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Costa ao ataque contra Ventura. Líder do Chega responde com "clientelas" do PS

No plano político, ao longo de cerca de 25 minutos, António Costa e André Ventura estiveram sempre em planos totalmente opostos, e o debate aqueceu nos momentos finais.

Ricardo Lopes/RTP/Lusa
06 de Janeiro de 2022 às 22:21
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O secretário-geral do PS confrontou hoje o presidente do Chega com as suas posições na vacinação, impostos e ausência em votações sobre corrupção, enquanto André Ventura associou os socialistas a "clientelas" e casos de justiça.

"Comigo não passará, comigo não passará", declarou António Costa já na parte final deste debate pré-eleitoral para as legislativas antecipadas de 30 de janeiro, na RTP, que foi moderado pelo jornalista João Adelino Faria e que foi travado em clima tenso.

No plano político, ao longo de cerca de 25 minutos, António Costa e André Ventura estiveram sempre em campos totalmente opostos, e o debate aqueceu nos momentos finais.

Mesmo antes de terminar o frente-a-frente, o presidente e deputado único do Chega, na sua última intervenção, fez uma acusação pessoal, dizendo que António Costa foi apanhado em escutas "a tentar interferir" no processo Casa Pia, em 2003.

António Costa, apesar de já não dispor de tempo, respondeu: "Lembre-se sempre do seguinte, a última vez que fez acusações num debate acabou o senhor condenado no Supremo Tribunal de Justiça" - uma alusão à sentença por ofensas à família Coxi, residente no Bairro da Jamaica, no concelho do Seixal.

Antes deste episódio, o secretário-geral do PS assinalou que André Ventura faltou no parlamento à votação sobre diplomas de combate à corrupção em 19 de novembro, estando nesse dia em Bruxelas.

"Ou seja, no momento da verdade, em que há que votar, o senhor deputado não está. O senhor deputado fala, fala, fala, mas não faz", acusou, com André Ventura a argumentar que votou esses diplomas em sede de comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais.

Neste contexto, o deputado do Chega procurou associar António Costa a José Sócrates, apontando-o erradamente como ministro da justiça deste antigo primeiro-ministro, quando exerceu essa função no segundo Governo de António Guterres.

Mas foi mais longe: "Em 2019, havia 15 autarcas arguidos por crimes económicos, 14 eram do PS. Ao contrário dos seus outros opositores, que brincam consigo, eu não:  Oito governantes seus estão a braços com a justiça. Então vem aqui falar de corrupção?", perguntou André Ventura ao secretário-geral socialista.

Após a referência a José Sócrates, o atual líder do PS retorquiu: "Senhor deputado, para mim não há filhos nem enteados e ninguém está acima da lei, seja socialista ou não seja socialista. Qualquer socialista que viole a lei tem de ser responsabilizado e é uma vergonha para o PS". 

António Costa abriu o debate a questionar André Ventura se vai tomar a dose de reforço da vacina contra a covid-19, frisando que a vacinação é "a arma fundamental para o combate" à pandemia e alegando que os políticos "têm de dar o exemplo" nesta matéria.

O presidente do Chega não respondeu imediatamente, começando por responsabilizar o Governo pelos atrasos na preparação das eleições legislativas na atual conjuntura de pandemia e em que muitos milhares de cidadãos poderão estar em isolamento profilático em 30 de janeiro.

Só depois de o jornalista João Adelino Faria ter reforçado a pergunta é que André Ventura esclareceu que quer vacinar-se com a dose de reforço contra a covid-19, o que então levou o secretário-geral do PS a registar que ele evoluiu face ao que afirmara em finais de dezembro à televisão CNN sobre esse mesmo assunto.

A seguir, o secretário-geral do PS pegou na proposta do Chega sobre IRS, dizendo que este partido tem como objetivo estabelecer uma taxa única, em que "todos, banqueiros, enfermeiros, ou polícias" passarão a pagar a mesma percentagem de imposto em função dos respetivos rendimentos.

O deputado do Chega afirmou que propõe que haja um caminho gradual para a taxa única de IRS, contra-atacando com a acusação de que o atual Governo "asfixia" pequenos comerciantes e empresários com impostos para "engrossar clientelas".

António Costa insistiu no tema e perguntou a André Ventura se um país com uma taxa única de IRS se pode caracterizar como uma sociedade justa. "O senhor deputado passa pelos debates debatendo, mas nunca falando do seu programa", apontou, antes de acusar também André Ventura de usar "técnicas próprias" das correntes radicais de direita, tais como a tentativa de generalizar casos particulares e de "mostrar muitas fotocópias para encobrir a realidade".

O presidente do Chega lançou depois um ataque à política económica do Governo, dizendo que gerou quase meio milhão de pobres, sobretudo pensionistas; que em Portugal o desemprego baixou menos percentualmente do que em Espanha; e que ele próprio, contra o PS, defendeu o corte dos salários dos políticos, enquanto os poderes do Estado "gastaram ainda mais em viagens".

António Costa ripostou que o desemprego no país baixou de 12,5% em 2015 para 6,1% em 2021. "Em Espanha, o desemprego é de 14,5%", observou o primeiro-ministro, antes de referir que o último corte de pensões foi feito em 2013, pelo Governo liderado por Pedro Passos Coelho, quando André Ventura era militante do PSD.
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