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Antiga doca no CUF Tejo tem 350 anos e remonta ao domínio espanhol

As escavações nos terrenos onde vai ser construído o hospital CUF Tejo, em Alcântara, trouxeram para a luz do dia uma estrutura militar do século XVII. Trata-se de uma parte da Doca do Baluarte ou Sacramento, construída há 350 anos, ainda em período filipino.

ERA Arqueologia
20 de Maio de 2017 às 15:00
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As obras do novo hospital CUF Tejo, em Alcântara, Lisboa, permitiram que se descobrisse uma parte da Lisboa do passado. Durante as escavações, foi encontrada uma importante estrutura portuária que remonta ao século XVII. De acordo com fonte oficial da Direcção-Geral de Património e Cultura (DGPC), trata-se da "da Doca do Baluarte ou Sacramento", construída há "cerca de 350 anos" e "integrada nas construções para a defesa da Barra do Tejo em período filipino".

 

A doca em causa surgiu, segundo a DGPC, quando Portugal era governado por reis espanhóis, após o desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer Quibir – um período que se estendeu entre 1580 e 1640, e foi "utilizada durante mais de dois séculos".

 

A estrutura encontrava-se em "relativo bom estado de conservação, com silhares em calcário lioz, encontrando-se preservada entre 1 metro e 3 metros de altura ao longo dos cerca de 30 metros na área do projecto". No local, havia "vestígios de concreções conquíferas e de bio-erosão que são um elemento fundamental para a compreensão das alterações climáticas", bem como a "evolução/ estabilização do nível das águas do mar", algo que a DGPC descreve como uma "particularidade rara".

 

Dentro da doca foi ainda encontrada uma "embarcação do século XVIII", mas "em mau estado de conservação".

 

Após o "desmonte da estrutura da doca", e tendo em conta o seu "valor científico e patrimonial", bem como o "elevado grau de preservação" da mesma, foi "determinado pela DGPC" que deve ser "garantida a remontagem integral do troço da Doca do Baluarte ou Sacramento no âmbito dos arranjos exteriores do presente projecto".

 

Tal como o Negócios escreveu, este achado forçou o grupo José de Mello Saúde a atrasar em alguns meses a abertura da nova unidade de saúde, que agora apenas deverá ter lugar no primeiro semestre de 2019. Mas na altura, fonte oficial do grupo dizia apenas que "a possibilidade de integração no projecto" estava a "ser estudada por uma equipa técnica em coordenação com a Direcção-geral do Património Cultural (DGPC)".

 

Há mais de mil vestígios arqueológicos junto ao Tejo

 

A DGPC conta, num depoimento escrito enviado ao Negócios, que logo quando foi provado o projecto para o novo hospital CUF Tejo, foi "comunicado aos promotores do projecto (…) a necessidade de realização de sondagens arqueológicas prévias". Isto porque o terreno em causa se localiza "numa zona onde se presumia haver vestígios arqueológicos".

 

"A sensibilidade arqueológica da área reflecte-se, por um lado, pela natural utilização das margens do rio Tejo em Lisboa ao longo de milhares de anos, e por outro, por haver uma regular exploração dos recursos fluviais, uma intensa navegação no rio e, sobretudo, pelo conhecimento histórico-arqueológico que hoje temos da cidade, resultado das mais de 300 intervenções arqueológicas anuais realizadas", prossegue a DGPC.

 

Actualmente, "no rio Tejo, junto da cidade de Lisboa, existem mais de mil referências arqueológicas náuticas e subaquáticas, e nos últimos anos são muitas as operações urbanísticas na beira-rio onde estes testemunhos têm sido confirmados". Exemplos disso são as "embarcações do século XIX no Campo das Cebolas, as embarcações na sede corporativa da EDP, o fundeadouro romano e a grade de maré do século XVII/XVIII na Praça de D. Luís I", e ainda "os vestígios desde há 300 anos de um estaleiro naval e um cais no Boqueirão Duro", junto ao IADE.

Um achado que já se esperava

 

Estes vestígios foram bem preservados devido à "contínua expansão da cidade em direcção ao rio, mediante sucessivos aterros ocorridos ao longo do tempo, mas sobretudo a partir do século XIX". Por isso, quando foram encontrados nos terrenos do hospital uma "doca assente em tabuado e estacaria de madeira" e a "Doca do Baluarte ou Sacramento", esses vestígios já estavam "bem representada na cartografia histórica da cidade".

 

Logo de início, "os responsáveis e o promotor" do hospital CUF Tejo "foram alertados para o facto de ser fundamental acautelar a necessidade de um planeamento ajustado à situação de referência do local, à complexidade dos vestígios que aí poderiam ocorrer, às implicações a ter com os trabalhos arqueológicos e de conservação dos bens que iriam ser encontrados, à necessidade de se realizar um diagnóstico mais abrangente", e ainda para a "eventualidade de ser necessário preservar in situ ou preservar e musealizar eventuais estruturas arqueológicas postas a descoberto".

A DGPC está a participar nestes trabalhos de forma regular desde Agosto de 2016, informou a mesma fonte.

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