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Costa diz que dívidas das famílias limitaram recuperação do consumo

Numa entrevista concedida à Lusa a propósito do primeiro ano do Governo liderado pelo PS e apoiado pelas esquerdas, o primeiro-ministro negou ainda que tivesse defendido substituir exportações por procura interna.

Miguel Baltazar
25 de Novembro de 2016 às 16:12
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O primeiro-ministro nega ter preconizado um modelo de substituição das exportações pela procura interna, coloca no segundo semestre de 2015 uma queda no crescimento e admite que algum endividamento informal retardou o aumento do consumo pelas famílias.

Estas posições foram assumidas por António Costa numa entrevista à agência Lusa em que fez um balanço de um ano de Governo, que se assinala no sábado.

"Após um ano podemos dizer que não só que cumprimos aquilo que prometemos, como há resultados que demonstram que a opção foi certa", defendeu o líder do executivo.

Na entrevista, António Costa sustentou que o país já "inverteu o ciclo descendente" no crescimento económico que vinha do segundo semestre de 2015, que as exportações e o investimento têm vindo a aumentar "e, mais importante do que tudo, o desemprego tem vindo a cair".

"Temos mais 90 mil empregos do que há um ano e foi possível encontrar uma solução que ofereceu ao país estabilidade política e social e que nos vai permitir ter, ainda por cima, o melhor exercício de consolidação orçamental dos últimos 42 anos. Se estivéssemos no final do mandato, poderíamos fazer um balanço francamente positivo, mas estamos só no primeiro de quatro anos de mandato", advertiu.

Interrogado sobre as razões que justificam um crescimento bem mais baixo em 2016 do que inicialmente foi estimado pelo PS, o primeiro-ministro alegou que o cenário macroeconómico dos socialistas "foi feito no primeiro trimestre de 2015, quando o país registava um crescimento significativo".

"Ao contrário do que era previsível, esse crescimento não prosseguiu e no segundo semestre de 2015 a economia portuguesa afundou abruptamente. O que mudou não foram as nossas previsões mas, antes, de forma abrupta, a realidade no segundo semestre de 2015 por motivos que têm a ver com a fase final do Governo anterior", alegou.

Agora, segundo o primeiro-ministro, "o crescimento tem vindo a acelerar, com o segundo semestre deste ano a ser melhor do que o primeiro e o terceiro a ser melhor do que o segundo".

"E tenho confiança que este quarto trimestre será melhor do que o terceiro", advogou.

Questionado se a aposta do seu Governo na evolução do consumo interno como motor da economia não ficou aquém das estimativas iniciais, o líder do executivo afirmou que, "ao contrário do que a direita dizia", nunca defendeu um modelo de substituir as exportações pela procura interna.

"Tínhamos sim uma prioridade definida que era a reposição do rendimento das famílias e a razão fundamental, em primeiro lugar, teve a ver com a dignidade. O trabalho deve ser dignamente remunerado, os direitos dos pensionistas devem ser respeitados - e o Tribunal Constitucional aliás disse-o claramente. Não é possível manter cortes de pensões e de vencimentos para além do que foi o período extraordinário [da 'troika']", vincou.

António Costa considerou depois "extraordinário que agora a direita diga que o país está a crescer, mas não com base na procura interna".

"Pergunto o seguinte: A procura interna seria maior actualmente se este Governo não tivesse reposto os vencimentos e as pensões e se não se tivesse reduzido a carga fiscal? Temos vindo a crescer com uma acção combinada com o aumento das exportações - exportações que a direita dizia que iam deixar de existir porque íamos dar cabo da competitividade, mas, afinal, já sabemos que estão a subir acima de 6% ao longo de todo este ano, mesmo com quebras significativas em mercados tão importantes como o angolano ou brasileiro", declarou.

Neste ponto, o primeiro-ministro aproveitou para elogiar a "enorme capacidade" das empresas nacionais de diversificarem os mercados para onde exportam, registando-se mesmo "um excelente desempenho nos mercados mais exigentes".

"Com excepção da Alemanha, aumentámos as exportações para todos os países europeus e para os Estados Unidos. Por outro lado, o investimento, ao contrário do que foi dito, tem vindo a aumentar - mais 6,6% no primeiro semestre deste ano", referiu.

"Endividamento informal" limitou aumento imediato da procura interna

Já sobre a evolução do consumo interno, António Costa admitiu que as medidas de reposição de rendimentos e de redução da sobretaxa de IRS poderão não se ter traduzido imediatamente num aumento da procura interna.

"Certamente, muitas famílias tinham sistemas de endividamento informal que aproveitaram para ir resolvendo ao longo deste ano", justificou.

Ainda no que respeita às mudanças na política económica introduzidas ao longo do último ano, António Costa disse que a ideia de haver uma alternativa entre exportações e procura interna "só existe para quem teve a ilusão de que se recuperava a competitividade da economia à custa de uma política de baixos salários e de corte de direitos".

"É uma ilusão que espero que tenha sido perdida em definitivo e nós não acreditamos nela. Pelo contrário, consideramos essencial prosseguir uma política de aumento do rendimento disponível das famílias, mas isso não tem a ver só com procura interna. O aumento do rendimento das famílias é um objectivo em si, independentemente de se traduzir ou não em aumento da procura interna", frisou.

Mais, de acordo com António Costa: "O fundamental é não nos voltarmos a enganar enquanto país sobre qual a estratégia a seguir. Não nos podemos meter em atalhos por via do empobrecimento e diminuição de direitos", acrescentou.
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