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Disputa pelo mar, espaço e solo vai aumentar riscos geopolíticos futuros
O "mapa de risco político 2022", da Marsh, diz que embora as fronteiras terrestres entre países continuem a ser delimitadoras-chave do risco político – como é exemplo o atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia –, a competição pelo território oceânico, os minerais e o espaço vai influenciar cada vez mais as relações entre estados.
A crescente competição pela supremacia sobre o solo, o mar e o espaço vai alimentar as futuras tensões geopolíticas globais à medida que as nações reclamam as fronteiras marítimas, os recursos minerais anteriormente inexplorados e o espaço que se encontra numa fase muito embrionária de regulamentação. As conclusões são do "Mapa de Risco Político 2022", um relatório publicado pela Marsh, líder mundial em consultoria de risco e corretagem de seguros.
O relatório aponta que, embora as fronteiras terrestres entre países continuem a ser delimitadoras-chave do risco político – como é exemplo o atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia –, a competição pelo território oceânico, os minerais e o espaço vai influenciar cada vez mais as relações entre estados.
"O conflito entre a Rússia e a Ucrânia é um forte aviso da rapidez com que os riscos geopolíticos podem escalar e ter um impacto humanitário local terrível, bem como afetar empresas e investidores em todo o mundo", considera Carlos Figueiredo, Specialties Director da Marsh Portugal.
"As terríveis consequências deste conflito para o povo ucraniano permanecerão no centro das nossas reflexões num futuro próximo. No entanto, este é também um momento para as empresas e investidores considerarem como a evolução dos contextos do mar, espaço e solo poderá influenciar futuras tensões políticas entre países e regiões. Estamos a trabalhar com clientes para ajudar a compreender o impacto potencial dos riscos políticos atuais e emergentes, juntamente com a necessidade de planos de risco estratégico e de seguros, que lhes permitam ser mais resilientes a futuras crises políticas e económicas", acrescenta Carlos Figueiredo no comunicado do estudo.
Com mais de 80% da profundidade do mar inexplorada, continua a existir um imenso potencial de exploração e investimento para satisfazer a crescente procura de alimentos e matérias-primas, indica o relatório.
Contudo, esta "exploração azul" aumenta o risco de tensão geopolítica acrescida, dado que o maior desafio do risco relacionado com o clima depende significativamente dos cuidados tidos com os oceanos, ao mesmo tempo que a maioria dos recursos potenciais estão localizados em zonas económicas exclusivas (ZEE), que cobrem direitos territoriais offshore que podem ser contestados, especialmente quando se sobrepõem.
A procura e a disputa por minerais estratégicos – como cobalto, cobre, lítio, manganês, tório, titânio, urânio e vanádio – que são cruciais para a transição energética, também irão moldar o risco geopolítico futuro.
De acordo com o relatório, apenas um pequeno número de países, muitas vezes com sistemas de governo autocráticos, produz estes minerais, o que leva a que alternativas como a extração do fundo do mar sejam cada vez mais ponderadas. Contudo, esta exploração poderá causar danos irreversíveis aos ecossistemas subaquáticos e perturbar ainda mais as já frágeis cadeias alimentares e de fornecimento mundiais.
O crescimento da economia aeroespacial, quando combinada com o aumento da militarização do espaço, pode também contribuir para o risco de uma escalada de tensões geopolíticas. Esta realidade poderá ser ainda mais exacerbada se fracassar a colaboração para se chegar a um quadro de governação robusto à medida que mais países se voltam para o espaço para a recolha de informações, navegação e comunicações militares, aponta o relatório.
Na próxima década, a baixa órbitra terrestre poderá acolher 100 mil satélites, levando a um aumento de detritos espaciais. O impacto, mesmo de um pequeno pedaço de lixo espacial, nota a Marsh, poderá danificar seriamente equipamentos em órbita, correndo o risco de desencadear conflitos em cadeia.
"Compreender estes desafios e integrá-los no planeamento de riscos e de seguros tornará as empresas mais resilientes e ajudará a garantir o crescimento, mesmo enquanto nos adaptamos a realidades geopolíticas alteradas", acrescenta Carlos Figueiredo.