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Santana Lopes: "Ser eurocético é ofensivo, sou um euro-cauteloso"
Pedro Santana Lopes manifesta reservas em relação ao funcionamento da União Europeia e ao "papel dos países mais poderosos". O líder da Aliança recorda o tempo em que foi cabeça de lista do PSD nas primeiras europeias, cuja campanha diz ter sido condicionada por Cavaco Silva.
"Se quiser, eu sou um euro-cauteloso, um euro-realista, muito insatisfeito com os resultados", afirmou, depois de recordar que sendo europeísta sempre foi um "defensor da coesão económica e social e um pouco cético em relação ao papel dos países mais poderosos e à maneira como a igualdade entre os Estados funcionaria" na União Europeia (UE).
O líder da Aliança afirmou-se ainda "chocado" com o que disse ser a secundarização dos problemas dos países com economias menos desenvolvidas. "Portugal tem que ter outra atitude em Bruxelas, porque eles, os mais poderosos, têm mais obrigações para com Portugal, de ajudar ao desenvolvimento da economia portuguesa para chegarmos pelo menos à média europeia.
Estamos há 33 anos na Europa (...) continuamos a três quartos da média dos europeus e somos ultrapassados pelos da Europa de Leste", afirmou, acrescentando que "quem tem mais poder vai sempre beneficiando até das crises dos mais fracos".
"Para mim, o grande problema foi quando se criou o Euro e quando se fez Maastricht e se estabeleceram obrigações iguais para todos os países, no défice, na dívida pública, independentemente dos seus níveis de desenvolvimento. Era impossível dar certo", considerou.
No entender de Santana Lopes, com uma nova atitude em Bruxelas, Portugal "em vez de beijar tanto a mão tem que bater mais o pé, tem que exigir apoio ao desenvolvimento económico, um programa específico".
"Mais do que sermos bons alunos, reafirmando a nossa fé no projeto europeu, temos que dizer a Bruxelas que assim não pode ser, termos recebido mais de 130 mil milhões de euros e continuarmos a este nível de distância", continuou o líder da Aliança, sublinhando que o partido que fundou tem "uma posição mais exigente" e coloca a sua tónica no crescimento.
Com críticas a Bruxelas por "cortar na despesa e mandar subir impostos", Santana Lopes defendeu que se deve procurar um novo caminho, com a preocupação de fazer o país crescer. Caso isso não aconteça, "vamos andando a comando dos burocratas, que é 'corta, cativa, come e cala", argumentou.
O líder da Aliança afirmou ainda que o partido que fundou surge na Europa "quase em contraciclo, porque é moderado, democrata, rejeita o populismo" e não tem nada no seu programa "para caçar votos", como "fechar as portas aos imigrantes ou a pena de prisão perpétua, a xenofobia, falar contra a política, contra tudo e contra todos".
Cavaco Silva condicionou a campanha de 1987
Santana Lopes foi cabeça de lista do PSD nas primeiras europeias, em 1987, e considera que a campanha do partido foi secundarizada nessas eleições por Cavaco Silva, que definiu como prioritária a maioria absoluta nas legislativas, realizadas no mesmo dia.
Num folheto da campanha de 1987, que o cabeça de lista social-democrata guardou, surge em formato maior a fotografia do líder do PSD, Cavaco Silva, ao lado de outra com metade do tamanho onde aparecem Pedro Santana Lopes e Carlos Pimenta, que figurava como candidato 'número quatro'.
"Nós, candidatos do PSD na lista europeia, não pudemos competir como deve ser com os nossos adversários", afirmou Pedro Santana Lopes. O partido conseguiu na altura o melhor resultado até agora em eleições europeias (37,5%), mas pior do que o que teve nas legislativas de então (50,2%).
"O PSD acabou por ter a maioria absoluta nas legislativas, foi a primeira maioria do professor Cavaco Silva, que sempre muito prático e excelente político (...) dizia 'não, o importante são as eleições legislativas e por isso as europeias têm que ser secundarizadas, sendo no mesmo dia, porque importa é conquistarmos a maioria nas legislativas", afirmou.