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Leitões, Mealhada e Congresso do CDS: conheça toda a história

O proprietário do restaurante onde almoçaram 15 militantes do CDS descreve, por escrito, a agora famosa refeição do passado domingo. O livro de reclamações foi disponibilizado, garante. Compare as versões e tire as suas conclusões.

Sara Matos/Negócios
16 de Janeiro de 2014 às 17:40
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A história explodiu nas redes sociais na passada segunda-feira: o CDS Algarve denunciava um “assalto” de que 15 dos seus membros haviam sido vítimas no restaurante A Meta dos Leitões, na Mealhada. O proprietário era acusado de ter cobrado quatro refeições a mais e, quando confrontado, disse que o fazia em retaliação aos “roubos” do Governo.

 

O Negócios ouviu, posteriormente, a versão do líder da distrital algarvia do CDS, José Pedro Caçorino. Afinal, não foram quatro refeições a mais que foram cobradas, mas apenas uma dose de leitão. O livro de reclamações não foi apresentado, assegurava Caçorino, mas a polícia não foi chamada porque o congressista que foi reclamar ao restaurante ainda tinha que voltar para o Algarve.

 

Agora é possível conhecer a versão do proprietário do restaurante, que enviou um depoimento por escrito para o Negócios. Gonçalo Sarmento vem “repudiar veementemente a falsidade” da publicação do CDS Algarve. De acordo com a versão do dono da Meta dos Leitões, “a conta apresentada e paga” dizia “expressamente respeito a 18 doses de leitão (15 pedidas inicialmente mais três pedidas no decorrer da refeição)”, e indicava ainda “um bife também pedido no decorrer da refeição”.

 

Aqui as versões coincidem: José Pedro Caçorino já indicara que, efectivamente, a conta apresentada indicava “18 refeições de leitão e uma de um bife”. O facto de haver 18 refeições de leitão para 14 militantes foi explicado pelo empregado: “informou que levou mais uma travessa para a ponta da mesa, que levava três doses”. A diferença estava no facto de terem sido 14 militantes a comer leitão, o que, incluindo as três doses adicionais e o bife, totaliza 18 doses.

 

Porém, como conta o proprietário da Meta dos Leitões, foram cobradas 19 doses: 15 de leitão, incluindo três doses pedidas durante a refeição. Fica a faltar o bife, o que pode ajudar a explicar a discrepância: como explica Gonçalo Sarmento, este prato foi pedido “no decorrer da refeição”, já depois de terem sido pedidas as 15 doses de leitão, no início do almoço.

 

Um dos elementos do CDS pediu factura com despesa de 470 euros

 

O proprietário explica que, depois de apresentada a conta, não houve “qualquer reclamação de quem quer que fosse”. A despesa cifrou-se em 505,35 euros, exactamente o valor que Caçorino já havia adiantado ao Negócios. Foram emitidas duas facturas: uma no valor de 33,69 euros, o valor de uma refeição, após a divisão da despesa pelos 15 militantes, com o “número de contribuinte de um deles”.

 

Foi ainda emitida uma factura “correspondente ao remanescente da conta, 471,66 euros, com o número de contribuinte de um dos outros”. Em conclusão, como houve dois militantes a pedir factura, cada um deles fica automaticamente habilitado a ganhar um dos carros que o Estado vai sortear a partir de Março.

 

Depois de “paga a totalidade da conta”, prossegue o dono da Meta dos Leitões, os 15 militantes saíram do restaurante. Porém, um dos elementos do grupo “regressou pouco depois ao restaurante e dirigiu-se ao balcão, apelidando o dono de ladrão e pedindo o livro de reclamações”, prossegue Gonçalo Sarmento.

 

O dono do restaurante, famoso pela confecção de leitões, não faz qualquer referência à principal acusação do CDS Algarve, que diz que Sarmento justificou a cobrança de comida a mais com o facto de o CDS apoiar o Governo. O líder da distrital algarvia do CDS resumiu assim o que Sarmento terá dito: “Andaram a roubar-me a vida toda, agora roubo-vos eu a vocês”.

 

Militante do CDS saiu para buscar documentos e nunca mais apareceu

 

Apesar de Gonçalo Sarmento não assumir ter feito a referida declaração, a verdade é que também não a nega. O elemento do CDS pediu o livro de reclamações, que “lhe foi apresentado ao mesmo tempo que lhe foi solicitada a sua identificação”, nomeadamente o Bilhete de Identidade ou o Cartão de Cidadão. Aqui as versões também não coincidem: ao Negócios, José Pedro Caçorino disse que o livro não foi disponibilizado, e que o colega “ameaçou chamar a polícia”.

 

As autoridades só não foram chamadas a intervir porque o congressista “ainda ia ter de viajar para o Algarve entendeu ir-se embora”. O dono do restaurante conta outra história. Perante “a exigência dos documentos” para fazer a reclamação, o militante do CDS “alegou que os tinha deixado no automóvel, onde disse ir buscá-los, e saiu do restaurante”, onde “não mais voltou para fazer a anunciada reclamação”.

 

Gonçalo Sarmento diz ainda que “algum tempo após o incidente”, o restaurante “passou a receber diversas chamadas telefónicas insultuosas”.

 

Proprietário vai processar os militantes do CDS

 

Apesar de José Pedro Caçorino ter afirmado que ainda ninguém apresentou queixa na polícia, e que um pedido de desculpas seria suficiente para resolver o assunto, a Meta dos Leitões não vai deixar as acusações do CDS Algarve sem resposta. “A Meta dos Leitões não pode deixar de repudir a falsidade do que vem sendo divulgado e afecta sobremaneira o seu bom nome”. Por isso, “não pode deixar de ir proceder criminalmente” contra “o real autor” da publicação no Facebook que apelida o restaurante de “Meta dos Ladrões”.

 

O proprietário diz que vai “encetar as diligências necessárias para conseguir identificar” os “reais autores” da publicação. Para isso, conta com a Direcção Nacional do CDS-PP, “de quem se espera a indicação da identificação dos membros do seu partido responsáveis por esta notícia completamente falsa e difamatória”, pede Gonçalo Sarmento.

 

Há dois dias, foi criada no Facebook a página “Eu vou comer à Meta dos Leitões”, que se afirma como um local para “fãs de leitão e apoiantes do proprietário da Meta dos Leitões, que amortizou como pôde o que o Governo lhe roubou”. A página já tem mais de sete mil “gostos” e tem reunido várias críticas aos militantes do CDS.

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