possam ser utilizadas na sequenciação do vírus e, mesmo quando são realizados testes PCR, só os que têm uma carga viral mais elevada são uteis.

Devido ao número cada vez menor e menos representativo face a um aumento dramático do número de testes realizados desde que se começaram a testar profissionais e alunos nas escolas, João Paulo Gomes apelou ao trabalho conjunto entre laboratórios privados e o setor público, à semelhança do que se passou na primeira vaga.

Outra alternativa para aumentar o número de amostras sequenciadas é voltar a testar amostras positivas com sondas que permitem identificar as variantes, à semelhança do que tem sido feito na Dinamarca, segundo o virologista. O método é mais rápido e pode ser utilizado para complementar a estratégia em vigor.   

Especialistas querem maior controlo de fronteiras
Em Portugal, o INSA estima que a estirpe britânica seja já responsável por mais de 80% dos novos casos de covid-19, mas o número deve crescer e chegar ao nível de países como a Irlanda, onde é já de 90%.

Já as estirpes de Manaus e África do Sul, como são conhecidas, são responsáveis por apenas 16 e 24 casos, respetivamente. Mas os peritos temem que a circulação internacional possa causar um aumento exponencial dos casos atribuídos a esta estirpe se não forem impostas medidas.

Nesse sentido, João Pulo Gomes salientou hoje a "importância no controlo de fronteiras" através da "identificação do historial de viagem e origem dos passageiros", para que se perceba se vêm de países com alta incidência destas variantes.
 
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