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Ana Gomes viu sem surpresa "chantagem" da Hungria e Polónia ao orçamento da UE
A candidata presidencial Ana Gomes disse esta quinta-feira não estar admirada com o "descaramento" e "chantagem" da Hungria e da Polónia, pelo veto ao orçamento da União Europeia, resultante da "complacência" de alguns governos europeus, como o alemão.
19 de Novembro de 2020 às 15:13
"Estou muito inquieta, mas, ao mesmo tempo, não estou surpreendida" com a atuação dos governos da Hungria e da Polónia, afirmou à agência Lusa a candidata presidencial, à margem de uma visita que hoje está a efetuar a Évora, para reuniões com várias entidades.
A antiga eurodeputada argumentou que a Polónia e a Hungria só fazem "esta chantagem porque, durante muitos anos, os governos europeus, à revelia do que o próprio Parlamento Europeu lhes pedia, fizeram-se de desentendidos" em relação aos "reais atentados a valores europeus essenciais que aconteceram nesses países", como "a liberdade dos 'media'" e "da academia" ou "a independência da justiça".
Ana Gomes disse esperar que "os países e os governos que foram, de alguma maneira, complacentes" com estes dois países "agora não o sejam mais".
"E em particular o governo alemão, que tem muita responsabilidade pelo descaramento destes governos", assim como "o Partido Popular Europeu (PPE) em particular".
"Eu sei que não é todo o PPE, mas o PPE onde domina o governo alemão", isto é, os "partidos do governo alemão, nomeadamente da CSU e da CDU", os quais "têm claras responsabilidades no descaramento destes países", afirmou.
A candidata à Presidência da República e militante do PS defendeu que este veto da Hungria e da Polónia ao orçamento da União Europeia (UE), e consequentemente, ao Fundo de Recuperação comunitário para superar a crise do coronavírus SARS-CoV-2, deve ter como resposta a separação destas duas medidas.
"Espero que isso, agora, leve a uma ação que desarticule este desafio à Europa e que mostre que boa parte desta atuação é chantagem. E há estratégias que permitirão desarticular esta chantagem, como por exemplo separar o chamado Fundo de Recuperação, desintegrá-lo do orçamento europeu", sugeriu.
Os dois países "dependem fundamentalmente dos fundos estruturais" da UE, pelo que o Conselho Europeu e à Comissão devem "encontrar as estratégias que inviabilizam estes desafios que estão a ser colocados a toda a UE num momento de emergência", assinalou.
Ana Gomes disse também esperar que, na cimeira de chefes de Estado e de Governo da UE que se realiza ao final da tarde, por videoconferência, "se ache uma estratégia que separe o orçamento plurianual da chamada 'bazuca'", ou seja, do Fundo de Recuperação e Resiliência.
E que, a 01 de janeiro do próximo ano, "o orçamento entre em vigor", porque, se esse for o caso, "Portugal tem imediatamente acesso a fundos substanciais que pode desde logo mobilizar para acorrer a determinadas emergências", disse, embora admitindo que, "em relação à 'bazuca", esta "leve mais algum tempo" a entrar em vigor.
O bloqueio ao plano de recuperação da economia vai ser hoje o assunto em destaque na cimeira de chefes de Estado e de Governo da UE.
Na última segunda-feira, a Hungria, apoiada pela Polónia, concretizou a ameaça de bloquear todo o processo de relançamento da economia europeia -- assente num orçamento plurianual para os próximos sete anos de 1,08 biliões de euros, associado a um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões - , por discordar da condicionalidade no acesso aos fundos comunitários ao respeito pelo Estado de direito.