Notícia
Socialistas com banho de água fria em Lisboa
Reviravolta em Lisboa deixa Rui Rio mais folgado perante a oposição interna. Rui Moreira renova no Porto, mas arrisca perder maioria. PS segurou Almada, mas perdeu Coimbra. Santana Lopes recuperou a Figueira da Foz 20 anos depois.
A noite começou com o tradicional calor de quem está certo da vitória, mas depressa gelou no Páteo da Galé, em Lisboa, quando foram divulgadas as projeções das televisões que apontavam para um empate técnico ou mesmo uma ligeira vantagem para o candidato da coligação que juntou quase toda a direita. Carlos Moedas estava nos calcanhares de Fernando Medina, que as sondagens davam como vencedor certo, com maior ou menor vantagem sobre o antigo ministro do PSD e ex-comissário europeu.
À chegada ao local escolhido pela candidatura socialista para acompanhar a noite eleitoral, Medina afirmou que “estava preparado para qualquer resultado”, mas antevendo uma noite longa disse esperar “que tenham tomado café”. Não podia estar mais certo, com o que aconteceu pouco depois. Ao fecho desta edição, ainda se contavam os votos. Ao início da noite, o secretário-geral e coordenador autárquico do PSD avisou “que ninguém canta vitória”, mas as projeções foram suficientes para animar os apoiantes de Moedas na capital.
Do lado do PS, pouco depois das 9 da noite ainda se apontava para a vitória em Lisboa, mas Duarte Cordeiro, mais cauteloso, pedia “serenidade” aos apoiantes de Medina. À hora de fecho desta edição, ainda não estavam apuradas quaisquer freguesias da capital portuguesa.
A pressão sobre Fernando Medina ficou ainda mais forte depois de o líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, que apresentou uma candidatura própria afirmar estar aberto a “apoiar soluções” favoráveis aos lisboetas, mas não com o PS.
As surpresas da noite
Além de Lisboa, que se mantinha como a autarquia de todas as incertezas ao final da noite deste domingo, houve casos de grande surpresa. Coimbra foi um desses casos. “Com toda a certeza, podemos dizer que ganhámos estas eleições com uma maioria absoluta, o que era fundamental para dar a volta a Coimbra”, declarou António Maló de Abreu, diretor da campanha do Juntos Somos Coimbra que juntou PSD, CDS-PP, Nós Cidadãos, PPM, Volt, RIR, Aliança. Para o responsável, aconteceu “uma grande vitória da coligação Juntos Somos Coimbra e de quem a encabeça, José Manuel Silva, que é o futuro presidente da Câmara Municipal de Coimbra”, depois do PS liderar a autarquia desde 2013.
No Porto, houve, nas projeções, uma meia surpresa. Rui Moreira segura a presidência da Câmara da Invicta, mas pode perder a maioria. O recandidato independente não reagiu até à hora de fecho desta edição e faltavam apurar as freguesias maiores.
Na Amadora, o PS manteve a liderança na Câmara Municipal, mas o PSD, que apostou na estrela de televisão Suzana Garcia, conseguiu aumentar a votação, pelo que apontavam as projeção ao início da noite.
Santana regressa à Figueira
Pedro Santana Lopes reclamou a vitória na corrida à Câmara Municipal da Figueira da Foz, encabeçando um movimento de cidadãos, recuperando a autarquia que liderou entre 1997 e 2001.
“Contra todas as tropelias, armadilhas e impugnações e contra os partidos médios, grandes e pequenos”, afirmou o antigo primeiro-ministro e ex-líder do PSD. “É super extraordinário. Ganhar ao PS é uma proeza sem igual”, afirmou Santana Lopes à chegada ao local onde vai acompanhar a noite eleitoral. “Estamos a fazer história”, sublinhou.
Apesar de Lisboa, o PS conseguiu algumas vitórias significativas, como o caso de Almada, segurando a presidência da Câmara. Inês de Medeiros terá conseguido manter o antigo bastião comunista e até reforçou a vantagem sobre a CDU, de acordo com as projeções.
As leituras nacionais
São eleições locais, mas com leituras nacionais, tendo em conta as apostas que os líderes políticos fizeram em duas semanas de campanha.
Rui Rio poderá ser o vencedor da noite, com as apostas que lançou em vários concelhos. Lisboa será certamente o maior trunfo do líder social-democrata face aos nomes que se perfilam para um ataque à liderança, a começar por Paulo Rangel.
A escolha de Moedas parece ter sido certeira, mesmo que não consiga ganhar a maior autarquia do país. “As sondagens que se fizeram na pré-campanha falharam estrondosamente”, afirmou o secretário-geral do PSD, José Silvano. “Se o objetivo era influenciar os resultados, não conseguiram”, acrescentou o número dois de Rui Rio. “No final da noite, logo veremos”, indicou Silvano. A noite estava, de facto, a começar.
Também uma vitória simbólica para Rui Rio poderá ser a Câmara de Barcelos, sendo que o candidato do PSD foi uma escolha do líder social-democrata contra a vontade das estruturas locais.
“Já compreendemos que esta vai ser uma noite longa para a contagem dos votos”, previa também a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, Catarina Martins. O BE vai reunir a direção nacional esta segunda-feira. “Viemos para esta eleições com muita humildade e olhamos para os resultados com humildade”, acrescentou a líder bloquista. Catarina Martins admite um acordo em Lisboa,. “O Bloco tem toda a disponibilidade para continuar a ser solução em Lisboa”, afirmou.
O PCP reconheceu, por seu lado, que os resultados ficaram “aquém” do que esperavam, mas recusam uma leitura nacional. “Devemos fazer uma distinção [entre autárquicas e resultados nacionais] na medida em que sempre mas sempre as eleições autárquicas não são determinantes no plano da definição da política nacional”, afirmou Jerónimo de Sousa. Ainda assim, os comunistas saem fragilizados.
Já o líder do Chega, André Ventura falhou a eleição para a Assembleia Municipal de Moura, conquistando apenas 946 votos. Foi neste concelho que Ventura conquistou os melhores resultados das presidenciais de janeiro deste ano.
Presidente da Câmara de Lisboa e recandidato pelo PS
Secretário-geral e coordenador autárquico do PSD
Coordenadora nacional do Bloco de Esquerda