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Hugo Soares: Um líder não avesso a polémicas

Hugo Soares sobe esta quarta-feira mais um degrau num percurso político até agora sempre ascendente. O antigo líder da JSD foi eleito presidente da bancada parlamentar social-democrata.

Pedro Catarino (CM)
19 de Julho de 2017 às 18:10
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Hugo Alexandre Lopes Soares (Hugo Soares) foi eleito presidente da bancada parlamentar do PSD, sucedendo no cargo a Luís Montenegro que abandona a função depois de ter atingido o limite de mandatos previsto pelos estatutos do partido.

 

Aos 34 anos, casado e pai, Hugo Soares dá assim mais um passo numa carreira política até aqui feita sempre em ascensão. Deputado há legislatura e meia, tendo sido eleito pela primeira vez em 2011 pelo círculo de Braga, Hugo Soares era desde Outubro de 2013 um dos 11 vice-presidentes dos deputados social-democratas.

 

Enquanto deputado, foi membro suplente de várias comissões parlamentares e coordenador pelo PSD da Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do Banco.

 

Em Dezembro de 2012, já deputado, Hugo Soares sucedeu ao também parlamentar Duarte Marques, sendo eleito presidente da Juventude Social Democrata (JSD), função que exerceu durante dois anos. Antes, tinha feito o tradicional percurso de "jota", iniciado aos 18 anos na federação de Braga.

 

Hugo Soares, licenciado em Direito e advogado de profissão, e que conta também no currículo com a frequência num mestrado em Ciência Política, é actualmente presidente da Comissão Política da secção do PSD de Braga.

Apesar de o nome de Soares já circular há algum tempo como hipótese para a sucessão de Montenegro, apenas no dia anterior ao agendamento - feito no início do mês - das eleições para a direcção parlamentar o deputado confirmou a sua intenção.

"Convocadas que estão as eleições para a direcção parlamentar do PSD para o próximo dia 19 de Julho, decidi liderar e apresentar uma lista candidata a essas eleições, na sequência das inúmeras manifestações de apoio que recebi de colegas deputados", disse Hugo Soares em comunicado de imprensa.

 

A eleição era um dado adquirido à partida, não só pela ausência de adversários mas também graças a Passos Coelho. É que o presidente do PSD há muito "apadrinhou" Hugo Soares, permitindo ao deputado ir crescendo no partido. O apoio é mútuo e Hugo Soares, em entrevista concedida em Março ao Observador, assumia ter a "profunda convicção de que Pedro Passo Coelho voltará a ser primeiro-ministro de Portugal.

 

Mas se Passos optou por não tomar partido nesta eleição, a verdade é que a lista encabeçada por Soares integra vários nomes do "passismo", como são os casos de Leitão Amaro, Carlos Abreu Amorim, Adão Silva ou Berta Cabral.

 

Ainda assim, houve um movimento, mesmo que pouco expressivo, de deputados que tentaram mobilizar os seus colegas para a escolha de outro líder parlamentar. Foi o caso da deputada Maria Manuela Tender, que instou os colegas no Parlamento a irem contra "a simples resignação" relativamente à candidatura protagonizada por Soares.

 

Também o deputado António Topa mostrou desagrado ao assumir, em declarações ao Observador, que "via com bons olhos uma candidatura de Marco António Costa", cenário que chegou a estar em cima da mesa mas que não se concretizou dada a opção por Hugo Soares.

 

Uma das críticas apontadas à equipa de Soares é a ausência de aposta na renovação. Visível pelo facto de se manterem os restantes 10 vice-presidentes da bancada, a que se somam dois novos, Margarida Mano e José Cesário. Algum mal-estar entre os deputados do PSD decorre da não unanimidade granjeada pela candidatura encabeçada por Hugo Soares, atenuada pela convicção de que Luís Montenegro continuará a exercer uma influência decisiva sobre os restantes deputados.

 

Hugo Soares e as polémicas

 

Ascendente, o percurso de Soares foi também marcado por várias polémicas em que o deputado se envolveu. Mas não só. Há uma particularidade relativa à presidência da JSD. Ao contrário da prática habitual, Soares foi possivelmente o primeiro presidente da JSD a não colocar-se à esquerda da liderança do próprio partido, designadamente em matérias sociais e de costumes, contrariando mesmo o exemplo do seu mentor, Passos Coelho, cuja oposição ao primeiro-ministro Cavaco Silva ficou célebre e marcou a sua presidência da Jota.

 

Pelo contrário, ficaram célebres as posições de Hugo Soares em relação à co-adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo. Ainda líder da JSD, Soares foi, em 2014, o subscritor número um de um referendo sobre aquelas duas questões (que tinham sido aprovadas no início desse ano). A realização dessa consulta foi aprovada no Parlamento (provocando a demissão de Teresa Leal Coelho da vice-presidência da bancada do PSD) pela maioria PSD-CDS mas depois considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional.

 

Antes já tinham sido polémicas as posições acerca das remunerações dos políticos, exigindo melhores salários, e a equiparação aos gestores privados,  para a classe política como necessária para chamar os melhores para a vida pública. E como candidato a líder da Jota, Soares defendeu o fim da Educação e Saúde gratuitas, uma posição contrária à tradição das estruturas partidárias mais jovens.

 

Sobre as críticas feitas por Mário Soares e José Sócrates ao Executivo de Passos Coelho, Hugo Soares criticou o teor das mesmas ao considerá-las "incitamentos à violência".

 

Mais recente foi a polémica com o presidente da Assembleia da República,  e uma troca de acusações mantida com Ferro Rodrigues, com Hugo Soares a acusar o antigo líder do PS de pôr em causa "o regular funcionamento do Parlamento", depois de este ter rejeitado o pedido de alargamento do objecto da Comissão Parlamentar sobre a CGD.

 

Soares queria que a CPI também inquirisse sobre a capitalização, mas Ferro considerou desadequado tratar esse assunto em sede parlamentar quando ainda decorria aquele processo. A Comissão acabaria por incidir nas razões que resultaram na capitalização do banco público.

 

Outro caso que envolveu Hugo Soares, e que causou dissabores ao nível interno no partido, em concreto motivando críticas da distrital de Braga, foi a viagem, a convite de Joaquim Oliveira, dono da Olivedesportos (Luís Montenegro também foi convidado), para assistir a dois jogos da selecção de futebol portuguesa durante o Euro 2016, realizado em França. Hugo Soares e Luís Montenegro justificaram a falta aos trabalhos no Parlamento com a viagem a França afiançando, porém, terem pago aquando do recebimento da factura.

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