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Cavaco: "Não alinho nos foguetes de cada vez que sai um número do INE"

Cavaco Silva sublinha que Portugal beneficia de "uma envolvente externa extraordinariamente favorável" e que esta deveria ser aproveitada para corrigir desequilíbrios estruturais do País.

17 de Fevereiro de 2018 às 16:19
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O antigo Presidente da República não se deixar contagiar pelos actuais indicadores económicos, até porque Portugal regista um crescimento aquém de outros países que também foram alvo de programas de ajustamento. Em entrevista ao Expresso, sublinha que o país deveria aproveitar a actual "envolvente externa extraordinariamente favorável" para corrigir alguns desequilíbrios estruturais. 
 
Aníbal Cavaco Silva compara o crescimento de Portugal "com o dos outros países que também foram objecto de programas de ajustamento e que tiveram uma saída limpa". "É o caso da Irlanda, que iniciou o seu programa em Dezembro de 2010, a Espanha que começou o seu programa voltado para reestruturação do sistema bancário, em Novembro de 2012, e de Chipre, que começou em Março de 2013. Quando os países passam por esses programas, o que se espera é que a seguir tenham uma taxa de crescimento elevada. Portugal está numa trajectória de crescimento desde 2013, mas está aquém de todos estes países que referi", refere o antigo Presidente da República. 
 
Nesse sentido, "recuso-me a fazer uma análise simplista e não alinho nos foguetes que a comunicação social costuma divulgar quando sai um número do INE. Imediatamente vou ver os números dos países da UE, vou pensar se Portugal tem choques assimétricos positivos ou negativos, e depois vou ver o que tem a Espanha, nosso principal mercado, Chipre. Irlanda. Deixo de lado a Grécia, que começou há oito anos, em Maio de 2010, e ainda está sob um programa de ajustamento", adianta em entrevista ao semanário. 

Cavaco Silva destacou ainda que Portugal "está a beneficiar de uma envolvente externa extraordinariamente favorável: taxas de juro extremamente baixas, perto de zero, durante um período longo, como nunca se viu na história monetária portuguesa; deslocação de turistas de outros destinos para Portugal; crescimento económico da União Europeia que há muito tempo não ocorria, com destaque para a Espanha, nosso principal cliente, para onde exportamos cerca de 27% do total; e preço do petróleo muito baixo. Tudo isto são factores que raramente se repetem na sua conjugação de forma tão favorável".
"Neste quadro de benesses externas, tenho algum receio de que não se esteja a aproveitar o momento para corrigir alguns dos nossos desequilíbrios estruturais em ordem a preparar o futuro", realça. Entre esses desequilíbrios, Cavaco Silva destaca "o enorme endividamento do país, a insustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e do sistema de Segurança Social, a baixíssima taxa de poupança das famílias - que está a um nível historicamente baixo - , a falta de capital, o inverno demográfico, a baixa produtividade, a reforma do Estado".   
Quanto à actual solução governativa de Portugal, diz: "o nosso caso é um caso sui generis que não quero comentar". Ainda assim, afirma que foi ele quem nomeou esse Governo, "depois de ter ouvido todos os parceiros sociais, os presidentes de todos os bancos grandes, sete economistas com grande conhecimento da realidade, muitos dos quais tinham sido membros de governos socialistas". 
 
Depois disso chegou à conclusão "de que era uma melhor solução do que a continuação de um governo de gestão PSD/CDS até à eleição do próximo Presidente da República - um encargo que eu também não lhe queria deixar", explica.  
 
"Essa solução era inédita na nossa democracia e teve a oposição muito forte no passado dos dirigentes socialistas com quem trabalhei - todos! Não vou contar agora, mas um dia contarei o que eles me disseram sobre o Bloco de Esquerda e o PCP, está registado", conclui Cavaco Silva. 
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