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Lula já não é ministro outra vez

Nos últimos dois dias, Lula da Silva já foi ministro da Casa Civil duas vezes. E deixou de o ser outras tantas.

Reuters
18 de Março de 2016 às 21:17
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Na quinta-feira, 17 de Março, o ex-presidente brasileiro Lula da Silva tomou posse como ministro da Casa Civil do Governo de Dilma Rousseff. Mas apenas por 40 minutos, já que o juiz Itagiba Catta Preta Neto, numa decisão liminar (que corresponde à providência cautelar), decretou a sua suspensão.

 

Era já madrugada de sexta-feira em Lisboa quando os meios de comunicação sociais brasileiros avançaram que Cândido Ribeiro, juiz desembargador e presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região do Brasil, tinha indeferido a decisão de Catta Preta.

 

No entanto, esta "anulação da suspensão" não concedeu a Lula a faculdade de avançar com os trabalhos no Governo, uma vez que a nomeação continuava suspensa por uma outra determinação nesse sentido, desta vez da Justiça do Rio, ditada pela juíza Regina Coeli Formisano.

Mas hoje, sexta-feira, Lula da Silva voltou a assumir as rédeas da Casa Civil, depois de a única suspensão que ainda se mantinha ter sido revogada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, do Rio de Janeiro.

Pelas 21:00 de Lisboa chegavam novos desenvolvimentos: uma terceira providência cautelar suspendeu uma vez mais a posse de Lula. Desta vez, a decisão veio da Justiça Federal de São Paulo.

Ou seja, desta vez Lula da Silva conseguiu ser ministro da Casa Civil durante cerca de três horas.


Porquê impedir a posse de Lula?


As acções contra a posse de Lula que já foram intentadas em Justiça defendem que a nomeação do ex-presidente para o novo cargo, que equivale a uma espécie de primeiro-ministro, consiste num "desvio do acto administrativo" que tem como principal objectivo alterar o foro competente das investigações que envolvem Lula da Silva, tirando-o assim do alcance do juiz do Paraná Sergio Moro.

 

Isto porque ao ser integrado no Governo, Lula passou a estar abrangido por imunidade, ou "foro privilegiado", o que significa que só pode ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

 

Sergio Moro, recorde-se, tem conduzido o processo da operação Lava Jato [que incide sobre um esquema de corrupção em várias empresas, incluindo a Petrobras – e no âmbito do qual Lula da Silva já teve de depor perante a Polícia Federal, por suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais], e vai também avaliar o pedido de prisão preventiva de Lula da Silva, formulado pelo Ministério Público de São Paulo no rescaldo do escândalo que envolve o triplex alegadamente do ex-presidente em Guarujá (cidade costeira do Estado).

 

Depois de na quarta-feira, 16 de Março, Dilma Rousseff ter nomeado Lula da Silva para ministro da Casa Civil [cargo que a própria presidente ocupou antes de tomar as rédeas do país], Sergio Moro divulgou escutas telefónicas que sugerem que a actual presidente terá dado o cargo a Lula para o livrar da Justiça. Isto numa altura em que a própria Dilma corre o risco de ver o seu mandato impugnado, no âmbito do processo de "impeachment" de que é alvo.


Manifestações prosseguem 

À semelhança dos últimos dias, esta sexta-feira tem havido manifestações a favor e contra o Governo nas principais cidades do Brasil e esperava-se que Lula aparecesse às 22:00 de Lisboa na manifestação a favor de Dilma na Avenida Paulista, em São Paulo.

A polícia já lançou gás-pimenta para dispersar um grupo "pró-impeachment" que surgiu nesta demonstração de apoio à actual Presidente do Brasil.

Às 22:35 de Lisboa esta marcha de apoio a Dilma contava com cerca de 250.000 pessoas, já com Lula da Silva a marcar também presença.



QUEM É LULA DA SILVA
Sétimo de oito irmãos, Luiz Inácio Lula da Silva nasceu a 17 de Outubro de 1945, no sertão de Pernambuco, sem o nome "Lula". Essa alcunha ganhou-a nos tempos em que era representante sindical, tendo-a depois adicionado oficialmente ao seu nome legal para poder representá-lo eleitoralmente, pode ler-se na Wikipédia.

