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Cães e gatos abandonados vão ser esterilizados em vez de abatidos
A direita e a esquerda uniram-se no Parlamento para acabar com o abate de animais abandonados em canis e gatis. O objectivo é que os animais passem a ser esterilizados e dados para adopção. O abate passa a ser proibido, a não ser que o animal esteja doente.
Numa altura em que os consensos escasseiam no Parlamento, todos os seis grupos parlamentares e o PAN conseguiram chegar a acordo para acabar com o abate de animais nos canis e gatis municipais. O Grupo de Trabalho - Abate de Animais em Canis Municipais redigiu um texto comum a todas bancadas para que os animais abandonados passem a ser esterilizados e dados para adopção, em vez de abatidos.
O texto vai ser apresentado pelo Grupo de Trabalho à Comissão de Ambiente e Poder Local e deverá ser discutido pelos deputados que a integram "dentro de duas a três semanas", antecipa Maurício Marques, deputado do PSD que coordena o grupo de trabalho, composto por oito deputados – dois do PSD e um de cada outro partido com assento parlamentar.
A proposta, a que o Negócios teve acesso, prevê que os canis e gatis adoptem uma nova designação: Centros de Recolha Oficial de Animais. E introduz várias alterações ao que acontece actualmente: os animais que forem recolhidos por estes centros e não sejam reclamados pelos donos num prazo de 15 dias vão ser "obrigatoriamente esterilizados e encaminhados para adopção". Depois disso, podem ser cedidos "gratuitamente" quer a "pessoas individuais" quer a "instituições zoófilas devidamente legalizadas".
A grande inovação desta proposta legislativa reside no número quatro do artigo 3º. "É proibido o abate ou occisão [assassínio] de animais por motivos de sobrepopulação, de sobrelotação, de incapacidade económica ou outra que impeça a normal detenção pelo seu detentor, em Centros de Recolha Oficial de Animais, excepto por motivos que se prendam com o seu estado de saúde ou comportamento", lê-se no diploma.
Isto significa que, mesmo que os centros de recolha estejam cheios, isso não será motivo para matar animais. Adicionalmente, especialmente no caso dos gatos, "existe a possibilidade de, depois de serem esterilizados, voltar a devolver os animais à rua", explica o deputado Maurício Marques. "O conceito mais importante vai passar a ser o bem-estar animal", afiança.
Se animal for abatido não pode sofrer
Nos casos em que seja necessário proceder ao abate do animal, que passarão a ser a excepção, o procedimento terá de ser feito num dos centros oficiais de recolha de animais e por um médico veterinário. No caso de o animal ter uma "doença manifestamente incurável" e for demonstrado que é a única forma de "eliminar a dor e sofrimento irrecuperável do animal", será realizada a eutanásia do bicho, igualmente por um médico veterinário.
Em qualquer dos casos, "a indução da morte ao animal deve ser efectuada através de métodos que garantam a ausência de dor e sofrimento, devendo a morte ser imediata, indolor e respeitando a dignidade do animal", lê-se no diploma. Os centros de recolha passarão a produzir um relatório anual, com as estatísticas relativas ao número de recolhas, mortes, vacinações ou esterilizações. Esses dados serão compilados pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária num relatório igualmente anual, que será apresentado no Parlamento pelo governante com a pasta da tutela.
Abate só será proibido em 2018
O diploma proposto pelo grupo de trabalho, que ainda pode sofrer alterações na comissão, propõe que os actuais canis e gatis disponham de dois anos até implementarem na totalidade a proibição de abate de animais. Isso significa que só em 2018 é que será proibido, na totalidade, o abate de animais abandonados.
Mais curto – um ano – é o prazo que é dado dos centros de recolha de animais para "implementar as condições técnicas para a realização da esterilização".
Segundo estimativas do PAN, divulgadas pelo Sol em Julho do ano passado, em Portugal são abatidos, anualmente, cerca de 100 mil animais. Não existem estatísticas oficiais sobre o número de abates.
Notícia actualizada às 17:40 com mais informação