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Constâncio debaixo de fogo tem de explicar crédito que disse ser "impossível" conhecer

O PS juntou-se aos partidos da esquerda e da direita para requerer o regresso do antigo governador do Banco de Portugal ao Parlamento para clarificar se teve, ou não, conhecimento prévio do crédito concedido pela CGD a Berardo para comprar ações do BCP.

07 de Junho de 2019 às 14:11
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O Parlamento quer voltar a ouvir o que Vítor Constâncio tem a dizer sobre o crédito concedido pela Caixa Geral de Depósitos a Joe Berardo para comprar ações do BCP e em relação ao qual o antigo governador disse, em comissão parlamentar de inquérito, ter pouco ou nada a dizer.

PS, PSD, Bloco de Esquerda, PCP e CDS querem que Constâncio seja novamente ouvido na Comissão de Inquérito Parlamentar à gestão da CGD, isto depois de o Público desta sexta-feira, 7 de junho, ter noticiado que o ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, enquanto governador do Banco de Portugal, não só teve conhecimento como autorizou o investidor Joe Berardo a levantar na Caixa Geral de Depósitos 350 milhões de euros destinados à compra de ações do BCP.

Carlos César, líder da bancada parlamentar do PS, citado pela Lusa, disse esta manhã ser "indispensável que a Comissão de Inquérito à Caixa volte a questionar Vítor Constâncio", bem como o também então vice-governador do Banco de Portugal, Pedro Duarte Neves, devido à "omissão inexplicável dos seus depoimentos".

Antes, já o deputado do PSD, Duarte Pacheco, defendia, aos telefones da TSF, que Constâncio deve ser outra vez ouvido no Parlamento, com o parlamentar a mostrar esperança de que tal lhe permita "refrescar a memória".

"Não temos qualquer dúvida que o dr Vítor Constâncio não disse a verdade na primeira comissão de inquérito. Queremos dar-lhe oportunidade para poder refrescar a memória e dizer a verdade ao Parlamento e ao país", disse Duarte Pacheco.

Em declarações à TSF, o deputado social-democrata Duarte Pacheco disse não ter dúvidas de que Constâncio mentiu aquando da primeira audição no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos.


Durante o debate parlamentar sobre a reforma da supervisão financeira, também o Bloco de Esquerda e o PCP anunciaram que pretendem fazer regressar Constâncio ao Parlamento.

Citada pela Lusa, a deputada bloquista Mariana Mortágua defendeu que a notícia avançada pelo Público mostra que era "quase impossível" Constâncio e o BdP não tivessem "conhecimento antecipado" do crédito concedido pelo banco público a Berardo.

"Vítor Constâncio tem de voltar à comissão de inquérito e explicar porque mentiu quando disse que era impossível ter conhecimento antecipado e porque disse não se lembrar de uma operação tão importante como a concessão de crédito de 350 milhões de euros a Joe Berardo para controlar o BCP."

Também o deputado comunista Duarte Alves sustentou que a ser verdade aquilo que é relatado pelo Público, então o que Vítor Constâncio disse na comissão de inquérito "não corresponde à verdade". Como tal, o PCP vai "pedir desde já ao BdP todas as atas do conselho de administração em que haja referência a operações deste género, em que um banco empresta para compra de ações de outro banco, e uma nova audição ao dr Vítor Constâncio".

O CDS foi mais longe, defendendo que, para além do regresso do ex-governador ao Parlamento, se ficar provado que Constâncio mentiu o caso passa para as mãos do Ministério Público. "Caso se comprove que mentiu, deve enviar-se imediatamente para o Ministério Público, porque o caso tem contornos criminais", argumentou a deputada centrista Cecília Meireles.

Em causa está a contradição entre aquilo que Constâncio disse aos deputados e aquilo que o jornal Público revela esta sexta-feira. "No dia 21 de agosto, em plena guerra de poder pelo controlo do BCP, o conselho de administração do Banco de Portugal, chefiado por Vítor Constâncio, reuniu-se com um ponto de agenda: autorizar aquela que se viria a revelar, tempos depois, uma das mais ruinosas e questionadas operações de crédito concedidas nos últimos anos pela banca portuguesa", relata o diário. 

Quando esteve no Parlamento, a 28 de março, o também antigo líder do PS garantia que o BdP não teve qualquer conhecimento do crédito concedido pela CGD a Berardo para adquirir ações do BCP desde logo por "ser impossível" ter acesso a essa informação.

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