Tinha 7 anos quando se mudou, com a mãe (já separada do pai) e os irmãos do Nordeste para São Paulo. Para ajudar nas despesas da casa, Lula começou a trabalhar aos 12 anos, numa tinturaria. Pelo meio, engraxou sapatos e foi auxiliar de escritório. Também vendeu laranjas, tapioca e amendoim nas ruas.

Aos 14 anos foi trabalhar para uma empresa siderúrgica que produzia parafusos – onde dois anos mais tarde um torno mecânico lhe esmagou o dedo mindinho da mão esquerda, que acabou por perder. Com a indemnização resultante do acidente de trabalho comprou móveis para a mãe e um terreno.

Depois foi trabalhar para a Frismolducar, onde apenas ficou seis meses – foi demitido por se recusar a trabalhar aos sábados. Em 1966 conseguiu emprego numa metalúrgica, a Villares, e em 1968 filiou-se no Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, tendo sido eleito como suplente na direcção do mesmo no ano seguinte. Nesse ano obtinha também o diploma de torneiro mecânico.

A partir de 1978 liderou greves históricas que culminaram com a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1979. E foi no movimento grevista que Lula ingressou na vida política, conforme salienta o portal IG. Chegou a estar detido durante 31 dias, devido às suas acções de militância. Em 1982 concorreu ao governo de São Paulo. Dois anos depois, foi eleito deputado federal constituinte.

A ascensão foi prosseguindo e Lula da Silva cumpriu dois mandatos sucessivos na Presidência da República, encerrados em 2010, sendo sucedido por Dilma Rousseff.

Em 2012, superou um cancro na laringe que tinha sido diagnosticado no ano anterior.

Diz ser um homem de hábitos simples, que detesta falar ao telemóvel. Gosta de futebol e da cachacinha dos tempos das assembleias metalúrgicas. E diz a revista Quem, da Globo, que até hoje mantém um hábito que lhe vem desde a infância: lava as próprias meias e cuecas no chuveiro, enquanto toma banho.

QUEM É DILMA ROUSSEFF Dilma Vana Rousseff nasceu a 14 de Dezembro de 1947, em Belo Horizonte. Filha de uma família com posses, iniciou-se na militância política aos 16 anos e sobressaiu na luta contra a ditadura militar – o que lhe valeu quase três anos na prisão, conforme recorda o portal IG.

Quando foi libertada, mudou-se para Porto Alegre e tirou o curso de Economia, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 1980 ajudou a fundar o PDT (Partido Democrático Trabalhista), onde permaneceu filiada até 2001 – ano em que entrou para o PT.

Em 2009 revelou que tinha feito tratamentos de radioterapia e quimioterapia, na luta contra um linfoma, do qual disse estar curada. Meses depois foi a candidata oficial à presidência do Brasil, pelo PT, tendo sido eleita.

Diz gostar de História e o seu fascínio pela mitologia grega levou-a a aprender a bordar – como Penélope, a fiel esposa de Ulisses que esperou 20 anos que o marido regressasse da Guerra de Tróia e que de noite desfazia o sudário que tecia durante o dia para poder protelar um novo casamento com qualquer outro pretendente.

É também amante de ópera e uma leitora voraz, sendo fã da escrita de Machado de Assis, Guimarães Rosa, Cecília Meirelles, Adélia Prado e Marcel Proust, conforme refere no seu website oficial.

E não só. "Recita poemas, cantarola Chico Buarque e Tom Jobim. Comenta com desenvoltura detalhes de quadros. E, quando pode, refugia-se em museus pelo mundo", desvenda também o website ZH Notícias.

No futebol, não torce por apenas uma equipa, mas sim por três: Atlético-MG, Inter e Flamengo.

Nos gostos gastronómicos, aponta como preferências o arroz, feijão, bife com ovo e batata frita, sublinha O Globo. E se o manjar puder ser acompanhado de um filme, melhor. Diz-se uma autêntica cinéfila e o filme "2001 – Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick, conta-se entre os seus eleitos.



(notícia actualizada pela última vez às 22:36)

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