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Mundo em peso reage à morte de Hugo Chávez
As primeiras páginas dos jornais e as aberturas dos “websites” noticiosos contam todos a história de um “comandante” venezuelano que não conseguiu dispersar as tropas do cancro.
Os conselheiros das comunidades portuguesas da Venezuela lamentaram a morte de Hugo Chávez recordando que era um "homem jovem" e que tinha sido reeleito, a 7 de Outubro último, para governar o país por mais seis anos. "Todos lamentamos, era um homem jovem que poderia viver mais tempo", disse à Agência Lusa o conselheiro António Freitas.
Já a conselheira Maria de Lourdes Almeida apelou aos cidadãos nacionais e estrangeiros que "respeitem e acompanhem, primeiro que tudo, a família" de Hugo Chávez "num momento tão triste como este". "É uma morte a lamentar porque era Presidente e um ser humano, era quem tinha sido eleito para reger os destinos do país nos próximos seis anos", disse.
Maria de Lourdes Almeida explicou que, com a morte de Hugo Chávez, tudo começa "praticamente do zero outra vez" porque "haverá novamente eleições para eleger um governante". "Será novamente uma fase de incerteza sobre o que irá acontecer (no país) e isto não é bom nem para os venezuelanos, nem para os estrangeiros residentes no país. É como se tudo ficasse estancado, com um futuro por definir", disse.
Comunidade portuguesa agradecida
Por seu turno, a comunidade portuguesa radicada na Venezuela recebeu com "serenidade" a notícia da morte do presidente, a quem está "agradecida" pelo conseguido em termos de relacionamento bilateral, disse o embaixador de Portugal em Caracas. "A comunidade portuguesa não pode deixar de estar agradecida ao presidente Chávez em particular por tudo o que foi conseguido no relacionamento bilateral entre Portugal e a Venezuela", afirmou Mário Alberto Lino da Silva, em declarações à agência Lusa.
O diplomata frisou que, "como bom observador da realidade venezuelana", a morte do Presidente Hugo Chávez "era previsível que viesse a acontecer nos próximos tempos". "Apesar da proximidade da situação, a minha primeira reacção é de choque, porque a perda de um ser humano é sempre algo que deve fazer reflectir e ponderar sobre a realidade humana nesta terra", disse. O embaixador disse estar "impressionado e chocado" não só "pela perda de um ser humano como também pela perda de um homem que esteve ligado para todos efeitos aos destinos da Venezuela e que, independente das paixões e ódios que possa ter suscitado, contribuiu para o seu desenvolvimento". "Nos últimos 14 anos ele deu uma volta muito grande à realidade especial da Venezuela em relação a anteriores períodos de presidências", declarou.
PSD lembra "personalidade controversa" e boas relações com Chávez
O PSD lamentou a morte do presidente da Venezuela e sublinhou que Portugal sempre teve relações estreitas com as autoridades venezuelanas, mas recordando igualmente a "personalidade controversa" que foi Hugo Chávez. "É sempre de lamentar a morte de alguém que representa um povo. No entanto, não deixou de ser uma personalidade controversa", declarou à agência Lusa o vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Social Democrata (PSD), António Rodrigues.
O deputado do partido do Governo sublinhou ainda que a "extensa comunidade portuguesa" na Venezuela sempre foi "bem tratada", frisando as boas relações entre os dois países. "As relações entre a Venezuela presidida por Hugo Chávez sempre foram estreitas com Portugal ao longo dos anos, independentemente dos governos e dos chefes de Estado", declarou.
Partido Socialista lamenta morte de "amigo de Portugal"
Também o Partido Socialista lamentou o falecimento de Chávez, salientando que o presidente venezuelano foi amigo de Portugal e "sempre reconheceu" a importância da comunidade portuguesa no país. "O PS lamenta a morte prematura do Presidente da Venezuela e transmitiu as condolências à família, aos apoiantes e ao governo de Hugo Chávez na pessoa do embaixador do país em Lisboa", refere um comunicado do maior partido da oposição em Portugal, enviado à agência Lusa.
Por seu lado, o ex-ministro socialista Mário Lino confessou-se "muito pesaroso" com a morte do presidente venezuelano, "uma pessoa de outra natureza, com um carisma muito grande, bastante inteligente e com uma visão muito própria do mundo".
O “artífice da unidade do povo”, diz o PCP
O Partido Comunista Português, por seu lado, afirmou que os venezuelanos honrarão a "memória de Chávez", que considerou o "artífice da unidade do povo" daquele país.
Ban Ki-moon enaltece trabalho em prol da paz na Colômbia
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, prestou homenagem a Hugo Chávez, enaltecendo o seu trabalho em prol dos pobres do país e o apoio ao processo de paz na Colômbia. Ban Ki-moon salientou que o líder venezuelano "deu um impulso decisivo para os novos movimentos de integração regional, com base numa visão eminentemente latino-americana, ao mesmo tempo que demonstrou solidariedade para com outras nações do hemisfério". "A sua contribuição para o processo de paz em curso na Colômbia entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) teve uma importância vital".
