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Análise: “Sócrates é um animal de comunicação”
O ex-primeiro-ministro, José Sócrates, “é um animal de comunicação”, mostrou-se, de uma forma geral, bem preparado e será “um líder da oposição” nos seus comentários políticos na estação pública, essa foi a opinião generalizada de António Cunha Vaz, Tiago Franco e Rui Calafate, três especialistas da comunicação que falaram com o Negócios.
“O animal comunicador é o mesmo, revelou um carácter dos ‘boxeurs’ quando há combates importantes, uma raiva e um ódio que depois passa”, afirmou António Cunha Vaz, director da Cunha Vaz e Associados. O responsável considerou que José Sócrates “revelou também que é autoritário e a sua intolerância para quem discorda dele, o que não surpreendeu”.
Para Tiago Franco, director da Ipsis Emirec, “formalmente a entrevista teve duas partes: há um processo de vitimização e depois uma segunda parte onde se mostrou um animal aguçado, onde se transformou quando se sentiu atacado e atacou todos”.
“Sócrates é um profissional da comunicação política, preparou-se, estudou e foi eficaz”, afirmou Rui Calafate, director-geral da Special One, acrescentando, o ex-primeiro-ministro “usou várias técnicas do discurso político, como a temorização dos jornalistas e pegou em vários factos para construir a sua narrativa, uma palavra que ele tanto utilizou e que se usa na construção de um discurso político”.
António Cunha Vaz é da opinião que o ex-primeiro-ministro “estudou razoavelmente os dossiers”, e que “beneficiou do facto de ter sido entrevistado por dois jornalistas, a eficácia não é a mesma, só um faria melhor, porque é uma entrevista muito dura e há uma dispersão que beneficia o entrevistado”.
Também Tiago Franco considerou que Sócrates tinha estudado bem as matérias, mas “não estava preparado para duas horas de entrevista, fugiu-lhe o chão um pouco pelo cansaço, mas foi eficaz no que se propôs”.
Na visão do director da Ipsis, o facto de Sócrates ter mantido “a teoria do embuste”, marcou território e isso “pode ter funcionado para um conjunto de portugueses menos esclarecidos”.
Já Rui Calafate defendeu que “teve uma fragilidade bastante forte nas PPP (Parcerias Público-Privadas), ele construiu a sua própria narrativa com os seus números”.
“Há pessoas que não estão habituadas ao jogo democrático e José Sócrates não está, nunca no seu tempo como primeiro-ministro haveria uma entrevista como esta”, sublinhou António Cunha Vaz.
Todos são de opinião que foi duro com o Presidente da República, Anibal Cavaco Silva e que definiu bem o seu terreno à esquerda. “Chamou pela primeira vez partido da direita ao PSD, ele que sempre se tomou como sendo de centro, agora apareceu um pouco mais à esquerda”, recordou Tiago Franco.
A opinião também é unânime quanto à decisão da RTP de convidar Sócrates para um espaço de comentário, uma decisão tão criticada na opinião pública. “Foi uma grande operação de charme e de afirmação da vitalidade da RTP. Não houve canal nenhum que não reproduzisse a entrevista, o share foi esmagador”, disse António Cunha Vaz, acrescentando, “o país parou para a entrevista que só acontece com novelas e com o Papa”.
“Isto já foi mais um comentário político do que uma entrevista e está em forma para ser um comentador político”, disse Cunha Vaz.
“Nunca tivemos um ex-primeiro-ministro a comentar, nunca existiu aqui nem em lado nenhum e vai dar um pico de audiência à RTP”, disse Tiago Franco.
“Paulo Ferreira está de parabéns, como toda a direcção de informação da RTP, pelo gancho de comunicação”, disse Rui Calafate.
Quanto ao futuro “ter-se-á um comentador político, muito bem preparado e um verdadeiro líder da oposição”, acrescentou Calafate. Para Cunha Vaz, Sócrates “é um animal político que está vivo e cheio de ódio e vai disputar o primeiro lugar dos comentadores políticos”.
(Correcção: por lapso foi escrito "boxer" quando é "boxeur")