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Marcelo critica políticos intolerantes e elogia cidadãos que apoiam migrantes
O Presidente da República criticou os políticos "protagonistas cimeiros da cena internacional" que têm um discurso intolerante e populista, e elogiou os cidadãos que apoiam como voluntários os refugiados e migrantes.
Marcelo Rebelo de Sousa falava na cerimónia de abertura das Conferências do Estoril, dedicada ao tema "Regulando uma Migração Sustentável", que começou quase duas horas depois do previsto, no Centro de Congressos do Estoril.
"Pessoalmente, o que vos quero dizer é que esta luta é uma luta cultural. Quando olhamos à volta e vemos responsáveis políticos, protagonistas cimeiros da cena internacional, defenderem o hipernacionalismo, a xenofobia, a intolerância, a reação básica e populista perante os desafios deste tempo, temos de responder culturalmente, de acordo com os princípios", declarou.
O Presidente da República defendeu que "é importante lutar por meios militares e segurança contra as ameaças vindas de fora", mas que "é muito mais importante não ceder à tentação de se ser securitário, de se abolir a liberdade, de sacrificar a democracia". "Essa é uma luta cultural de hoje e de amanhã. E essa luta - e esse é o meu testemunho - está presente na vida de tantas e tantos portugueses", disse.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se então aos "milhares de jovens, e menos jovens, em igrejas ou fora de igrejas, em associações sociais, em IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social], em misericórdias" que estão "no terreno", diariamente, "a trabalhar com os sem-abrigo, a trabalhar com os migrantes, a trabalhar com os refugiados, a trabalhar com os mais excluídos e mais marginalizados". "Todos os dias, permanentemente, a grande maioria como voluntários. E esses são a razão da nossa acrescida esperança", considerou.
O Presidente da República afirmou que, como responsável político, está "atento ao comportamento das lideranças políticas". "Mas, como cidadão, como pessoa, aquilo que mais me impressiona, e aquilo que mais impressiona positivamente, que vai para além do optimismo, que tem a ver com a esperança e com a determinação, é essa luta diária daqueles que não renunciam, que não abdicam, que não hesitam, que não desistem. Eles estão por todo o país, como estão, felizmente, por toda a Europa, como estão, felizmente, por todo o mundo", acrescentou.
Neste ponto, o chefe de Estado voltou a falar sobre os atuais responsáveis políticos a nível global, sem nomear alguém. "Podem os líderes de cada momento pensar o contrário, porque ser-se populista, em certo momento, pode ser tentador. Podem pensar que no curto prazo ganham. Mas perdem no médio e no longo prazo, porque a vitória não é deles, é dos princípios, a vitória é de quem luta pelos princípios, a começar nos mais jovens, e a continuar nos menos jovens", declarou.
No início da sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa enalteceu as Conferências do Estoril e falou sobre a História de Portugal, condenando a Inquisição e a escravatura. "Portugal foi grande na História sempre que foi tolerante, sempre que foi universal, sempre que foi ecuménico", afirmou, completando: "E foi pequeno quando foi intolerante, quando perseguiu na Inquisição, quando praticou séculos a fio a escravatura, quando cultivou a discriminação étnico-racial".
Segundo o Presidente, Portugal aceita esse passado, "sabendo exatamente o que teve de bom e o que teve de mau", mas quer e está a construir "um futuro diferente", na União Europeia. "Somos dos três ou quatro países líderes na Europa em matéria de refugiados, em proporção do número de habitantes", apontou.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que "é preciso ir à raiz, à causa das migrações, e depois é preciso ter a capacidade de afirmar os princípios que são os princípios europeus".