Também a maior guerrilha da Colômbia manifestou solidariedade para com a "dor intensa" da Venezuela pela morte do presidente. "A surpresa que nos causa esta notícia não nos impede de abraçarmos fraternal e solidariamente a intensa dor que afecta o povo venezuelano" assinala um comunicado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), divulgado na página da organização na Internet e citado pela Efe.
No documento, o comando das FARC classifica Chávez de "grandioso dirigente" e apelas às autoridades venezuelanas para que "continuem em frente até à vitória com a revolução bolivariana". Por outro lado, disseram, as ideias de Chávez fazem parte do "arsenal universal de todos os povos que lutam pela liberdade".
Recorde-se que nas conversações entre as FARC e o Governo colombiano em Cuba, a Venezuela e o Chile actuam como observadores. As duas partes encetaram um diálogo procurando saídas para acabar com o conflito armado que assola a Colômbia há mais de meio século.
Hollande destaca vontade de Chávez de "lutar pela justiça e pelo desenvolvimento"
O presidente francês, François Hollande, enviou igualmente as suas condolências ao povo venezuelano pela morte de Hugo Chávez, numa mensagem em que salientou a vontade do presidente venezuelano de "lutar pela justiça e pelo desenvolvimento", noticiou o jornal Le Monde.
"O presidente falecido manifestava, à parte o seu temperamento e as suas orientações, que nem todos partilhavam, uma vontade indesmentível de lutar pela justiça e pelo desenvolvimento", afirmou o presidente francês. Acrescentou estar "convencido de que a Venezuela saberá ultrapassar esta provação num quadro de democracia e de tranquilidade".
O líder do Partido de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que há muito se afirmou como amigo de Chávez, saudou o legado do presidente venezuelano numa mensagem na rede social Twitter em que afirma que, apesar "dos muitos preconceitos sobre Chávez na Europa", para ele, a "revolução bolivariana" foi "uma fonte de inspiração".
O vice-presidente do partido de extrema-direita francesa Frente Nacional, Florian Philippot, rendeu também homenagem a Hugo Chávez, saudando "desde logo, a coragem, dentro e fora do seu país", segundo o jornal.
Por seu lado, o chefe da diplomacia britânica, William Hague, disse estar "triste" com a notícia da morte de Chávez e afirmou que o presidente venezuelano deixou uma "marca duradoura" no seu povo. "Fiquei triste ao saber da morte do presidente Hugo Chávez", afirmou Hague numa declaração divulgada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico.
No Brasil, o “grande amigo”
A presidente brasileira, Dilma Roussef, também lamentou a morte de um "grande amigo" da América do Sul e do Brasil. "Nem sempre estivemos totalmente de acordo com o presidente Chávez, mas a sua morte é uma perda irreparável. Ele era um amigo do Brasil e do povo brasileiro", afirmou Dilma. A presidente brasileira cancelou a viagem que faria à Argentina para reuniões bilaterais com a presidente argentina Cristina Kirshner. Ambas são esperadas no funeral, na Venezuela.
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva manifestou igualmente a sua "profunda tristeza" pela morte do chefe de Estado venezuelano, alargando a sua solidariedade a toda a Venezuela "neste dia tão triste". "Tenho orgulho de ter convivido e trabalhado com ele pela integração da América latina e por um mundo mais justo", acrescentou.
Na Bolívia, os edifícios oficiais vão ostentar faixas negras em sinal de luto e o presidente Evo Morales anunciou ainda na terça-feira que partiria para Caracas.
Também o governo do equatoriano Rafael Correa lamentou a "perda irreparável" para a América Latina, enquanto o presidente do Peru, Ollanta Humala, manifestou pesar aos venezuelanos pela morte de um "amigo".
De Hollywood… com amizade
O actor Sean Penn e o realizador Oliver Stone, dois dos maiores apoiantes de Hugo Chávez em Hollywood, manifestaram também o seu pesar pela morte do 'comandante'. "Hoje, as pessoas dos Estados Unidos perderam um amigo que nunca pensaram que tinham. E os pobres do resto do mundo perderam um campeão", disse Sean Penn, num comunicado revelado pelo The Hollywood Reporter. Sean Penn afirmou também ter "perdido um amigo" e que, agora, os seus pensamentos estavam apenas com a família de Hugo Chávez e com o povo venezuelano.
Já Oliver Stone, que conheceu Chávez em Dezembro de 2007, sublinhou em comunicado que chorava a perda de um "grande herói para a maioria da sua população". "Odiado pelas classes dominantes, Chávez viverá para sempre na História. Meu amigo, descansa finalmente numa paz conquistada desde há muito tempo", diz a mensagem do realizador, citada pela agência Efe.