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Rita Silva diz que não se identifica com acordo entre PS e BE na Câmara de Lisboa
Numa publicação na rede social 'Facebook', Rita Silva, que era o segundo nome na lista do BE à Câmara da capital, elencou as razões pelas quais rejeitou suceder a Ricardo Robles na vereação.
A segunda candidata do Bloco de Esquerda à Câmara de Lisboa nas últimas eleições autárquicas justificou hoje que uma das razões para não ter aceitado ser vereadora é não se identificar com o acordo político firmado com o PS.
Numa publicação na rede social 'Facebook', Rita Silva, que era o segundo nome na lista do BE à Câmara da capital, elencou as razões pelas quais rejeitou suceder a Ricardo Robles na vereação.
"Não me identifico com o acordo político realizado entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista [...], independentemente da bondade das medidas", escreveu.
Aquando do início do mandato, o presidente da Câmara de Lisboa firmou um acordo de governação da cidade com o BE, que atribuiu a Ricardo Robles os pelouros da Educação e Direitos Sociais, e permitiu a Fernando Medina (PS) a maioria absoluta.
"Face ao percurso do governo da cidade não acredito que [este acordo] constitua uma forma de sanar os problemas fundamentais da política dominante, que estão a alterar de forma estrutural esta cidade, tornando-a mais desigual e excludente", lê-se na nota.
Rita Silva, que é dirigente do colectivo Habita (uma associação que se bate pelo direito à habitação), considerou que "a Câmara Municipal de Lisboa tem aderido, ao logo dos anos, ao papel de empreendedora de negócios na cidade, em detrimento do seu papel regulador e redistributivo".
"Continuarei, com empenho, a promover no que for capaz, a construção de um movimento social - actividade que não é compatível com o cargo político em questão e que no momento actual considero prioritária - que tem de contestar as políticas desta cidade, e do país, e construir com as pessoas alternativas à normalização da habitação como um bem de investimento, um produto financeiro à mercê do mercado ou à aceitação do investimento estrangeiro especulativo ou da monocultura do turismo e da precariedade como fatalidades", salientou.
Ricardo Robles anunciou na segunda-feira de manhã a sua renúncia como vereador do BE da Câmara de Lisboa, afirmando ser "uma decisão pessoal" com o "objectivo de criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade".
Após uma reunião da Comissão Política, o Bloco de Esquerda anunciou na segunda-feira à noite que o professor Manuel Grilo, número três na lista, vai substituir Ricardo Robles no cargo.
Na mesma altura, o partido explicou que a número dois na lista, Rita Silva, "manifestou a sua indisponibilidade para assumir o cargo, tendo em conta as responsabilidades dirigentes que tem num movimento social e que considera incompatíveis com o exercício do cargo de vereadora".
Na nota divulgada hoje, Rita Silva considera que "o governo de Lisboa, com vários anos de Partido Socialista, promoveu, e continua a ter como eixo central da sua política, processos de neo liberalização da cidade e a subordinação a grandes interesses imobiliários".
"A habitação e a cidade enfrentam hoje problemas profundos, com a total subordinação ao mercado, ao valor de troca, onde dimensões fundamentais da nossa vida, do nosso habitar, se reduzem a negócio especulativo a processos de exclusão e de desigualdade", apontou a responsável.
Para a dirigente, "a perspectiva de cidade empreendedora, que se posiciona no 'ranking' das cidades globais à custa da especulação, da gentrificação, do turismo, mas também da precariedade laboral e da expulsão, é fruto de políticas com forte adesão e participação do governo desta cidade e que trazem graves consequências sociais".
A demissão de Ricardo Robles surge na sequência de uma notícia avançada na edição de sexta-feira do Jornal Económico segundo a qual, em 2014, o autarca adquiriu um prédio em Alfama por 347 mil euros, que foi reabilitado e posto à venda em 2017 avaliado em 5,7 milhões de euros.