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Dias Loureiro: “Cortei com um só amigo, um grande amigo. Cavaco Silva”

Manuel Dias Loureiro continua “estarrecido” com o despacho de arquivamento dos crimes de burla e fraude de que estava indiciado. Em entrevista do Diário de Notícias, conta que admite recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e mostra-se desiludido com Cavaco.

Duarte Roriz/CM
07 de Abril de 2017 às 09:41
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O ex-ministro Manuel Dias Loureiro, que serviu nos dois Governos de Aníbal Cavaco Silva, mantém-se incrédulo com o despacho de arquivamento do processo que lhe foi movido por alegada burla, branqueamento e fraude fiscal qualificada, devido a um negócio da SLN (do grupo BPN). Em entrevista do Diário de Notícias, publicada esta sexta-feira, Dias Loureiro diz que o referido despacho é "uma aberração absoluta para quem estudou Direito" e conta que perdeu a amizade com Cavaco Silva.

 

Depois de, na passada quarta-feira, se ter manifestado "estarrecido" com o despacho de arquivamento do Ministério Público, Dias Loureiro diz, ao DN, que "é uma aberração absoluta" que o inquérito tenha demorado oito anos a ser concluído. Um inquérito "que em qualquer país são seis meses, oito meses, 10 meses". E depois "diz-se: crime de branqueamento, não há; crime de burla, não há; crime de fraude fiscal, não há".

 

Mas o despacho afirma que, apesar de não terem sido provados os crimes, continuam a existir suspeitas de que eles tenham sido cometidos. Algo que Dias Loureiro diz não compreender. "Eu não estou nada contente que se diga ‘aqui não há crime, ali não há crime, mas suspeitamos’. Estou muito descontente com isso. Fazem-me viver oito anos assim e eu estou calado e agora terminam nisto?", interroga-se.

 

Dias Loureiro diz-se "muito revoltado" com a conclusão do inquérito. "Estamos a ver o que é que podemos fazer, mesmo no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem", reiterou, porque em Portugal "não vai acontecer nada". E deixa críticas também a Marcelo Rebelo de Sousa. "Temos um presidente com opinião sobre tudo menos sobre a questão dos direitos fundamentais do cidadão", lamenta.

 

Pelo caminho, o ex-ministro e conselheiro de Estado diz que não tem vontade de regressar à política e diz-se magoado com Cavaco Silva. "Os meus amigos foram o meu grande suporte em todo este tempo", mas nem todos. "Cortei com um só amigo, um grande amigo. Um amigo a quem devotei uma amizade incondicional nos últimos 32 anos. Um amigo a quem dei, em tudo, o melhor de que fui capaz" – o "professor Aníbal Cavaco Silva".

 

Quando Cavaco terminou o segundo mandato presidencial, em 2011, Dias Loureiro procurou-o. "Disse-lhe que sempre fui leal à amizade que lhe dediquei. Disse-lhe que ele não o foi em relação à amizade que eu esperava dele. Disse-lhe que tenho a consciência tranquila. Agora a vida segue. A dele e a minha. Sem rancor. Às vezes lembrarei a mágoa", confessa.

 

"Nunca ganhei um centavo" além do salário

 

Na entrevista ao DN, Dias Loureiro explica o negócio que está na base do inquérito que lhe foi movido: tratava-se de um investimento de 100 milhões de dólares para desenvolver uma máquina de pagamentos, "semelhante à Diebold", que servia para pagar de forma automática as facturas de água e luz. Porém, "quando a SLN investiu 40 milhões desistiu, desistiu e o negócio acabou", o que "arruinou todo o trabalho que poderia vir a dar fruto". E por isso "nem o dr. Oliveira e Costa ganhou com isto nem eu ganhei com isto", garante.

 

"Há uma coisa que eu sei", prossegue Dias Loureiro. "Eu nunca ganhei naquele grupo mais do que o meu salário. Nem mais um centavo, nem mais um", garante. Começou como executivo, a ganhar "12.500" (presume-se que euros), e depois passou "a não-executivo e [o salário] passou a 7.500".

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