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Catarina Martins acusa PS de acenar com crise política quando negociações são "mais incómodas"

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, apontou, na segunda-feira, que "há quem tenha vontade de ter uma crise política", e que o PS habitualmente utiliza este argumento quando "as negociações são mais incómodas".

Rui Minderico/Lusa
29 de Setembro de 2020 às 07:36
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"O BE não está a trabalhar para uma crise política, está a trabalhar para soluções para um Orçamento do Estado. Tenho ouvido falar muito de crise política, às vezes parece-me que há quem tenha vontade de ter uma crise política. Não é o caso do Bloco", disse Catarina Martins em entrevista ao programa "Polígrafo SIC", na SIC Notícias.

A coordenadora do BE acrescentou que o PS, "quando acha que as negociações são mais incómodas, normalmente, fala de crise política, já o fez várias vezes no passado".

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou na segunda-feira que seria "absolutamente insano" se Portugal entrasse em crise política na atual conjuntura internacional e adiantou que as negociações do Orçamento com os parceiros de esquerda registam "avanços positivos".

"As negociações com os nossos parceiros parlamentares têm vindo a decorrer com avanços positivos e, portanto, tenho confiança de que este ano, tal como aconteceu nos quatro anteriores, tenhamos um bom Orçamento", começou por responder o líder do executivo português, antes de deixar um aviso.

"Já temos uma crise sanitária, acrescentou-se uma crise económica e uma crise social. Haver uma crise política era absolutamente insano e injustificado. Creio que nada justifica que isso venha a acontecer. Pelo contrário, acho que as negociações têm vindo a decorrer de forma a ficarmos com um bom Orçamento para 2021", disse o também secretário-geral socialista.

Catarina Martins explicitou, durante a entrevista, que "o que conta para construir soluções" para o país não é "fazer grandes proclamações sobre eventuais" crises políticas.

"O que conta é sentarmo-nos sobre os problemas do país e criarmos as soluções para as pessoas", completou.

Interrogada sobre as reuniões entre o partido e o Governo a propósito do Orçamento do Estado para 2021, a dirigente do BE disse que "é preciso que a disponibilidade" do executivo socialista "não seja meramente para reunir, mas também para construir propostas de uma forma muito concreta".

Catarina Martins acrescentou que "era tempo de o PS dar sinais mais claros sobre a sua vontade negocial".

Questionada também sobre as transferências para o Novo Banco, a coordenadora bloquista lembrou que o partido propõe que não haja, no orçamento do próximo ano, "nenhuma autorização e transferência de nenhum tipo" para o banco, enquanto se investiga "como está a ser gerido".

Catarina Martins advertiu que esta proposta do BE não é "suicida", que "cria um problema ao banco", e apenas defende que o "Estado português se leve a sério, que se porte como acionista" do Novo Banco.

A dirigente partidária também recusou quaisquer noções de que o partido tem menosprezado o défice português.

"Não é bem assim. Sempre formos contra o 'gangsterismo' financeiro, que tem aumentado o défice e a dívida pública em Portugal. Temos dito é que do ponto de vista das políticas económicas, mais vale investir para ter crescimento económico e consolidar o défice de uma forma sólida ao longo do tempo, do que cortarmos nos salários, nas pensões, no que é essencial à economia, para tentar reduzir o défice a curto prazo, porque isso já se provou errado", elaborou.

Relativamente às eleições presidenciais do próximo ano, Catarina Martins vincou que o principal adversário da eurodeputada e recandidata a Belém Marisa Matias, que conta com o apoio do BE, é Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de o atual chefe de Estado ainda não ter anunciado a recandidatura.

Interpelada sobre as sucessivas trocas de acusações entre a bancada parlamentar bloquista e o deputado único do Chega e líder do partido, André Ventura, a coordenadora do Bloco de Esquerda disse que "é um cobarde vigarista que vive dizendo que quer defender o português comum, enquanto na sua vida o que faz é tratar de offshores".
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